Não me perguntem pelo que escrevo, também não quero saber
Ronaldo Magella – professor, poeta, escritor, blogueiro, radialista,
jornalista, tomador de café, romântico, sentimental, romântico, feio, e mais
nada (23/03/2015)
Escrevo tomando café, é a única
que sei.
Odeio o que escrevo, não gosto, não
reviso, não releio, não tenho interesse depois que publico no meu blog, nas
redes sociais, não me vejo no que escrevo, muitas vezes acho interessante, até
estranho, outras vezes acho ridículo, chato e ruim. Enfim.
Outro dia um amigo escritor me
disse que sempre acha que falta algo naquilo que escreve e que não sabe se
comportar diante da recepção das pessoas com aquilo que escreveu. Nunca sei o
que dizer quando alguém diz que leu algo meu, que escrevi, só tenho vontade de
rir, sempre acho que ninguém me ler ou se ler aquilo que escrevo realmente não
acha bom.
Somos assim, escritores, me permitam
o devaneio. Já li muito e sempre vejo os escritores dizendo a mesma coisa,
depois de escrito, publicado, não interessa mais, não sentem vontade de reler. Reler
é ruim, impera a vontade de mudar tudo, rasgar, tocar fogo, melhor deixa pra
lá, se bom ou ruim, já era, foi escrito. Não importa mais.
Há uma repulsa naquilo que se
escreve, como se ao se escrever sentíssemos certa vergonha ou um asco,
amadurecemos depois do escrito e aquele texto é o retrato da nossa imaturidade
e não queremos mais olhá-lo, como se fosse nos causar um constrangimento, nos
envergonhar.
Escrever é como tirar a roupa, se
mostrar, colocar pra fora, deixar à vista aquilo que ninguém sabe, conhece,
viu, é se desnudar, colocar-se pelo avesso para que todos possam comtemplar, apedrejar
ou aplaudir. Com preferência para a primeira.
As pessoas sempre perguntam o que
há nos meus livros, digo que não sei, elas dizem, ué, mas num foi você quem
escreveu, digo que sim, mas que não me interessa mais, foi um período da minha
vida, é a minha história, mas não fico olhando para o passado, só me importa o
que virá pela frente, o que falta escrever, não o que escrevi.
Até sei que há autores
perfeccionistas, que gostam dos textos como se fossem filhos, mexem, mudam,
acrescentam, sim, talvez no momento da produção e escrita, mas depois de
terminado, não mais, o texto é algo morto e enterrado, só lembrado quando
necessário.
O prazer muitas vezes é na concepção,
na escrita, no ajuntamento das palavras, no formato das ideias, juntar as
coisas, dá um sentido e materializar as emoções e os sentimentos, gostoso é
começar, terminar, produzir, editar, construir, depois, não mais. É chato.
Meu amigo tem razão, sempre falta
alguma coisa, não gostamos do que escrevemos, mas o fazemos, como respiramos, é
automático, sentamos e pronto, estamos nós a pensar e materializar o que há em
nós. Somos o alvo.
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