O Facebook e o nosso desabafo diário
Ronaldo Magella
(autor – jornalista, professor, escritor, poeta...)
O diário era algo íntimo, era,
uma vez que ninguém mais o usa. Dos diários passamos aos blogs, assim como dos
jornais pulamos aos sites, dos orelhões aos celulares, dos álbuns de
fotografias vistos em casa por amigos e familiares, passamos aos álbuns digitais
vistos por centenas de desconhecidos, destruindo assim aquilo chamávamos de
privacidade.
Pronto, a modernidade não
comporta segredos, somos vistos e vemos, assistidos e assistimos, ouvimos e
somos ouvidos, a única certeza que temos é que tudo deve ser publicado.
E publicamos, nossas fotos,
pensamentos, imagens, sentimentos, jogamos tudo nas redes sociais, fazemos
delas o nosso desabafo diário, nos entregamos a censura alheia, assim como a
aprovação, a curtição, o compartilhamento, alguém gosta, comenta, curte,
espalha, somos assim jogados ainda mais nesse imenso universo digital
desconhecido, sem saber as consequências.
A privacidade chegou ao fim. Não,
não foi hoje, ou ontem, faz já algum tempo, desde o momento em que começamos a
ouvir as pessoas nas ruas em seus celulares, escutar suas conversas, ouvir o
que dizem, seja na rua, nos ônibus, nos bancos, começamos sem querer, querendo,
fazer parte da vida de outros. A cada
dia que se passa passamos a saber mais da vida de outros, o que fazem,
deixam de fazer, se estão sofrendo ou morrendo, se morrem, se vivem, estamos
tudo numa imensa vitrine.
É interessante esse conceito de
vitrine, uma vez que estamos cada vez mais expostos e nos expondo, como se
estivéssemos à venda para que os outros pudessem comprar nossas ideias, nossos
desabafos diários. Impossível não mais não nos deixamos de nos mostrar,
queremos e ansiosamente pedimos por isso, pois nos importamos mais com o que os
outros vão comentar do que com o que sentimos.
Queremos mostrar, publicar, terminamos
um relacionamento, quem primeiro sabe da nossa vida são as outras pessoas,
nossos amigos do Facebook, primeiro até do que nossos amigos e familiares,
tamanha é a nossa vontade de se mostrar ao mundo. Queremos antes e primeiro
mais do que tudo a atenção alheia do que o sentir nosso das coisas.
Ainda sou do tempo de chorar no
quarto, se trancar e sofrer sozinho, mas isso não existe mais, é mesmo melhor
chorar na frente do Facebook com vários amigos desconhecidos, pelo menos eles
estarão curtindo e comentando a nossa dor, aquela história de sofrimento
solitário já era, agora ele é compartilhado.
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