Falta vida nos
casamentos
Ronaldo Magella – jornalista – 16/06/2016
Não é de hoje que encontro mulheres casadas reclamando das
vidas matrimoniais, uma amiga até me disse, quando eu me separar vou namorar
tanto, mais tanto, mais tanto, que nem sei o que dizer nem onde vou parar.
Não é que não se namore no casamento, tenho a impressão que, quando elas dizem isso querem dizer que falta emoção. Namorar, apaixonar, vivenciar uma relação, conhecer alguém traz um pouco adrenalina na vida, permite um toque de novidade, coisa que uma relação antiga não permite mais.
A sensação que fica é que falta vida aos casamentos e que
para se viver o que se falta é preciso sair da situação na qual se encontra, ou
seja, separar.
Ainda se pensa que casar é o fim social, é abandonar a vida,
colocar uma roupa velha, ligar a televisão e esquecer do mundo, como se não se
pudesse viver mais nada e tudo agora se restringisse a pagar contas e fazer
feira.
Um erro que se identifica sempre diante das reclamações que
se ouve é, quem reclama cometeu o pecado de definir a vida amorosa cedo, casou
ou teve filhos muito jovem, agora, hoje, se sente um pouco presa, como elas
dizem, não aproveitaram a vida como gostariam ou como deveria ter sido
aproveitada.
A outra questão diz respeito aos maridos, esses têm culpa e responsabilidades
no tédio que pode ser tornar um casamento, uma relação. Muitos se acomodam e
ficam inertes, como se a vida ali bastasse por si mesma e nada poderia se aproveitar
dela.
Isso me lembra Emma Bovary, do livro clássico Madame Bovary,
do escritor Gustave Flaubert. Emma casou-se com Charles para deixar a vida tediosa
e limitada da casa dos pais, mas vai encontrar no casamento o mesmo tédio, a
falta de emoção e paixão pela vida. Passa o dia a ler romances e sonhar com um
destino melhor, como se faltasse algo, apaixona-se por um poeta, por um
canalha, mas ninguém lhe permite a vida que sempre quis ou desejara, a vida de
Madame Bovary é sem amor.
Não é que casar seja algo ruim, é o que fazemos do casamento
que torna ele insuportável. Deixar de viver, de sair, de viajar, de
experimentar as coisas boas do mundo, nos torna entediados e insatisfeitos com
a nossa relação a qual estamos inseridos.
Toda relação precisa de vida, de viver mundo, de correr
perigo, precisa ter emoção, paixão, prazer, e se pode viver isso a dois, acho
até que seja mais gostoso, não num ritmo tão intenso, como se fosse jovem e
solteiro, mas dentro de uma medida que possa torna a coisa mais gostosa e
fascinante.
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