A DOR DO ORGULHO
Ronaldo
Magella
Sofremos por orgulho. O orgulho ferido dói em nós mais do que
pensamos ou imaginamos, o problema é que poucos de nós dão-se conta disso. Toda
dor, toda lágrima, cada tristeza nada é, nada menos, do que o nosso orgulho que
está sendo maltratado.
Só porque achamos que somos bons, pensamos que nada poderá
nos atingir. Só porque vamos a um templo religioso no final de semana,
emprestamos sal ao vizinho, sorrimos e aqui e ali, não fazemos o mal, nem
desejam mal a alguém, a vida para nós deve ser isenta de problemas, aflições e
dificuldades. Quando na verdade não é bem assim.
Nós não suportamos o fato de a nossa vida não ser como
gostaríamos que fosse, advém daí a depressão; não aceitamos que possa haver
pessoas mais felizes, melhores materialmente do que nós sem esforço algum e nós
que somos “humildes”, nos esforçamos tanto, corremos tanto, trabalhamos demais,
nada conseguimos, advém então a revolta; não conseguimos suportar que há coisas
das quais não podemos provar, usufruir, sonhos que não podemos realizar, nem
desejos que possamos lograr, surge daí o melindre, a baixa autoestima, os
complexos de inferioridade, os sentimentos de abandono, de aversão, de tédio,
apatia.
Apesar de alardearmos que o ser humano não é perfeito, que
erramos, todo mundo erra, ninguém é um poço de virtudes, nós não aceitamos isso
em nós, queremos porque queremos agradar a todo mundo, passar incólume no
mundo, sem erros, sem fracassos, sem problemas, quando isso não é ainda
possível, quiçá um dia venha a ser. E quando alguém desfere contra nós uma
crítica, nos rebate, nos golpeia a personalidade, o nosso orgulho entra em cena
e ficamos magoados, tristes, depressivos, carrancudos, fechados, ficamos de mal
com a pessoa, preferimos nem olhar pra ela. É o orgulho.
A gente sofre e fica ressentido por não suportar a ideia de
que somos gente, pessoas, seres humanos comuns, com problemas, dificuldades,
erros e acertos, que somos carentes, pequenos, menores até do que gostaríamos
que fôssemos, por isso, sofremos. O nosso orgulho fica tocado, sensibilizado,
pois não conseguimos mudar o mundo, impor a nossa visão, convencer das nossas ideias,
transformar a realidade que é maior do que nós, modificar os outros, por tudo
isso sofremos, perecemos, baixamos a guarda.
Se a gente pensar um pouco perceberá que por trás de grande
parte da agonia e do sofrimento humano, das decepções, das depressões, do
suicídio, da raiva, mágoa, ressentimento, da violência, muitas vezes são
motivadas por orgulho, pela personalidade maltratada e vilipendiada. Isso é
claro em nós. Se vencermos isso, é bem provável que o mundo se tornasse um
lugar melhor, ameno, mais simples e aconchegante. Não é fácil violentar a
própria personalidade, ferir-se a si mesmo, enfrentar-se, é preciso muita
disciplina e esforço, trabalho e dedicação, reconhecer-se, buscar a essência
interna e superar as adversidades, ignorar o mundo, viver, mas não se envolver.
O que não é fácil, é bem verdade. Mas por fim, orgulho é uma
das nossas maiores chagas, tanto nos faz sofrer, como nos faz alimentar outros
monstros como a vaidade, a opulência, o vício. Cada um de nós merece dispensar
uma atenção especial aos próprios sentimentos para que se reconheça como é de
verdade, sem a necessidade da dor.
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