Queremos alguém
Ronaldo
Magella – professor, poeta, escritor, blogueiro, radialista, jornalista,
tomador de café, romântico, sentimental, romântico, feio, e mais nada
Uma amiga reclama da solidão,
diz que já faz um bom tempo que não conhece alguém interessante, vive apenas do
trabalho e disso extrai um motivo para viver e ser feliz.
A vida podia ser assim,
poderíamos substituir coisas por coisas, sentimentos por sentimentos, emoções
por emoções, dor por dor, mas não funciona assim. Longe, agora bem longe mesmo,
esse discurso que solidão se cura com trabalho, com caridade, com qualquer
outra coisa, isso é mentira, solidão se cura com companhia.
Nada irá nos substituir o afeto, o carinho, o
amor, a amizade, o contato, o ter alguém para cuidarmos e para cuidar de nós.
Podemos ter dinheiro, fama, poder, um bom emprego, um trabalho bom, uma
multidão de gente ao nosso redor, mas se já não temos alguém, parece que somos
vazios. Precisamos de alguém para contar as nossas coisas, coisas bobas mesmo
do nosso dia a dia, alguém para desabafarmos no final de um dia cansativo,
alguém para nos fazer uma surpresa, alguém para nos acordar, e nos fazer
dormir, alguém até mesmo para nos fazer raiva.
Não é carência, melindre,
fuga, besteira, é necessidade, é precisão, é uma forma de nos completarmos.
Muitas vezes nós inflamos o nosso ego, somos os melhores, ficamos e fazemos
amor com vários e várias, vamos as festas, somos os reis e rainhas da noite,
aproveitamos a juventude, a idade, a força e o vigor que a vida nos deu a
oportunidade para desfrutar, mas fundo somos completamente sozinhos,
solitários, vazios, falta um sentido, um algo maior, no fundo mesmo, falta
alguém para nos preencher e para nós também o completarmos.
Vamos passando, ficando,
transando, conhecendo pessoas, mas não estamos construindo sentimentos, laços,
afeto, lembranças. Nós só conhecemos as pessoas quando delas aprendemos alguma
coisa, quando dela nos restar uma lembrança, uma saudade, até mesmo uma mágoa,
relacionamentos superficiais e descartáveis não nos permitem isso.
Dentro de cada um de nós
pulsa a necessidade de outro, de fazer um outro feliz e de nos completarmos e
nos realizarmos com essa felicidade alheia mas que é produzida por nós,
construída por nós. Mesmo sabendo que ninguém é de ninguém, que as pessoas são
livres, fazem o que bem entendem, mas nós queremos mesmo alguém pra nós, pra
amar, pra sentir, pra cuidar, pra viver.
Não digam, você tem seus
amigos, amigas, sua família, muita gente que gosta de você, é tudo verdade, mas
ainda e mesmo assim, queremos alguém. Podemos nos esconder durante algum tempo
sob esses discursos, do trabalho, dos amigos, da família, da caridade, de muitas
e diversas coisas, mas chegará o momento que estaremos sozinhos conosco, todos
irão procurar seus colos, seus aconchegos, seus dengos e ficamos nós, sós, a
ver navios.
Sim, nós queremos alguém e
vamos encontrar, mas não queremos o castigo de ter alguém por ter, pra dizer
que se tem, um amor de mentira, queremos um sentimento de verdade, mesmo com
crises, com brigas, com diferenças, mas que haja no bojo de tudo isso a sincera
vontade de amar e superar as dificuldades, de ser eterno, não enquanto dure, mas
pra sempre.
Sim, verdade, queremos alguém, pois como me diz uma outra amiga, um
dia, um dia qualquer, mas que haverá de chegar, um dia finalmente descobriremos
que não nos bastamos a nós mesmos. Fim.
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