Mulher também deseja
Ronaldo Magella 06/06/2016
(jornalista)
Talvez Sherezade não só contasse histórias para se manter
viva, se ela não desejasse teria preferido a morte, mas penso que ela desejasse
e como tal tinha vontades e mil e uma vezes deixou-se viver pelo desejo de
fazer toda noite algo que também lhe pertencia, o prazer.
Mulher também deseja, e como diz Clarice Lispector, “e
acabou-se”.
Ainda outro dia conversava com amigo e discutíamos sobre o
desejo feminino que é negado pela sociedade, pelos homens.
Mulher também pensa
com a cabeça de baixo. Mulher também tem vontade. Mulher também deseja, gosta
de sexo, mulher também é gente.
Custa ainda, aos homens, aceitar isso, talvez até mesmo
perceber, prefere-se ignorar. Silenciar.
Os meninos podem variar de parceiras, são admirados por isso,
as meninas não podem, são rotuladas.
Os homens podem frequentar
casas de sexo, a mulher precisa ser fiel ao marido, ao parceiro, no
relacionamento.
Anula-se o prazer da mulher, como se ela não tivesse o mesmo
instinto.
Já ouvi comentários de homens que não aceitam que a mulher
desperte ou tenha a vontade e o interesse em transar, precisa partir dele, será
sempre quando ele quiser.
A nossa sociedade é estimulada a entender os desejos
masculinos e não aceitar as vontades femininas, como se ela não existisse.
Somos “educados” a aceitar uma traição masculina e repudiar
uma mulher que faz o mesmo ato, como se ações não partissem da mesma vontade,
do mesmo lugar, do mesmo instinto.
A nossa hipocrisia é afirmar que o homem pode, mas a mulher
não deve.
Consideramos que é feio pra um homem ser traído, ele não
suporta a vergonha social, mas pra uma mulher é normal, já faz parte dos
costumes sociais.
Como cantou Raul Seixas, “sofro, mas eu vou te libertar, amor
só dura em liberdade, o ciúme é só vaidade, o que é que eu quero, se eu te
privo”, talvez nem precisa haver sofrimento, mas a liberdade é essencial.
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