Quero gentes
Ronaldo Magella – jornalista, poeta, escritor – 29/12/2015
Não quero mais pessoas vitrinas, lindas e perfeitas, quero gente com
defeitos, gente de carne e osso, gente que erra e pede desculpas, gente que
pisa na bola, gente com foto feia, gente sem filtro, gente sem maquiagem.
Quero gente que feda e morra como todo mundo, gente que chora e sente
solidão, que gente se perde e se acha,
se engana e se maltrata, gente que não seja um livro de autoajuda sempre uma frase
na mão para te consolar, gente com uma solução pra tudo e pra todos.
Quero gente sem palavras e com dor, gente calada e gente ferida, gente
que se quebra e se emenda, que vai e volta, que sabe se abrir e se fechar,
gente comum, normal, gente que nunca precisa ser vista, nem aparecer, gente que
anda, pensa e caminha, pensa em ir e deseja um dia voltar.
Quero gente com casca e dentro do buraco, fora da caixa, longe do
círculo, não quero gente de parque de diversões, sempre feliz, contente, são os
defeitos que nos tornam humanos, são as lágrimas que dizem do que somos feitos,
de sentimentos e emoções.
Quero gente da margem, estranha, gente boiando, querendo se encontrar e sem saber o que fazer de si mesmo, quero gente que ame e morra de amor, gente
confusa e atrapalhada, gente com graça e sem graça, gente doente, com a cara
limpa e a roupa suja, gente distraída e bacana, gente legal e artista.
Gente com tédio e preguiça, gente chata e cara, invisível, gente à toa,
de boa, de bobeira, de beira, nas beiras, gente fresca, gente de pensar torto e
punho reto, que desce ladeira e corre louco, gente fina e grossa, gente fria e
quente, quero gente, não importa, quero gente.
Gente com defeitos, de efeitos, de peito, de coragem, com medo, alta e
baixa, feia e bonita, surda e muda, gente pra gente, da gente, quero gente,
gente, com juízo, sem juízo, livre e apaixonada, presa e solitária,
acompanhada, gente que é multidão, gente que é única, gente que é igual a gente, gente.