O segredo do início
Ronaldo Magella – professor, poeta, escritor,
blogueiro, radialista, jornalista e mais nada (16-03-1014)
Sempre o melhor do início é
aquilo que não falamos, mas pensamos, é tudo que a gente tem vontade de dizer,
mas não diz, quer escancarar, mas não tem medo ou não quer perder a graça da
coisa.
Até gostaria de ir direto ao ponto, mas perde
o tesão, a gente gosta do envolvimento, de ir conhecendo, esticando os
momentos, as horas, puxando conversa, enrolando, para que o outro perceba o que
estamos querendo dizer, falar, demonstrar.
Ninguém gosta de dizer que está
afim, apaixonado, amando, queremos apenas alguém nos decodifique, nos decifre,
reconheça o que estamos a sentir, que usa da sua suposta inteligência para
saber que estamos ali não por acaso, não é amizade, é outra coisa, mas não
vamos nos expor, rasgar, abrir o livro, ele terá que nos ler além das
aparências, entre linhas.
Ninguém gosta de entregar o jogo,
queremos sempre que o outro possa ler nossos pensamentos, a gente gosta, mas
não pode ou não quer dizer, solta pistas, chega até a chamar o outro de burro,
lesado, por não perceber as nossas
intenções, insinuações.
Perde o charme dizer que se gosta, está afim,
o bom é o jogo da paquera, da sensualidade, quando trocamos segredos,
confidências, tudo para que o outro entenda as nossas intenções, a nossa
vontade.
São sempre as reticências e os
silêncios que contam mais, é sempre o não dito, a palavra escondida, aquilo que
não está claro, direto, objetivo, fazemos um jogo de esconde-esconde, apenas
para que o outro nos ache, nos descubra, nos encontre e nos entenda, nos sinta,
nos reconheça apaixonados, mas não queremos falar.
Contamos nossa vida, sorrimos,
ficamos perto, emitimos sinais de fumaça, falamos, nos tornamos presentes,
pedimos para que o outro não nos deixe, suma, que precisamos dele, que ele é
importante, especial, que é bom conversar com ele, ela, mas o idiota parece que
nunca perceber, tem noção do que estamos a dizer, falar, precisamos muitas
vezes desenhar, para seremos entendidos.
No fundo a gente só quer ser
percebido, que o outro possa nos ver, entender o que estamos querendo falar,
dizer, que entenda o que estamos sentindo por ela, que seja insensível, mas que
também seja direto e prática, que ao saber se deixe também envolve e vá aos
poucos nos conquistando ainda mais e que tenha atitude quando for a hora certa.
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