Ao meu enterro
Ronaldo Magella 15/09/2015 –
jornalista, professor, escritor
Não gosto de enterros. Nem de velórios. Não costumo visitar funerais.
Não tenho medo de morrer, nem da morte, menos ainda de almas ou espíritos, acho
até morrer algo simpático e necessário, natural e comum.
A verdade é que nunca sei o que dizer em tais situações. Sei
que a presença é algo que por si mesmo já conta e que não é preciso dizer nada,
apenas estar lá, abraçar, se fazer presente, mas pra mim é muito
desconfortável.
Sempre fico cheio de pernas, não posso ver ninguém chorando,
choro junto, sou emotivo, mesmo sem conhecer quem morrer, não importa, choro, e
choro, e choro, por isso evito ir.
Quando morrer gostaria que o meu velório fosse como aqueles
que o cinema americano nos mostra em seus filmes, uma foto imensa do falecido,
gente contando histórias e piadas, alguns discursos emocionados e muita
alegria. Sim, alegria.
A única tragédia é viver, ou morrer, sei lá, viver já nos
consome demais, a gente sofre, chora, perde pessoas amadas, adoece, vive
dramas, conflitos, está sujeito ao pior dos mundos, das situações, morrer chega
muitas vezes ser um alívio e sentimento de dever cumprido.
Não penso na morte como algo ruim, penso ser mais um mistério
que será desvendado, até já tenho um lista de perguntas pra quando eu morrer,
quero saber muitas coisas, descobrir outras e a grande pergunta, sim, e agora,
morri, e depois?
E claro que a resposta já tenho, já li muita obra espírita e
acredito em vida após a morte, mas a vida mesmo, essa, a real, antes da morte
chegar, precisa ser vivida, e isso sim, é que nos permitirá uma morte, digamos,
leve.
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