Não me interessa o banal, já basta vivê-lo
Ronaldo Magella – professor, poeta, escritor,
blogueiro, radialista, jornalista e mais nada (21-01-1014)
Desde muito cedo entendi que não
era parte do senso comum, não me satisfazia com a rotina, aliás, cansa ser
sempre o mesmo, não sei como muita gente consegue passar a vida inteira, todo
dia, todos os meses, anos, sempre falando das mesmas coisas, discutindo os
mesmos assuntos, vivendo as mesmas coisas, enfim, enquanto meus amigos
discutiam futebol queria falar sobre literatura, filosofia, psicologia,
enquanto homens reunidos discutiam sobre carros, modelos, peças, gasolina,
churrasco, queria saber sobre as dores da vida, falar de amor, de medo, das
contradições humanas, do sentido da existência, sempre soube que nunca teria
tesão para conversas domésticas, não estou interessado em discutir o preço do feijão,
ou a melhor marca de tinta para pintar casa, ou sobre promoção de supermercado,
aliás, não sou bom em coisas práticas, até sei cozinhar, sei preparar um jantar
romântico, colocar o lixo pra fora, trocar uma lâmpada, mas não espere de mim
aquelas conversas chatas sobre filhos, sobre casa, carros, futebol, sobre
roupas, sobre coisas domésticas, não é minha praia, essas coisas não me interessam,
gosto de refletir sobre o comportamento das pessoas, sobre paixões, desejos,
sobre morte, sobre destino, saudade, tristeza, espiritualidade, reencarnação, Deus,
nossas fragilidades, sobre livros, poesia, gosto de cinema, música, teatro,
gosto de descobrir as belezas da vida e não o seu dia a dia tosco e opressivo,
me interessa o peso da vida, não o do cotidiano, não me interesso por coisas
banais, pra mim já me basta vivê-las, é claro, não estou numa prisão, sou adaptável,
e sei conviver em meio a tantas conversas que não me interessam, sempre calado,
claro. Quando os amigos, e isso acontece muito, demais, começam a discutir
futebol, fico em silêncio, e eles já entenderam, Ronaldo não gosta de futebol, sempre
dizem para justificar a minha calidez, e seguem sem mim na discussão. Com tempo
também aprendi que discutir não é interessante, nem me interessa, não gosto de
discutir, sempre me calo, não tenho a pretensão de convencer ninguém, nem impor
o meu pensamento, gosto de refletir, tenho intuições, algumas boas, certas,
outras nem tanto, sonho muito, sonhos, alguns, premonitórios, como metáforas,
que tenho ir além das imagens e tentar decifrar os sentidos e acontecimentos
futuros. Não sou inteligente, tenho ser diferente, fugir do comum, ser
sensível, poético, filosófico, não sei se consigo, escrevo sobre o que penso e
sinto, o que não quer dizer que viva realmente o que escrevo, mas digamos que
seja uma tentativa, primeiro teorizo, depois procuro colocar em prática. Sei do
preço que se paga por se tentar seu um pouco, digamos, peculiar, autêntico,
numa sociedade de massa em que as pessoas têm medo de ser diferentes e seguem
todas os modelos, padrões, é um sentimento um pouco solitário, um sentimento de
vazio e de não pertencimento, ter pensamentos próprios sobre Deus, a vida, a
morte, quando todo mundo quer que você pense igual, seja igual, não se
distancie do que eles estão vivendo, talvez por medo, medo deles mesmos, querem
todos iguais para que ninguém precise mudar, por isso seguem de olhos fechados,
cegos guiados por cegos. Sei dos meus erros, aprendo com o meu passado, me mudo
e mudo, me transformo, quero sempre ser diferente, adoro a ideia de amadurecer
e entender mais sobre a vida, as pessoas, não cometer os mesmos erros de
ansiedade, medo, gosto de me sentir mais maduro e confortável agora com o
passar dos anos e das experiências vividas, sofridas, e quem me conhece, sabe,
mudei, talvez pra melhor, ou não, mas certamente não sou mais o mesmo e nunca
serei.
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