Viver de sonho é solitário
Ronaldo Magella 25/07/2015
Uma amiga vive de
sonhos, mais de 40 anos, não casou, nunca a vi namorando, muito romântica,
sensível, mas longe da realidade, ainda espera por um príncipe encantado,
prefere a doce ilusão de acreditar que o amor é algo que acontece como uma obra
do acaso, uma lance de sorte do destino, a acreditar que é possível construir
uma relação real com seus defeitos e borrões.
Se pudesse dá um
conselho a minha amiga, diria, não espere por alguém que te mande flores, se
puder escolha alguém que possa te abraçar numa noite fria, te fazer um café e
te ajudar a colocar o lixo pra fora e as roupas no varal, romantismo é bom, mas
a vida real é mais urgente.
Como a minha amiga
conheço muitas mulheres sozinhas e solteiras, em seus discursos, os homens não
prestam ou não encontraram alguém interessante que conquistasse os seus corações.
Logo se vê a exigência no ar.
Hoje acredito que a
solidão é mais uma questão de escolha do que de destino, todas as pessoas que
estão sozinhas em algum momento da vida descartaram alguém que não se encaixava
no seu sonho de consumo, não se enquadrava em suas ilusões, padrões, de amor
perfeito, de gente especial, magnífica.
Sei que as
afinidades contam, que é mais gostoso e saboroso ter alguém com quem possamos
compartilhar as mesmas coisas, viver os mesmos sentimentos e emoções, mas muitas
vezes isso se torna uma prisão e nos enjaulamos lá dentro, jogamos a chave fora
e ficamos a ver a vida passar, perdendo a melhor coisa que existe, viver.
E mais, deixamos
passar pessoas, algumas não irão nos fazer falta, mas outra irão nos deixar com
uma leve sensação de arrependimento.
Talvez a minha amiga
tivesse que aprender a apreciar o que há, existe, melhor do que esperar e
procurar aquilo que talvez nunca vá encontrar.
Sim, pessoas
especiais existem, interessantes, gente que nos faz sonhar e nos deixa babando
é possível de encontrar, mas o mundo é cheio de gente normal, cheia de defeitos,
com problemas e virtudes, pequenas e grandes, e é aqui que precisamos amarrar o
nosso burrinho, aquilo que as pessoas têm, o que as torna especiais,
diferentes, e não no que falta.
Com o tempo aprendi
a gostar das pessoas como elas são e podem viver, a amá-las da forma possível,
não quero que mudem já que me apaixonei pelo que elas sentem e pensam.
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