terça-feira, 28 de junho de 2016

Ninguém gosta de gente feia e gorda

Ninguém gosta de gente feia e gorda
Ronaldo Magella 28/06/2016

Vamos aos fatos. Há mais academias do que bibliotecas nas cidades. As academias abrem às cinco da manhã e estão lotadas, fecham depois das dez, cheias. As bibliotecas abrem pela oito da manhã e fecham as cinco, vazias.

Há mais dicas e receitas para emagrecimento do que para se ler um livro e estudar. Isso nos deixa uma evidência, a forma, em nossa sociedade moderna, é mais importante do que o conteúdo, e por me importa quem pensa o contrário e mente pra si mesmo.

Não é uma ideia, é uma tese, a ciência explica, não gostamos de gordos e feios. Isso é ancestral, atávico. Os evolucionistas estão certos. Os darwinistas corroboram o que digo.

Imaginem no mundo primitivo, os homens eram presas fáceis dos animais, e claro, os mais pesados, leia-se gordos, comprometiam a espécie, tinham pouca mobilidade, eram deixados pra trás e eram devorados. Precisa ser mais claro?

Não é de hoje essa nossa repulsa pelos gordinhos, e feio. Vem de longe, é mais interior do que um conceito moderno e externo, está inserido em nós. Talvez algum moderninho aí esteja se contorcendo e dizendo a si mesmo, ah que idiota, eu namoro um gordinho, uma gordinha e gosto. Parabéns pra você. Mas não acho que seja o que desejo mais real, acredito que no fundo você gostaria de um corpo mais esbelto e um físico mais gostoso, mas eu só acho, penso mais na sua falta de opção do que na sua vontade.

Somos mais instintos e desejos do que razão. A lógica explica. Não é só questão de agilidade, a mulher olha pra um gordinho e vê ali a sua descendência, a prole, não, ela não quer filhos com aquele formato, então, desiste.

Gordura no mundo moderno não é um bom sinal, remete é problemas de saúde num futuro próximo, também é preguiça, desleixo, sujeira, falta de atitude. É melhor ser pobre no mundo em que vivemos, podemos colocar a culpa no capitalismo, e se somos gordos, a quem vamos culpar?

Só os mentirosos, desse mundo politicamente correto, que dizem que a beleza não é tudo, a essência interior encanta mais, rio as gargalhadas e alto. Estrondo.

Um dia, há muito tempo, perguntei a uma amiga por qual motivo eu não conseguia uma namorada, ela apenas me disse, você é gordinho, mas retruquei, ué, mas fulano é gordo é tem uma namorada linda, ela calou-se, não que não tivesse sem respostas, apenas não quis me magoar mais ainda e me encher de verdade.

A moda agora é mentir e dizer que a gente aceita todo mundo numa boa, que gosta de todo mundo, que ama mundo e que não tem preconceito com nada, que a vida é azul e cor de rosa, é legalzinho dizer que é aberto e moderno, tenho medo de gente assim.


Assim como todo mundo é feliz nas redes sociais, lindo e cult, a gente criou um mundo de mentiras e ilusões, seria mais fácil dizer as pessoas o quanto a gente não gosta delas, da forma como elas são e pedir para melhorarem, o mundo seria muito melhor e a gente claro, mais leve.  

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Gostar é pra sempre

Gostar é pra sempre
Ronaldo Magella 27/06/2016

Adoro manga, mas nem todas as mangas são boas e mesmo assim não deixo de gostar.
Gosto do Flamengo, mas o meu time perde, joga mal, faz raiva, e mesmo assim não deixo de torcer e gostar. Continuo firme.

Adoro cinema, música, livros, mas nem todos me agradam e nem por isso eu deixo de gostar, nem todas as bandas são boas, nem todos os filmes, nem todos os livros são legais.

A gente gosta e, mesmo que alguém diga que isso é pouco, não basta, a gente mesmo assim gosta e continua gostando, não tem como explicar ou não se explica ou não se quer explicar.

E gostar de quem não gosta da gente? E daí? Como cantou Cazuza, a dor esconde uma pontinha de prazer. A gente gostou por que algo nos atraiu e não por conta de uma perspectiva de realização plena.

Claro, a gente seria mais realizado, feliz, completo se a pessoa de quem gostamos também gostasse de nós, mas a gente não gostou da pessoa pensando nisso, sim, era o que gostaríamos que acontecesse, mas a gente se afeiçoou por outros motivos.

Sem modéstia, há algumas mulheres apaixonadas por mim, e juro, não fiz nada, pelo contrário, ignoro, sou chato, indiferente, e mesmo assim elas continuam lá gostando. Somem um tempo, acho que magoadas, mas voltam quando menos espero e com o mesmo sentimento de gostança.

Quando pergunto como ainda conseguem gostar, dizem não saber explicar os motivos, apenas gostam da minha pessoa, do meu jeito, do que escrevo, da forma como vivo, e parecessem que não vão desistir desse gostar.

É algo que fica enlatado, em latência, embutido, escondido, mas não deixar de existir, por ser um gostar verdadeiro e autêntico, sincero e real, já que não sou bonito, nem inteligente, nem rico, nem charmoso, nem gostoso, nem nada.

Aí começo a entender outra coisa, quando a gente gosta, não deixa de gostar, mas quando a gente tem desejo e vontade, isso passa. Penso que a maior dos relacionamentos está fincada nessas questões de corpo, beleza, sexo, prazer, e isso, por mais gostoso que seja, causa tédio, envelhece, se consome e se finda. Acaba.

Gostar, como se gosta das coisas, de filmes, livros, músicas, é pra sempre, ninguém vai deixar de gostar, a gente pode até evitar, como adoro pizza e estou evitando, mas não o sentimento,  não deixa de existir.

É como gostar de algumas pessoas, de graça, a pessoa nunca te olhou, falou com você, mas você gosta, mesmo que a distância, em silêncio, na tua, apenas sente algo por aquela pessoa, uma admiração, um fascínio, algo que acontece dentro de você e você não sabe explicar, dar um nome ou colocar uma razão, você só acha a pessoa a coisa mais fofa do mundo e tem um carinho, sente um afeto por ela imenso, claro, ela nunca irá saber, você até tem vergonha de falar, dizer, mas você gosta de gostar.

É isso, gostar por gostar, um gosto gostoso que nos faz bem, é doce, leve, se a gente não for possessivo nem ciumento, algo que nos encanta, e que jamais irá morrer.

Sim gosto de algumas pessoas.


Recado para as mulheres: homens gostam de conquistar

Recado para as mulheres: homens gostam de conquistar
Ronaldo Magella 27/06/2016

Escrevo com um certo pesar e algum desgosto, mas imbuído da mais doce e leve sensação de sinceridade, sim meninas, eis a verdade, homem não gosta de mulher fácil.
Você pode até ser um dessas moderninhas bacanas liberais pensando que isso tem nada a ver, que você faz o que tem vontade e que se dane o mundo, parabéns pra você, mas a única coisa que não muda na humanidade são os instintos, estes são atávicos e permanentes, como os desejos.

É da natureza dos homens conquistar, é da sua essência, é só olhar a história, guerras, lutas de boxes, MMA, conquista do espaço, ou algum jovem recém descobrindo o amor e o sexo, os avanços que ele faz pelo corpo alheio em busca de conquistar espaços e sensações, o prazer que isso dar. 

É o desejo que aprisiona, desejo realizado causa tédio. Fácil entender isso? Explico. É o que se persegue que nos escraviza. Toda mulher inteligente sabe disso, só as burras pensam que sexo e filho conseguem prender algum homem, jamais. Nenhum, nem outro.

Sexo é bom, gostoso, mas não é isso que faz um homem ficar, mas o desejo que ele sente por isso, a vontade, é isso que o prende, o amarra, e quanto menos se tem, mais de quer, quanto mais é difícil, mas prazer se acha em conquistar e querer. Pensem nisso meninas.

Talvez alguma moderninha aí diga que foi pra cama de primeira com o namorado e até hoje estão juntos, parabéns, espero que seja eterno, mas no fundo acho que seu namorado deve sentir algum vazio interior, alguma sensação de não realização, e um tédio constante pela vida. Mas só penso.

No fundo ele, como todo homem, queria ser dominado e ter aquela sensação de conquista, difícil, mas possível, e claro, a mulher inteligente deixou o bobinho pensar que era ele quem estava conseguindo, enquanto e quando ela era quem estava no controle e deixando acontecer. Pobres homens.

Mas não estou dizendo que se deve ser casta, pura, longe de mim, apenas que se corre o risco de jogar a caçada no mato antes mesmo de ela começar.

Toda mulher inteligente sabe esperar, ela pedirá sempre para que se não faça, mesmo morrendo de desejo e vontade, mas ela sabe que esperar sempre é a melhor das opções, e enquanto espera, o cavalo aprende o caminho de casa, se acostuma e nunca mais erra a volta.


Homens são ingênuos e bobos, tolos e infantis, é fácil enganar um homem, mas fácil ainda é deixá-lo apaixonado e refém dos seus próprios desejos. Lembrem-se, é o desejo que nos torna escravos

domingo, 26 de junho de 2016

Da vida, as insanidades

Da vida, as insanidades

Ronaldo Magella 26/06/20016

Basta de normalidades
O canto bonito é das insanidades
Gente normal não conta história
Vem da loucura o fascínio
Cheio de incompletudes
Disso sou abastado
Mudo pra não cansar
De ser o mesmo
Continuou sendo igual

Pra ser diferente

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Mulher gosta é de macho

Mulher gosta é de macho

Ronaldo Magella – 20/06/2016

Esqueça o romantismo, esqueça todo esse mi mi mi idiota dos filmes românticos, nenhuma mulher gosta de homem, toda mulher gosta é de macho.

Por macho entenda-se, alguém confiante, determinado, seguro, dominador, envolvente, charmoso, atraente, com pegada, como elas mesmo dizem.

Nada de flores, de poesia, de chocolates, de sentimentalismo broxante. Outro dia uma amiga reclamava, tem muito homem, mas pouca atitude, homem maduro com coragem, está em falta, são uns medrosos, carentes e sem confiança, não se garantem.

Os homens modernos são uns frouxos, cheios de frescura. Os meninos botinhos, sabidinhos, cheirosinhos, não entendem como os “grossos” conseguem conquistar as meninas mais bonitas, é simples, eles, os grossos, são machos, atavicamente falando, vão pra cima.

No mundo animal o macho chega junto, se impõe, se ele tivesse dúvida de si mesmo e parasse para olhar com pena da sua própria existência, jamais conseguiria procriar e perpetuar a espécie e aumentar a prole, estaria fadado a desaparecer.

O homem moderno é um narcisista cheio de frescura e dengo que passa muito tempo lambendo as próprias feridas e se olhando no espelho, competindo com as mulheres, querendo ser mais admirados do que elas. Dica? Deixem os espelhos para as mulheres.

Se no mundo animal é o mais forte quem sobrevive, na vida moderna são os ousados quem conseguem respirar, quem passa tempo demais lamentando o próprio destino esquece-se de olhar de lado e avançar.

Tem muito homem, mas pouco macho. Toda mulher adora um bonitinho, admira um inteligentinho, mas se apaixona por um canalha, estes são mais interessantes e desejados.


Outro dia uma amiga me disse, o que me atraí em você é a sua autoconfiança, isso me fascina. Não que eu seja alguém confiante, mas ali estavam compensados meus mais de 15 anos de análise e frescura, fui salvo, agora é me reconfigurar. 

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Falta vida nos casamentos

Falta vida nos casamentos

Ronaldo Magella – jornalista – 16/06/2016

Não é de hoje que encontro mulheres casadas reclamando das vidas matrimoniais, uma amiga até me disse, quando eu me separar vou namorar tanto, mais tanto, mais tanto, que nem sei o que dizer nem onde vou parar.

Não é que não se namore no casamento, tenho a impressão que, quando elas dizem isso querem dizer que falta emoção. Namorar, apaixonar, vivenciar uma relação, conhecer alguém traz um pouco adrenalina na vida, permite um toque de novidade, coisa que uma relação antiga não permite mais. 

A sensação que fica é que falta vida aos casamentos e que para se viver o que se falta é preciso sair da situação na qual se encontra, ou seja, separar.

Ainda se pensa que casar é o fim social, é abandonar a vida, colocar uma roupa velha, ligar a televisão e esquecer do mundo, como se não se pudesse viver mais nada e tudo agora se restringisse a pagar contas e fazer feira.

Um erro que se identifica sempre diante das reclamações que se ouve é, quem reclama cometeu o pecado de definir a vida amorosa cedo, casou ou teve filhos muito jovem, agora, hoje, se sente um pouco presa, como elas dizem, não aproveitaram a vida como gostariam ou como deveria ter sido aproveitada.

A outra questão diz respeito aos maridos, esses têm culpa e responsabilidades no tédio que pode ser tornar um casamento, uma relação. Muitos se acomodam e ficam inertes, como se a vida ali bastasse por si mesma e nada poderia se aproveitar dela.

Isso me lembra Emma Bovary, do livro clássico Madame Bovary, do escritor Gustave Flaubert. Emma casou-se com Charles para deixar a vida tediosa e limitada da casa dos pais, mas vai encontrar no casamento o mesmo tédio, a falta de emoção e paixão pela vida. Passa o dia a ler romances e sonhar com um destino melhor, como se faltasse algo, apaixona-se por um poeta, por um canalha, mas ninguém lhe permite a vida que sempre quis ou desejara, a vida de Madame Bovary é sem amor.

Não é que casar seja algo ruim, é o que fazemos do casamento que torna ele insuportável. Deixar de viver, de sair, de viajar, de experimentar as coisas boas do mundo, nos torna entediados e insatisfeitos com a nossa relação a qual estamos inseridos.

Toda relação precisa de vida, de viver mundo, de correr perigo, precisa ter emoção, paixão, prazer, e se pode viver isso a dois, acho até que seja mais gostoso, não num ritmo tão intenso, como se fosse jovem e solteiro, mas dentro de uma medida que possa torna a coisa mais gostosa e fascinante.


O corpo nosso de cada dia

O corpo nosso de cada dia

Ronaldo Magella – jornalista, escritor, professor
16/06/2016

Basta assistir aos velhos filmes, de décadas passadas, para perceber que havia muita roupa, antes, e pouco corpo, agora, depois, é o contrário, há pouca roupa a se mostrar e muito corpo a se exibir.

Vivemos a era dos corpos, da imagem, da aparência, do espetáculo, da ostentação, da exibição, o fim do intelecto, do conteúdo, o desperdício da essência, a exaltação do sexo, a extinção dos relacionamentos.

Sim, os relacionamentos estão mortos, uma vez que são os corpos que se atraem, não as almas, na atualidade o que nos desperta em alguém é aquilo que se vê e não mais aquilo que se sente, enquanto as almas amadurecem, os corpos envelhecem, e com eles a nossa simpatia, e assim nos dispersamos, em busca de nossas sensações físicas e não de emoções psicológicas que só interior de uma pessoa pode nos oferecer.

Como querem nos analistas do discurso ou seguidores do filósofo francês Michel Foucault, o nascimento do corpo ou a sua narrativa ganha destaque a nossa sociedade moderna contemporânea, deixamos de admirar as pessoas e passamos a cultuar imagens.

Não nos apaixonamos mais pelo outro, mas pela sua figura, pelo seu avatar numa rede social, por algo que ela não é, mas por aquilo que ela aparenta ser, imagem agora é tudo.

É possível que talvez a origem, pra ficarmos nos nossos tempos, sem recuarmos a Grécia antiga, dessa epopeia cultural corpórea tenha nascimento na década de 60, sim, sempre lá, e ganhou força com a emancipação feminina.

 Temos que se lembrar de Leila Diniz fotografada grávida de biquíni na Praia de Ipanema no Rio de Janeiro, e não podemos esquecer-nos dos concursos de miss universo, dos desfiles de modas e da consagração com as redes sociais, acontecimentos marcantes, geradores de força para uma mudança de paradigma. 

O corpo em nossa sociedade ganhou status de troféu, cartão de visitas, a beleza é nossa marca registrada, se a Arte tinha no grotesco algo belo, no feio algo divino, vejam os filmes de terror, em nossa sociedade atual ser feio é sinônimo de fracasso. 

Fazemos de tudo para conservar a nossa beleza, juventude, não valoramos mais a maturidade, a sabedoria, a experiência, a importância de alguém agora se mede pelo quadro que o seu corpo pode apresentar e despertar.

Se pensarmos nos comentários das redes sociais, quando alguém expõe ou publica uma foto, “top, linda, arrasa, gata, gostosa, delícia, perfeita”, vamos entender do que estamos a vivenciar nesse momento no mundo atual.
Um cenários desolador.

Quando deixamos de alimentar a nossa mente, o nosso intelecto, a nossa alma, e passamos a glorificar a nossa imagem, lotamos academias e esvaziamos bibliotecas, elegemos o novo padrão social, da plástica em detrimento dos valores essenciais da criatura humana, o saber, o conhecimento. 

São plásticas, regimes, academias, receitas, dicas de guarda-roupa, combinações as mais variadas e diversas, tudo para agradarmos aos olhos de quem nos vê, para sairmos melhor na fotografia, sermos melhores apreciados pela plateia anônima a qual nos apresentamos todos os dias via redes sociais.

A nossa preocupação é tanto e tão excessiva que nos dispomos a tirar dezenas de fotos todos os dias para aproveitarmos a aquela que melhor tenha ficado para nos representar nos meios digitais, afinal, não podemos aparentar ângulos ruins ou piores.

Cultuamos os nossos corpos, em nossa época superficial e carente de afetos, como um novo Deus, alimentamos a nossa imagem como algo sagrado e intocado, cada foto nova nossa, um altar, cada curtida, uma prece, todo comentário, uma promessa, e o aumento da nossa crença de que estamos fazendo a nossa coisa num mundo cada vez mais incerto de valores e identidade.

Acreditamos mais nos corpos do que nas pessoas, ocupamos nosso tempo para modelar a nossa aparência e esvaziamos o nosso interior, nos dedicamos ao passageiro e efêmero e negamos o eterno, permanente.

São temos líquidos, sem duração, tempos frios, sem afeto, sem segurança, tempos sem poesia, sem graça, mas cheios de gargalhadas.


Por que os homens traem

Por que os homens traem

Ronaldo Magella 16/06/2016

Não é natureza, apenas imaturidade.

 Há, entre os homens, certa necessidade, infantil, por final, de autoafirmação.

É preciso provar, aos outros, os seus, entre os iguais, que ainda é possível ser um conquistador, machismo anacrônico.

Como se diz, “homem de verdade não é aquele que conquista várias, mas aquele que conquista uma várias vezes”,  a tese parece ser real e lógica.

Disse, escrevi, que, as meninas contam segredos, os meninos contam vantagens.

As mulheres gostam dos detalhes, os homens da quantidade. Como diz uma música do Kid Abelha, “são sempre os mesmos sonhos, de quantidade e tamanho”.

Não é preciso dizer que essa competição interna, no mundo masculino, gera demasiada angústia e insatisfação, tempo e força, energia que poderia ser canalizada para algo mais produtivo do que essa necessidade de demonstrar aos outros aquilo que não se precisa.

Isso, penso, deve explicar por que os homens traem, é um dos fatores, sim, sempre há vários, desgaste da relação, falta de desejo, amor, paixão.

Conheço muitos homens, em idade avançada, que ainda teimam por um comportamento idiota, digo, irresponsável, como se precisasse ainda provar aos outros do que é capaz, e pra isso, se utilizam da conquista como troféu.

Há uma competição, fútil, mesmo que não provocada, para se contar superioridade entre os outros, homens, como se, aquele que fosse o mais “pegador”, fosse o melhor, superior, e como tal, um homem numa relação séria, tipo casado, noivo, estaria fora da briga, e morto, aos olhos dos outros.


Acho que já deu pra perceber a lógica que norteiam a cabeça dos homens e a explicação para o seu comportamento psicologicamente infantil. 

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Possuída

Possuída

Ronaldo Magella (jornalista)


Enquanto ele avançava, sem medo, ela se sentia cada vez mais desejada, pedia pra parar, mas no fundo sonhava em ser invadida e tomada. Parada. Esperando.  Por favor, pare, não faça isso, sufocada pelos beijos quentes e ardentes que ele imprimia em ritmo oscilante, entre lento, ligeiro e selvagem, ela apenas se deixava, dizia não, e queria sim. Não posso, ela repetia, pare, e sorria no quanto da boca com a vontade já escorrendo por todos os lugares. Pensava, amava aquela falta de educação, queria apenas ser dele, toda, completa, inteira, nua, sem culpa, vergonha, medo, sem dimensões, freio. Pare, por favor, insistia. Continue, desejava. Preciso ir, vamos parar, chega, e o beijava ainda mais, de forma gostosa, tomada pela vontade, pelo desejo, tomada de calor, dor, alívio, safistação. A cada gesto, a certeza, em todo toque, um motivo para ficar, os cheiros que se misturavam, os corpos suando, suados, as pernas entrelaçadas, mãos cruzadas, olhos fechados, tudo se encaixando, perfeitamente, magia, mágica, magicamente, simetricamente, delicadamente. Ele rasgava suas ruas roupas e também as suas certezas, tirava suas peças e também sua insegurança, amava com fúria e paixão, com delicadeza e carinho, costurava o momento alinhavando os pontos, soltando as amarras, prendia as partes, apertava o todo, acariciava, como a colher fruta madura, a tocava e não se furtava do prazer, dava o melhor, o que tinha. Ela sorria intimamente, queria o que não revelava, sonhava aquilo que antes corava, tinha agora certeza de ser possuída escancaradamente, escandalosamente, deliciosamente, despudoradamente, maliciosamente, perfeitamente. Sem vergonha, mal educado, grosso, selvagem, idiota, sem pudor, canalha, era isso, sentir em si, o consumo do desejo, a fartura do prazer, ser amada sem limites, sem regras, politicamente incorreto. Queria apenas ser corrompida pelo desejo, destroçada de prazer, cansar de amor, sofrer de tesão, sentir até a exaustão, morrer do próprio veneno, criar e cometer o seu próprio pecado, perder e perder a si para se encontrar agora deitada, pensando, isso é vida. 


sábado, 11 de junho de 2016

A minha pressa, desculpe

A minha pressa, desculpe

Ronaldo Magella 11/06/2016
Desculpe a minha pressa
É que já não consigo conter
O que há muito tenho preso
Tantas palavras bonitas
Sempre silenciadas
Algumas coisas são do tempo
Outras acontecem
Há aquelas que precisamos fazer
Enquanto há tempo,
Estamos no caminho
Aqui.
Desculpe a minha pressa
É que tudo agora me está incontido
Se esparrama, alastra, derrama, escapa
Foge.
Desculpe a minha pressa
É que ando pesado
Carregando em mim tantos sonhos
Tantas vontades
Muitas ausências, tantas saudades
É que já não caibo em mim,
Preciso me livrar, me deixar
De mim não saber mais. 

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Não é o que se pode dar, mas o que se pode viver

Não é o que se pode dar, mas o que se pode viver

Ronaldo Magella 10/06/2016 (jornalista)

Tenho a leve sensação de que as pessoas estão trocando os afetos pelos produtos, é fácil entregar presentes, difícil mesmo é se entregar.

Toda relação é baseada na troca, não de coisas, mas de afetos, é no carinho, na amizade, no companheirismo, no diálogo que se edifica algo bom, firme e intenso entre os casais.

Mais importante do que poder dar alguma coisa, é poder viver algo que seja eternizado.
Sentir a outra pessoa, saborear, ficar juntos, perto, é o que nos fazer procurar alguém para viver, é a possibilidade de dividir uma vida com alguém que nos encanta, e isso é tudo.

Muitas vezes um momento, uma cena, algo bom que acontece dentro da relação é o que a torna mais intensa e ligada, profunda e gostosa de viver.

São momentos assim que ficam pra sempre e fazem com que a gente se mantenha e decida continuar com alguém em nossa vida, ao nosso lado.

Alguém um dia se interessou por mim e naquele momento, naquela hora, quando o olhar dela bateu com o meu e nos apaixonamos e decidimos ficar juntos era apenas pelo que cada um representava um para o outro e era a única coisa que tínhamos ali de um ao outro, para nós.

O que ela gostou em mim, o que eu gostei nela, não era o que estava ofertando, nem o que ela estava me presenteando que nos aproximou, mas o que podíamos ser um para o outro.

Foi o sorriso dela, o meu cheiro, a forma engraçada dela ser, o jeito como eu a trato, como ela me olha, como eu a beijo, o abraço gostoso dela, as coisas que conversamos, os planos que temos para o futuro, a alegria que sentimos juntos, o sabor que é a nossa companhia, o que temos em comum, as nossas afinidades e a nossa cumplicidade, o nosso encaixe perfeito, o prazer de sermos um só.

É isso que deve manter uma relação, que se dê presentes, faz parte, é um ritual, mas é preciso saber que somos nós, é o que se pode viver, um ao outro, que importa mais, o que irá se experienciar, vivenciar que irá fazer com que se possa gostar mais.



Das coisas que tenho

Das coisas que tenho

Ronaldo Magella 10/06/2016

De certas coisas, sou abastado
Outras me faltam.
Sou mais ausências
Do que presenças
Das concretudes, não sei
Sou inquieto.
Movido pelas impossibilidades
De tormentos me encho
É coisa certa de mim
É o que falta que preenche
Mas talvez seja isso
Coisa boa, não se sabe
Mas se boa se sabe
É certo causar agonia, de fazer chorar
Se serve, não sei
É bom pra poetar,
Sentimento vivo
Pra o mundo estragado
Todo poeta é um pouco

Aquilo que lhe consome. 

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Coração antissocial

Coração antissocial

Ronaldo Magella 09/06/2016
Às vezes eu embruteço
E causo estranheza
É que coração é bicho bruto
Difícil colocar rédeas
Todo cabresto se solta
Põe o dono no chão
Coração é bicho danado
Não obedece
Gosta quando quer
Sofre quando não precisa
Se emburrece, finca o pé
Se fecha pra esperar
O meu anda anti social
Longe de quem procura

Perto de quem não quer

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Mulher também deseja

Mulher também deseja

Ronaldo Magella 06/06/2016 (jornalista)

Talvez Sherezade não só contasse histórias para se manter viva, se ela não desejasse teria preferido a morte, mas penso que ela desejasse e como tal tinha vontades e mil e uma vezes deixou-se viver pelo desejo de fazer toda noite algo que também lhe pertencia, o prazer.

Mulher também deseja, e como diz Clarice Lispector, “e acabou-se”.

Ainda outro dia conversava com amigo e discutíamos sobre o desejo feminino que é negado pela sociedade, pelos homens.

 Mulher também pensa com a cabeça de baixo. Mulher também tem vontade. Mulher também deseja, gosta de sexo, mulher também é gente.

Custa ainda, aos homens, aceitar isso, talvez até mesmo perceber, prefere-se ignorar. Silenciar.

Os meninos podem variar de parceiras, são admirados por isso, as meninas não podem, são rotuladas.

 Os homens podem frequentar casas de sexo, a mulher precisa ser fiel ao marido, ao parceiro, no relacionamento.

Anula-se o prazer da mulher, como se ela não tivesse o mesmo instinto.

Já ouvi comentários de homens que não aceitam que a mulher desperte ou tenha a vontade e o interesse em transar, precisa partir dele, será sempre quando ele quiser.

A nossa sociedade é estimulada a entender os desejos masculinos e não aceitar as vontades femininas, como se ela não existisse.

Somos “educados” a aceitar uma traição masculina e repudiar uma mulher que faz o mesmo ato, como se ações não partissem da mesma vontade, do mesmo lugar, do mesmo instinto.

A nossa hipocrisia é afirmar que o homem pode, mas a mulher não deve.

Consideramos que é feio pra um homem ser traído, ele não suporta a vergonha social, mas pra uma mulher é normal, já faz parte dos costumes sociais.


Como cantou Raul Seixas, “sofro, mas eu vou te libertar, amor só dura em liberdade, o ciúme é só vaidade, o que é que eu quero, se eu te privo”, talvez nem precisa haver sofrimento, mas a liberdade é essencial. 

quarta-feira, 1 de junho de 2016

As pessoas que me interessam

As pessoas que me interessam

Ronaldo Magella 01/06/2016

Estou ficando velho e cansando, cansando de mim, de muitas coisas, das pessoas, de tudo que há, existe e virá.

Como não posso viver do passado, embora sinta saudade, e como não sei do futuro, embora tenha por ele esperança, me resta o presente, e dele pouco me sobra.

Meu tempo agora é pouco, tenho muito o que descobrir e pouco com o que me importar.

Agora pouca coisa me toma o tempo, poucas pessoas me interessam, me dão vontade, gente comum, gente vazia, gente igual, gente igual a outras gentes, gente igual a tantas gentes, pouco me chamam a atenção e quase nada desperta do meu olhar.

Não quero ser melhor, nem pior, nem mais, nem menos, mas não me gosto com o que há, com o pouco dos outros, com a mesmice de sempre, o que essa eterna falta do que falar.

Tenho pouco, sou pouco, mas quero o muito dos outros, a riqueza de quem sabe sorrir, abraçar, descobrir, viver, ler, gostar, amar, sentir, não me importa ou me interessa gente que copia gente, mas sim, gente que é gente, gente que se cria gente.

Não importa o muito que há, mas o pouco que não se encontra, a coisa rara, especial, interessante, intensa e verdadeira, isso sim, são as pessoas que me interessam, de quem quero gostar.