De tudo que não sou, fui, serei e já vivi
Ronaldo
Magella – professor, poeta, escritor, blogueiro, radialista, jornalista e mais
nada
Não sou formado por coisas só
minhas, trago em mim o que há de outros, lembranças, saudades, desejos que me
provocam, raiva, dor e mágoas que desabrocham, coisas que me completam, sou o
que os outros despertam em mim, gostaria de ser completo por mim mesmo, em mim
mesmo, mas trago em mim a esperança de que algum dia alguém possa me resgatar
de mim, me livrar disso que me atormenta, ao que chamam, e que me forma, de forma incompleta, de EU, o eu que sou, mas que
não me governa sozinho, não sou apenas eu, sou os outros, um pouco do que penso
sobre Deus, do amor que espero, da dor que sinto, da tristeza que me machuca,
das perdas que tive, dos dias que vivo, das noites que sonho, sou as horas que
faltam, as que vivo, as que já vivi, de todas as coisas, pequenas grandes
coisas, muitas me somam, multiplicam, me dividem, tiram sempre um pouco de mim,
mas acrescentam, me fazem mais o que sou e me deixam ser mais um pouco do que
não sou. Entre todas as coisas, o vazio e o que há, nem sei ou saberia precisar
o que me afeta mais, o que não tenho ou que quero, o desejo ou a vontade, a
renúncia ou a busca, o sorriso ou a lágrima, não saberia dizer o que me é mais
forte, intenso, se um dia de sol ou uma noite de chuva, tento viver todas as
coisas com intensidade, mas intenso mesmo é que aquilo que ainda não vivi e
isso me provocar todos os dias a querer sair de mim ao encontro de um mundo
novo o qual nunca conheci, tive, penso que seja real, mas não acredito que
possa existir e lá chegar. Me completo em abundância pelos sonhos que pelo dia
vou pensando, vivendo e fabricando, me ressinto pelo que a noite me traz sonhos
e nunca consigo lembrar, já não sei o que seja real, o que penso, vejo, sinto
ou o que se esconde de mim, se o que tenho ou que me falta, se o que vejo
diante dos olhos ou o que está atrás de mim, não sei o que devo sentir, querer,
desejar, se o que é real, possível, ou as coisas que aquietam o meu coração, as
que me tornam sensíveis ou as que me deixam tranquilo, nessa ambivalência da
alma me perco e me encontro, mas já e nem aí saberia dizer o que seja mesmo o
melhor, se ser e estar ou falta, a ausência, pelo que tenho, sorrio, pelo que
me falta me arrepio, durmo pelo que tenho, acordo pelo que me falta, entre a
paz e as espada ainda percebo e entendo que há uma caminhada uma ponte por
caminhar, cruzar e assim vivo, vivemos, choramos e sorrimos, entre todas as
coisas, de tudo que não sou, fui, serei e já vivi.
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