Uma vida sem amor
Ronaldo
Magella – professor, poeta, escritor, blogueiro, radialista, jornalista e mais
nada
“Já casei sabendo que ela não era
o homem da minha vida, que não o amava”. Não é a primeira vez que ouço uma
declaração assim, e por mais que uma vida sem amor seja de longe o nosso amor
medo, parece que é uma coisa que vivemos mais do que podemos imaginar ou fugir,
algo comum que acontece com muitos de nós, uma prisão da qual nos jogamos e
muitas vezes não conseguimos jamais sair. Talvez por vários motivos, precisamos
de afetos, de gente, de calor, temos medo da solidão, e a gente já vive sem
tantas coisas, sem a chamada perfeição e então, acredito, que vamos aos poucos
nos deixando assim também viver, sem amor, há companhia, sexo, compartilhamento
de contas, divisão de tarefas e meio que por alguns momentos vamos deixando de
lado nossos sonhos de amor, nosso romantismo, de ilusão, nosso sonhos, mas
ainda assim vivemos, vazios e ocos, machucados e limitados, sorrisos tortos e
olhares incompletos, coração em ritmo menor, mas vivos, ou mortos vivos, e
vivendo, o que talvez seja a maior dor, vivendo o que podemos, não o que
gostaríamos. Chegam os filhos, a esperança de que algo possa mudar, acontecer,
virar a página, mas não. A vida é implacável com as nossas certezas, para
muitas pessoas sucesso, dinheiro, saúde, paz, todas as coisas juntas podem nos
fazer viver, mas elas jamais irão preencher a lacuna deixada por um grande
amor, por uma paixão, pela felicidade de encontrar alguém a quem possamos dizer sem vacilar ou ter medo, “eu te
amo, sou feliz ao teu lado”, e é isso que todos nós buscamos, encontrar esse
tão sonhado amor, e seja ilusão, invenção, criação ou não, nada pode substituir
um afeto de tal magnitude, nem mesmo os filhos, já que estes também cedo ou
tarde estarão nessa busca incansável, irão embora, construirão seus caminhos e
ficaremos sós, novamente envoltos com a nossa própria existência e pensando e
desejando a felicidade de uma grande história, de amor. E não resta dúvida, é a
maior força do universo, essa esperança é que nos fazer ir, mas chega a cansar
e doer de tanto esperar, então, entendemos quando nos dizem, nunca o amei, ela
não era o que eu esperava, mas enfim, estou aqui! - pois nem todo mundo tem
coragem e força para ir atrás dos seus sonhos e desejos, muitos querem apenas
que a vida passe logo e que possam viver com alguém, sozinhos jamais, pois sabem
que é um sofrimento ainda maior, solidão é para gênios, pessoas comuns precisam
de afetos, e amor é uma necessidade, não é pra quem acredita, precisa, é como o
ar, é nosso alimento, precisamos de amor, dos amigos, dos filhos, da família,
mas essencialmente precisamos do amor de alguém que possa estar ao nosso lado,
dividir nossa vida, alguém que nos cuide e alguém de quem podemos cuidar,
alguém que se possa viver por vontade e desejo, por carinho e dedicação, e
sabemos que podemos viver com outras pessoas, pessoas a quem não amamos, que
podemos respeitar, fazer amor, ter filhos, sorrir, mas sabemos que não será a
mesma coisa, não será um amor de verdade, muitas vezes é mais amizade,
enxergamos a outra pessoa como um amigo, uma amiga, até mesmo um sentimento
filial, vamos pra cama, nos beijamos, mas falta algo, não está completo, não é
tudo, não é vida, não tem amor. Somos como, sem amor, caminhantes solitários
num mundo sem sabor, cor, apenas seguimos o fluxo, não sentimos a passagem,
pouco importa o destino, queremos apenas chegar, que o fim aconteça, venha
logo, nos entretemos com outras coisas, trabalho, filhos, religião, mas sabemos
que de noite quando nos deitamos, quando o cansaço nos chega, nos bate,
percebemos então que não temos de onde encontrar forças para continuar,
suspiramos e almejamos que aquele amor pudesse estar ali ao nosso lado e que
bastava olhar e pronto, o mundo acontecia, tudo se renovava, nos bastava.
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