São as lembranças de algo que nunca vivi
Ronaldo
Magella – professor, poeta, escritor, blogueiro, radialista, jornalista e mais
nada
Talvez seja a loucura de insistir
na tua existência e na esperança de que ainda um dia irei te encontrar, a
saudade daquilo que ainda não vivi, que me faz ainda viver, o sentimento de que
ainda estaremos juntos “eu só não sei quando, se daqui a dois dias ou daqui a
mil anos”, na fim de tudo ou na eternidade do que ainda nos resta, sobra,
teremos, é por tudo isso que te vejo ali, sentada, esperando também por esse
mesmo momento, por mim, por nós, por uma vida, e te vejo contando o tempo, as
horas, uma vida que tu alimentas dentro de ti sem saber, uma contagem de te
passa despercebida e só é sentida quando tu suspiras de cansaço, um cansaço de
uma vida que ainda não viveu, de uma espera que te consome e te angustia, mas é
também muitas vezes o único motivo do teu risos, da tua jornada, da tua
esperança. Somos parceiros dos mesmos sentimentos, de nos encontrarmos, de nos
acharmos, nos perdoarmos pela ausência que nos permitimos, deixamos que o acaso
guie as nossas vidas, que o destino nos una, que Deus tome a suas providências,
que a vida se realize, enquanto isso vamos comendo os pedaços da nossa existência,
sem sentir o sabor, apenas provando um pouco, não estamos completos longe,
distantes, somos vazios, sozinhos, não uma solidão qualquer, mas daquilo que
nos faz falta, a nossa vida em comum, nossas mãos entrelaçadas, nossos perfumes
misturados, nossas bocas coladas, nossos rostos sonolentos na mesma cama,
nossas vidas numa mesma manhã, nossos cafés num fim de tarde qualquer, nossos
sim’s, nossos não’s, nossos sonhos, nossa coisa que não desistimos nunca de
acreditar que irá um dia a qualquer momento acontecer. E as coisas simplesmente
acontecem. E se te imagino, se te
insisto, espero, te encontro ali em algum lugar dentro de mim, lugar que não
sei precisar qual seja, onde está, como se muda, como se livra, são as
lembranças de algo que nunca vivi que me fazem viver mais, são as saudades de
uma vida que nunca tive que me levam ao amanhecer de todo outro dia e me fazem prosseguir
nas áridas horas dos dias, e vou-me, me distraindo sem ti, sem a tua presença,
vivendo do eco que sinto dentro de mim, do oco, nutrindo sentimentos, guardando
e regando coisas que tenho para te dizer, cenas para viver, horas para
compartilhar, músicas para ouvir, filmes para ver, desejos para realizar,
vontades para cumprir. É uma vida, a nossa vida, a minha vida sem mim, sem ti,
e te compro, te guardo, te espero, te anseio, te amo sem mesmo saber da tua
existência, como um romântico antigo de um mal que a vida moderna não conserva
mais e nem aceita, mas ainda assim e por isso mesmo, te encontro ali, naquele
lugar, com sua roupa mais simples, teu sorriso mais perfeito, teu rosto limpo,
tua alegria renovada, seus cabelos ao vento, teu corpo ao sol, teus gestos
serenos, tua voz macia, teu amor para mim, teu carinho doce, teu afeto mais
gostoso, tua decisão mais firme, suas perguntas bobas, suas maneiras de menina,
teu corpo de mulher, os sonhos perfeitos, os desejos profundos, tua paixão pela
vida, nossa vida apaixonada, o destino em comum, nosso comum amor, nosso amor
desde sempre, de ontem, por hoje, até amanhã, para nunca mais terminar, acabar,
findar.
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