Eu matei você dentro de mim
Matei, confesso, enterrei e não senti remorso
Ronaldo Magella –
professor, poeta, escritor, blogueiro, radialista, jornalista e mais nada (21-02-1014)
Matar gente não quer dizer
empunhar uma faca ou atirar uma bala, a gente mata de outras formas, vai
tirando aos poucos a pessoa de dentro de você, parando de pensar, de sentir,
(será que dá pra deixar de sentir?) não querendo mais saber, começa a tomar
distância, vai se afastando até não restar mais nada, só sombras, poeiras, que
você vai dissipando ao tomar luz e limpando o que restou por dentro.
É por aí, estamos na fase do
enterro, jogando a última pá de terra, salpicando flores, enxugando as lágrimas
e se conformando, recebendo carinho alheio, abraços fraternos, mãos amigas,
beijos outros, mas com a certeza de que alguma coisa continua, a vida, você, mas
não mais aquela pessoa, aquele amor, o sentimento que havia antes, que antes estava com você, agora está em suas
lembranças, recordações, até também estas irem embora ou não preencherem tanto
assim a sua existência.
O tempo passa, vem a missa de
sétimo dia, depois aniversário de um ano, de morte, aí a gente já nem lembra
mais, sente um pouco de saudade, visita as lembranças, recorda o que foi bom,
suspira numa noite escura e fria, mas vira de lado e vai dormir. Não há muito o
que fazer, não há nada pra acontecer, existir, é preciso seguir.
É quando a gente decide viver, ir
em frente, não interessa mais conversar, olhar, ver, cansa o contato, é tedioso
querer, mesmo que ainda se sinta alguma coisa, mas você precisa sentir por você
amor próprio, assim acha por bem deixar pra lá, ter esperanças de que algo
melhor vai acontecer, em qualquer lugar, a qualquer momento, por isso que é bom
viver, pelo inusitado.
Matei, sim, confesso, joguei
flores, rezei e enterrei, chorei, enxuguei as lágrimas, rezei na missa de
sétimo, senti saudades quando completou um ano, mas não morri, estou vivo, ela
quem morreu, espero que vá pra o céu, enquanto que eu, não.
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