Quando olhar o outro é preciso
Ronaldo
Magella – professor, poeta, escritor, blogueiro, radialista, jornalista e mais
nada.
Amar, dizem,
é olhar juntos no mesmo no mesmo sentido, na mesma direção, pra o mesmo
horizonte, desculpe-me, mas não é assim que funciona a coisa, permitam-me
alterar a sentença e vociferar, amar é um olhar que se mantém um para o outro
de compreensão, cumplicidade, entendimento, unicidade, amizade, aceitação,
companheirismo, quando os dois se enxergam como tudo um todo, dentro de uma
união, de uma só vida, de um único momento na mesma existência.
Esse tal
olhar na mesma direção, pra o mesmo horizonte, dentro do mesmo sentido é muito
individualizante, solitário e individualista, cada um que tenha o seu olhar,
que se mantenha firme na sua postura e quem pode garantir mesmo que esse olhar
direcionado tem o sentimento necessário pra se gostar e fazer renúncias e
sofrer junto por querer, por amor, por paixão, por desejo? Sinceramente estou
cansado de ouvir sempre as mesmas histórias, quero alguém que me ajude
acrescer, que tenha vontade ganhar a vida. Penso que uma relação não seja só e
apenas isso.
Dizem, é que
a vida hoje é muito difícil, é preciso saber viver e quem vai querer alguém que
não quer nada com vida? Esse nada é no sentido material, financeiro, progresso
R$, como se agora todo mundo valesse apenas pelo que tem, pelo que poderá ter,
conseguir, amealhar. Como se não, sempre foi assim e irá continuar. Com isso
deixamos de admirar as pessoas pelo que elas são, pelos detalhes, a conversa, o
sorriso, o jeito de ser, pequenos detalhes que nos prendem. Por que será que
deixamos de gostar das pessoas ou pelo menos de dar prioridades a outras
questões, como simpatia, caridade, fé, claro, gostamos de tudo isto, desde que
se capitalize sobre. Tudo agora precisa dá lucro, gerar dinheiro, ter valor.
São sempre os
mesmos discursos, sempre se ouve a mesmas coisas, quando alguém pergunta, por
que você gostou de mim, o que vi em mim, e a gente responde sorrindo, dentro
uma infantilidade universal, ah, eu vi que você era esforçada, queria subir na
vida e eu queria alguém pra crescer comigo, num quero ninguém que me puxe ou me
prenda. Esse é um pensamento legítimo, real, sincero, mas também demonstra o
norteia os nossos valores e crenças, pois acreditamos que o dinheiro por nos
salvar, nos livrar do mal, a infelicidade, do mundo.
Mais uma vez
peço permissão para mudar o conceito e afirmar, não gostaria de alguém pra
ganhar dinheiro comigo e comprar coisas, ter coisas, gostaria de alguém pra
sofrer comigo, chorar comigo, viver comigo, estar comigo, ao meu lado, pois
quando afirmo que alguém deveria estar comigo, ao meu lado, só e apenas por
conta do seu pensamento materialista, de produção e consumo, o que iria
acontecer quando não mais isso fosse possível? Prefiro, e isso é um pensamento
individual, alguém que me conheça, que tenha esse olhar pra mim e não para o
horizonte, o sentido e a direção.
Claro, o meu
olhar de volta, buscando-a, sentido-a, compartilhando as mesmas dores e
alegrias. Hoje nos sentimos felizes apenas quando o nosso parceiro arruma um
emprego, ganha dinheiro, compra algo, aí vamos comemorar e festeja, como se só
fato de estarmos ali juntos vivendo não fosse por si só um motivo pra
alegrar-se e festejar-se juntos e por amor. É que hoje o amor tem um preço, a
vida é cara, e amar precisa de recursos, caso contrário, não se ama mais.
Quando falo
nesse olhar um pra o outro, nesse entendimento, é a aceitação de outro, a
cumplicidade de se aceitar o outro com os seus defeitos e amá-lo ainda assim e
por si só. Quantos casais que vivem sob o mesmo teto, mas não sobre a mesma
vida de união e sentimentos? Por conta desses olhares em busca de horizontes agora
é cada um que cuide de si mesmo que procure a sua melhora, que pague as suas
contas, que viva conforme a vida lhe aprouver.
O
mundo tornou-se muito individualista, egoísta, mesquinho e solitário, somos
como ilhas, a pressão que recebemos todos os dias pra vencer, ganhar, ter,
possuir, fazer, ter sucesso, fama, dinheiro, ser bonito, belo, pois fora destes
parâmetros nada mais somos, ninguém irá nos gostar, amar, todos irão nos julgar
não pelo que somos, seres humanos, mas pelo que podemos ganhar, ter e fazer.
Também estou cansado de ouvir sempre os mesmos discursos, fulano é rico,
beltrano ganhou milhões, sicrana está linda demais, sempre os mesmos valores,
giramos em tornos desses sentimentos.
Como
um amigo me contou em tom de desabado: minha esposa não vive a minha vida, só
pede o meu dinheiro. Ela não se importa com o meu trabalho, com o que eu faço,
acha meus livros todos porcaria, acredito, disse ele, que ela nem sabe o meu
signo, menos ainda se acredito em Deus ou não, mas sempre me cobra um emprego
melhor, mais dinheiro. Burro fui quem não percebi esses sinais antes, esses
traços da sua personalidade. Parece que vivemos isolados na mesma casa, poucos
assuntos temos em comum, ela não gosta de ler, de cinema, das mesmas músicas
que eu, claro, isso nunca foi empecilho para coisa alguma, nem pra se gostar de
alguém, mas, confesso, é complicado viver com alguém que nem olha pra você e
nem lhe admira pelo aquilo que você é e faz, é difícil não ser valorizado
dentro da sua própria casa.
Como
disse, falta o olhar de lá pra cá e de cá pra lá.
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