Dá pra viver sem
amor?
Ronaldo Magella – professor, poeta, escritor,
blogueiro, radialista, jornalista e mais nada (22-01-1014)
Talvez alguém diga que sim, que
já vive sem amor há 20 anos e ainda não morreu, pois é, dá pra viver sim, mas
com que sabor? Sou muito romântico, sensível e babaca, um idiota, deixa eu confessar,
não sei viver sem amor, não dá pra enfrentar uma intimidade sem prazer, sem
gostar, sem querer, sem desejar, acredito que seja muito sofrimento, mas tenho
a sensação que muita gente vive assim, sufocando os seus próprios sentimentos
num gesto altruísta de amor contra si mesmo e em favor de outros.
Façamos de conta que é possível
viver sem amor, de estar com alguém ao nosso lado sem que a gente goste mesmo,
mas que pelo menos haja admiração, boas conversas, lealdade, segurança e
confiança. Uma pessoa que a gente admire pelo que é, pela inteligência,
cultura, bom humor, uma pessoa que nos inspire confiança e lealdade, que
possamos nos contar, abrir, nos confessar, poder ser quem a gente é, sem medo
do que o outro irá pensar, isso pelo menos iria nos aliviar um pouco, pois já
que não teríamos amor, pelo menos teríamos um amigo, um irmão, um companheiro.
Novamente sou um idiota,
sentimentalizo demais as relações, a maioria de nós vive aquilo que pode e não
aquilo que sonha ou deseja, muitos já desistimos de amor, paixão, dos sonhos, e
estamos vivendo pressionados e sufocados pelo peso do cotidiano, pelas contas
por pagar, dos carnês, do empréstimo, do cartão de crédito, dos aumentos de
gasolina, do aluguel, e estamos indo, sem pensar em mais nada ou suspirar pela
vida, mesmo que muitas vezes a gente desaba e se deixa vencer pelo cansaço da
vida, de uma vida sem amor, e muita vezes nos pegamos chorando no banheiro ou
num noite de insônia pensando na existência e nas ausências da vida.
Outro dia vi uma frase
interessante, alguém postou no Facebook, não tenho medo da solidão, tenho medo
de estar mal acompanhada, achei bonita a frase, mas triste, pois muitas pessoas
vivem sozinhas e ao mesmo tempo mal acompanhadas, pois uma vida sem amor é como
estar numa prisão a céu aberto, não há prazer em viver, não há sabor na vida,
nas coisas, olhamos para o lado, para o passado, temos esperança no futuro, mas
as horas se arrastam, suspiramos e nos afobamos, ficamos irritados, carentes,
triste e carrancudos, fechados e sérios, sem cor e ariscos, mas é preço que
pagamos pelas escolhas que fizemos.
Por outro lado, quero me
contradizer, sim, é possível viver sem amor e tem muita gente feliz e vivendo
sem, afinal, amor num é tudo, a gente pode sublimar, trocar pelo trabalho,
transferir para os filhos, por um ideal e ir vivendo, seguindo, como sou um
idiota, babaca, não tenho condições de ser assim, por isso citei a frase acima,
vou ficar sozinho, mas sem amor não sei viver, até já poderia viver sem ele e
teria tudo o que uma pessoa precisa pra viver, uma boa casa, um carro na
garagem, morando perto da praia, indo ao cinema, vendo bons shows, comendo em
bons restaurantes, mas prefiro renegar a tudo isso por um naco simples e
pequeno de amor, que falta dinheiro e não haja opções, desde que exista amor.
Como disse, sou um idiota, um
romântico do século 19, um idiota do mundo moderno, idiota sim, pois vivemos na
era da praticidade das coisas, da utilidade, e nossas relações são utilitárias,
práticas, servem sempre pra alguma coisa, o que nem sempre é amor, serve pra
tudo, menos pra nos apaixonar, mas num mundo como o que vivemos hoje, quem
mesmo que saber de amor, paixão? Claro, só os idiotas e babacas.
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