O amor tem voz, barulho, histórias de você, como pediu Vinícius.
Ronaldo
Magella – professor, poeta, escritor, blogueiro, radialista, jornalista e mais
nada
Xerazade sabia “que todo amor
construído sobre as delícias do corpo tem vida breve”, que todo desejo
realizado provoca uma sensação de vazio e uma corrida louca para preencher
novamente a vontade, a ausência, o nada, por isso ela contava histórias, ela
sabia que após o prazer não haveria mais nada, era preciso sustentar o
sentimento, a paixão, amor, provocar o interesse, despertar a atenção, manter a
chama, por isso ela contava histórias, “As
mil e uma noites” preenchendo o vazio provocado pelo desejo saciado, pelo
desejo consumido. A beleza dela estava em seu conteúdo, naquilo que era trazia,
podia oferecer, falar, contar, e assim ela sobrevivia, para não ser morta todo
dia, ao nascer do dia, após uma noite de amor, ela reinventava o amor, contava uma história
para sobreviver, talvez aquilo que Vinícius de Moraes cantou na canção “Minha
namorada”, “e também de não perder esse jeitinho de falar devagarinho essas
histórias de você”, o poeta sabia que o coração é sempre o alimento para a
alma, que as pessoas são belas pelo que vivem, pelas experiências que podem
vivenciar, pelo que podem sentir e não pelo que podem aparentar, pelo que podem
dizer, sonhar, cantar, falar. Sempre que vejo dois casais de namorados, ou seja
lá o que forem, calados, um ao lado do outro, com o celular na mão, sinto que
ali não há mais nada, pode haver tesão, desejo, mas amor, paixão, acredito que
não, não posso e não consigo entender uma relação baseada no silêncio, quando
não temos o que dizer um para o outro, ou quando não sentimos prazer em ouvir o
outro, algo está perdido. Rubem Alves disse que o amor precisa ser masculino e
feminino ao mesmo tempo, que é preciso saber ouvir e que é preciso saber falar.
O Sultão amou Xerazade mais pelo que ela podia dizer, e o poeta Vinicius de
Moraes sabia que quando o silêncio chega é porque o amor já foi embora há muito
tempo. Quando amamos a alguém a ouvimos, nosso coração é um confessionário,
adoramos ouvir quem amamos, as coisas que ela conta, fala, suas bobagens,
rimos, nos deliciamos, achamos graça, nos apaixonamos e nos deixamos ficar,
ficamos embriagados pela voz, pelo tom, timbre, pelo som, pelo barulho do outro
chegando, ao som dos seus passos encontramos a nossa alegria. O amor tem voz, barulho, histórias de você, como
pediu Vinícius, tem história, o amor precisa ser reinventado todos os dias pela
fala, pelo som, quando o silêncio abriga na relação ela já está morta, acredito
que casais que encontram motivos para conversar todos os dias serão aqueles que
irão sobreviver por mais de mil noites, mil e uma noite, ou seja, o infinito
mais um dia.....
Nenhum comentário:
Postar um comentário