A distância pode nos mostrar o que a presença não é capaz
Ronaldo Magella – professor, poeta, escritor,
blogueiro, radialista, jornalista e mais nada (08-02-1014)
O bom da vida é que a gente
amadurece, muda, troca de valores, passa a sentir melhor as pessoas, a si
mesmo, ao mundo, mas por outro lado, quando isso acontece, a gente percebe o
quanto de coisas que deixou de viver por não ter sensibilidade para pensar
sobre a existência, e isso pode doer um pouco ou fazer nos sentir culpados.
Explico.
Ontem um amigo me contava,
Magella, estudei com uma garota há dez anos, mas na época pouco nos falávamos
ou não dava muita atenção pra ela, apesar da proximidade, porém, esta semana
ela passou por mim e a observei diferente, percebi o quanto ela era bonita e
acho que estou interessado nela.
Ao pensar sobre isso, refleti que
a distância pode nos mostrar o que a presença não é capaz, não só a distância
física, mas também temporal, a distância de nós mesmos. Acredito que há dez
anos meu amigo tinha determinados valores, sentimentos, ideias, hoje,
amadurecido, cultiva outros desejos, antes talvez aquela mulher não lhe
interessasse, talvez não fosse a mais bonita, gostosa, popular, sociável, mas
hoje, ela se encaixa no que ela deseja.
Antes ele queria, pela juventude,
outras coisas da idade, agora, com o tempo, penso que prefira mais segurança,
paz, tranquilidade, e foi isso que ele agora observou em sua colega que antes
ele não tinha percebido.
A gente precisa também de um
tempo, nos distanciar do que somos, um tempo do que somos, pensamos e
sentimentos, mudamos sempre, cada época da nossa vida nos enseja um tipo e um
estilo de vida e desejamos uma pessoa que corresponda ao que queremos e
desejamos, mas mudamos e somos tragados pelas nossas necessidades. Ontem era
algo, hoje é outro, claro, quando sabemos amadurecer e mudar, sei que há
pessoas que passarão a vida inteira do mesmo jeito, da mesma forma.
Na minha idade, sim, me acho
velho, prefiro uma boa conversa, um sexo gostoso e sem muita pretensão, gosto
de conversas amenas e momentos intimistas, de vida social pacata e cheia de
cultura, como tenho amigos na mesma idade que preferem agitação, noites em
claro, festas e badalação, sair com uma ou com outra, sem se apagar, mas sei
que idade o momento deles irá chegar, cedo ou tarde o corpo cansa ou a gente
não se sente mais inserido em determinados contextos.
Quero envelhecer ao lado de quem
eu possa conversar, a pior solidão é a do silêncio, é olhar do lado e não ter
identificação, não poder compartilhar, ser fiel, mas não poder ser sincero ou
leal, quero poder falar de mim e me apaixonar ao ouvir o outro falar, quero
gostar da companhia de alguém que estará ao meu lado e quero sentir prazer por
ela está do meu lado, não quero ficar velho olhando para o lado, em busca de
aventuras, quero a aventura de poder ser o mesmo todo dia, sempre, com a mesma
pessoa.
Espero que meu amigo hoje possa
entender isso e talvez tentar com a sua amiga, agora que ele a redescobriu e
está mais maduro das nossas necessidades e vontades, talvez seja a hora de
deixar de olhar de lado e começar a olhar para frente.
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