terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Quero gentes

Quero gentes

Ronaldo Magella – jornalista, poeta, escritor – 29/12/2015

Não quero mais pessoas vitrinas, lindas e perfeitas, quero gente com defeitos, gente de carne e osso, gente que erra e pede desculpas, gente que pisa na bola, gente com foto feia, gente sem filtro, gente sem maquiagem.

Quero gente que feda e morra como todo mundo, gente que chora e sente solidão, que gente se perde e  se acha, se engana e se maltrata, gente que não seja um livro de autoajuda sempre uma frase na mão para te consolar, gente com uma solução pra tudo e pra todos.

Quero gente sem palavras e com dor, gente calada e gente ferida, gente que se quebra e se emenda, que vai e volta, que sabe se abrir e se fechar, gente comum, normal, gente que nunca precisa ser vista, nem aparecer, gente que anda, pensa e caminha, pensa em ir e deseja um dia voltar.

Quero gente com casca e dentro do buraco, fora da caixa, longe do círculo, não quero gente de parque de diversões, sempre feliz, contente, são os defeitos que nos tornam humanos, são as lágrimas que dizem do que somos feitos, de sentimentos e emoções.

Quero gente da margem, estranha, gente boiando, querendo se encontrar e sem saber o que fazer de si mesmo, quero gente que ame e morra de amor, gente confusa e atrapalhada, gente com graça e sem graça, gente doente, com a cara limpa e a roupa suja, gente distraída e bacana, gente legal e artista.

Gente com tédio e preguiça, gente chata e cara, invisível, gente à toa, de boa, de bobeira, de beira, nas beiras, gente fresca, gente de pensar torto e punho reto, que desce ladeira e corre louco, gente fina e grossa, gente fria e quente, quero gente, não importa, quero gente.

Gente com defeitos, de efeitos, de peito, de coragem, com medo, alta e baixa, feia e bonita, surda e muda, gente pra gente, da gente, quero gente, gente, com juízo, sem juízo, livre e apaixonada, presa e solitária, acompanhada, gente que é multidão, gente que é única, gente que é igual a gente, gente. 


segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Você está fazendo falta

Você está fazendo falta
Ronaldo Magella

Até pensei que seria fácil e que iria tirar de letra sem você na minha vida, mas foi só acordar na primeira segunda-feira sem o seu bom dia no meu WhatSaap para perceber o vazio que você deixou, a falta que você faz, a saudade que sinto de você.

E se você me perguntar, digo, simples, gosto de você.

Achava que realmente era o melhor terminar e deixar a vida correr e buscar em outros braços um novo amor encontrar, mas a verdade é que aprendi a gostar de você, a viver em seus abraços e provar dos seus beijos, agora sei bem o que sinto e o que quero, quero estar com você.

Foi só passar as horas e ver que você não me chamava mais pra ir te ver que percebi que já estava acostumado com o seu chamado e estava gostando de ir te deixar todo dia no trabalho, ir te pegar, me entregar a você, fazer parte da sua vida.

Agora é o teu silêncio que fala mais alto, posso até amanhã nem ligar mais, nem me importar, ou te esquecer, deixar de gostar, posso amanhã nem te querer mais, mas hoje está doendo em mim, sem você aqui dói e muito, sinto, sinto.

Você está fazendo falta, é fácil perceber isso, nem eu mesmo sabia, nem eu mesmo queria que fosse assim, mas é o que está se passando agora na minha cabeça, a lembrança dos nossos momentos, a vida que tivemos juntos, a história que foi se erguendo ao tempo que estávamos juntos.


Já nem sei mais o que te dizer, falar, apenas sei sentir essa coisa ruim que está dentro de mim e que nem o café mata, só irá morrer com o tempo, ou quando um dia algo novo acontecer, por enquanto é você quem está mexendo comigo e irá ficar aqui do meu lado, dentro de mim, no meu pensamento, me consumindo. 

domingo, 20 de dezembro de 2015

Chuva que é de UVA DORGIVAL



Chuva que é de UVA DORGIVAL

O cantor e compositor Dorgival Dantas declarou em um vídeo que Luiz Gonzaga, Dominguinhos e Marinês nunca fizeram pelo forró o que Xandy, do Aviões do Forró, fez, levando o estilo para outros patamares.

Talvez uma dessas declarações ao sabor do momento, infelizes e desconfortáveis, um momento de imprudência, podemos assim classificar.

Realmente, Dorgival tem razão, hoje o forró vive em outros níveis, sem letras, ou com letras pornográficas, Luiz, Dominguinhos, e tantos outros percussores do forró cantavam o Nordeste e sua cultura, hoje se canta o bolso cheio de dinheiro, uísque e redbul, novinha que vai ao chão, chão, chão.
Quanta riqueza.
Nelso Motta, jornalista, compositor, escritor, roteirista, produtor musical e letrista brasileiro.em matéria ao Jornal da Globo, em sua coluna musical, disse que Luiz Gonzaga levou a música nordestina para o mundo, com sua riqueza de ritmos e suas letras divertidas e irreverentes.

Para Motta o Rei do Baião é reverenciado pela MPB nacionalista, sendo ainda referência fundamental para o movimento Tropicalista, de Gil e Caetano e tantos outros artistas consagrados do Brasil.
Elba Ramalho canta Luiz, Caetano Veloso canta Luiz, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Gal Costa, Lenine, Marisa Monte, a obra de Luiz Gonzaga recebeu inúmeras releituras e interpretações, por artistas consagrados em diversas partes do mundo.

Mito, ícone da cultura nordestina e da música do Brasil, e olha que estou falando apenas de Gonzaga, não se pode negar o valor e a história desse personagem ímpar da Música Popular do Brasil.

Gonzaga cantou forró, xote e baião, foi o primeiro de uma leva de bons instrumentistas e sanfoneiros na história do país, incomparável, estilo único e inigualável. Se pode até dizer que discriminado por ser negro e nordestino, que em vida talvez não tenha tido o valor que foi merecido e digno, o sucesso, mas a sua musicalidade não tem fronteiras, a sua riqueza não tem parâmetros.

De longe, de muito longe, o forró atual, esses que lotam festas e praças, que falam de rapariga e motel, em ostentação, não poderá ser comparado ao que se fez no passado.
Sim, outro tempo, outra história, outro momento, outra geração, mas pobre essa a qual estamos presenciando e vivendo no momento, que poderia ser mais rica, mas se deixa empobrecer pelo mercado do consumo de música sem qualidade, produtos de menor qualidade e valor.


Gonzaga é cultura, é arte, é a força do povo Nordestino que enriquece o Brasil com sua sonoridade, o forró atual, o que temos hoje, é moda, é indústria, é dinheiro, é show, é massa, é batida eletrônica. 

Todo amor novo é estranho, mas acaba por ficar, como roupa nova

Todo amor novo é estranho, mas acaba por ficar, como roupa nova

Ronaldo Magella – jornalista, professor, escritor, poeta, tem livros publicados.

Todo amor novo é como um sapato novo ou uma camisa que você adora no momento em que vai provar, põe os olhos, vê e diz, quero essa, ah ficou perfeito, vai servir, adorei, vou levar, mas chegando em casa você fica meio desanimado com a aquisição, arrependido, percebe que não era bem o que você queria, a outra que ficou na loja era melhor, bem melhor mesmo era ter comprado o outro sapato.

Mas o tempo passa e logo você começa a se apaixonar e percebe que fez a escolha certa, as pessoas elogiam a sua roupa nova e perguntam a onde você comprou e você passa a sentir uma pontinha de orgulho e desata a falar do seu amor novo com uma exuberância impar, com a maior felicidade do mundo.

Demora um pouco pra gente se acostumar com um novo amor, é estranho, a gente sente falta do anterior, faz comparações, acha e pensa que não vai conseguir se acostumar, sente calo, não serve, fica apertado ou folgado demais, mas você fica meio que por ali de relance tentando se encaixar e entender como você tudo pode funcionar melhor.

É um trabalho de paciência e persistência, de decidir, de ter coragem de tentar e de aceitar o outro e suas diferenças, com o tempo as coisas vão se encaixando e um dia, quando você menos espera, percebe que está sentindo falta e quer estar junto, pronto, agora é o sapato que você mais adora, é a sua calça preferida, sua camisa de estimação, sua roupa de sair.


quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Não era pra ser e foi melhor assim

Não tinha que ser e foi melhor assim

Ronaldo Magella – jornalista, professor, escritor, radialista

Sempre bate aquela sensação de pior a coisa do mundo, de fracasso e, poxa, outra vez, você pensa,  mas depois que o tempo passa sempre vem aquele pensamento que tinha quer ser como foi, ou melhor, como não foi, não tinha que ser e foi melhor assim.

O seu amor não correspondido, o seu sentimento negado, a sua paixão jogada no lixo, a sua vontade ignorada, o desejo reprimido, injustiça, talvez, ou não, o mundo que não te entende, as pessoas que não te conhecem e se você pudesse mostrar como é bonito o que pensa e sente, mas não há espaço, ninguém quer saber ou te deixar demonstrar, mas quer saber, não tinha mesmo que ser e foi melhor assim.

E foi volta pra casa, deita e acaba sorrido sozinho olhando pra teto, afinal, amanhã é outro dia e não foi tão ruim assim receber um não, olhe pelo lado positivo, se é que há algum, agora pelo menos você sabe que aquela pessoa não reconhece seus valores nem é digna de você, você meio que se sente vítima do mundo, mas enfim, realmente, não tinha quer ser e foi melhor assim.

Vão-se se os anéis, ficam-se os dedos, mais uma história pra contar, outra experiência mal sucedida, olha a graça da coisa, agora pelo menos, agora você sabe que bilhetes de amor não funcionam, flores não encantam, suas músicas não é o que ela quer ouvir, seus filmes ela nunca viu, sua letra é horrível e suas frases de amor não amolecem e nem derretem uma vela velha qualquer.


Quer saber cara, salve o poeta Mário Quintana, não corra atrás das borboletas, antes enfeite o teu jardim, flores, rosas, que elas lá irão pousar, é isso, se cuida, cuide de si, o destino não se força, ele acontece, não force, apenas, como te disse uma amiga, vai fazendo tuas coisinhas, um dia alguém te acha e te descobre, enquanto isso você se torna mais lindo. 

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Relações sem afeto e sem carinho: o medo de se entregar

Relações sem afeto e sem carinho: o medo de se entregar
Ronaldo Magella – jornalista, professor, escritor, poeta, tem livros publicados

Venho percebendo que os casais modernos não são afeitos a carinhos e afetos, a sensação que tenho é que há uma certa indiferença no ar com relação ao outro, barreiras invisíveis ou apenas um nova forma de se relacionar.

Vejo casais mudos, outros que não se tocam, não andam de mãos dadas, nem trocam beijos em público, nem pequenos gestos de carinho, talvez seja vergonha, sim, não há necessidade, é, mas, talvez eu esteja errado, sim, quero muito estar errado, mas também penso nas minhas relações.

Há um medo de se entregar ao outro, somos inseguros, não queremos demonstrar sentimentos, preferimos o distanciamento, criar barreiras, falar pouco, sentir menos ainda, sufocar, prender, tudo com medo de sofrer, não confiamos no outro, em mais ninguém.

Sim, sou mole, piegas, romântico, chato, idiota, sensível, mas não quero fazer parte dessa nova roupagem, de nova forma de conviver. Não pode ser meloso, o outro não gosta, não pode mandar flores, ela não gosta, não pode chamar de amor, é brega, não pode nada, não pode ser romântico, não pode nem gostar, é tudo artificial e maquinal.

Só podemos fazer uso do corpo, beija bem, transa legal, tem pegada, faz gostoso, isso agora justifica as nossas escolhas, mas e depois? Depois do beijo, da transa, da pegada, do gostoso, o que fica de nós, pra nós, em nós?

As pessoas tendem a gostar de quem não gosta delas, é estranha é essa forma de sentir e perceber a vida, as relações. Se você é indiferente, a pessoa se apega, se você tenta ser carinhoso e sensível, ela abusa de você, já escutei isso de uma ex-namorada, que afirmou que o meu problema foi gostar demais, pode isso? Sério?

Desculpem, ainda erro e vou continuar errando por ser intenso, por sentir e demonstrar, por escrever bilhetes e mandar flores, por fazer surpresas e comprar chocolate, se alguém não gosta, pode escolher algo diferente, se alguém preferi, seremos felizes, não mudar a minha essência, coisas boas e eternes, amar e mudar as coisas, isso me interessa mais.


quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Microcefalia intelectual : a nossa grande geração perdida

Microcefalia intelectual : a nossa grande geração perdida

Ronaldo Magella – jornalista, professor, escritor, poeta, radialista, tem livros publicado

A gente sofre por muitas coisas, pensar é uma delas, dói pensar, chego até a admitir que a ignorância é uma prática saudável nos dias de hoje diante de tanta alienação e indiferença da sociedade.

Nunca houve uma sociedade tão hedonista e narcisista, a busca pelo prazer desenfreável e a necessidade de parecer belo, ser admirado e cortejado de forma constante por uma massa anônima e sempre ávida por novidade e futilidades. 

Somos carentes. Jamais iremos admitir, mas nos sentimos sozinho e queremos a apreciação pública, não pelo que somos, mas pelo que temos e aparentamos. Por isso usamos a nossa imagem, como produto, agora mais do que nunca, para atrair a atenção alheia. 

Estamos viciados em redes socais, em publicações e postagens, em fotos, em selfeis, em mostrar aos outros o que fazemos, a onde estamos, com que estamos, nosso vocabulário está cada vez mais pobre, palavras repetidas, poucos de nós sabemos nos expressar, falta conteúdo, informação e conhecimento. 

Nunca tivemos tanta informação e nunca fomos tão pobres de cultura como somos agora. 

Nunca vi uma sociedade tão indiferente a cultura, a arte, a política, nossas músicas, em suas maioria, as que fazem sucesso, são de péssima qualidade, mas nos faz balançar o corpo e atrofiar a mente, mas quem quer mesmo pensar? Só queremos nos divertir. Isso nos basta. 

Nossa atuação política é mirrada, nosso interesse por causa socais e coletivas é pouca, nossa vontade de mudar o mundo, menor. Os poucos que somos, somos loucos. 

Estamos distraídos, como disse Mário Sérgio Cortella. Tudo acontece, mas preferimos as vitrines das redes sociais para expor a nossa vida, nos tornamos produtos de consumo, no dizer Bauman, as pessoas consomem as vidas umas das outras, naquilo que chamaria de cultura banal ou inútil. 

Como cantou Caetano Veloso, “eu quero aproximar o meu cantar vagabundo, daqueles que velam pela alegria do mundo”, aos que ainda desejam um mundo melhor, escrevo e solto meu pensamento. 

Malhamos o corpo, mas mirramos a mente, numa verdadeira microcefalia intelectual. 

Sinto falta de intelectuais como Jean Paul Sartre, de compositores como Chico Buarque, de mulheres como Leila Diniz, de cineastas como Wood Allen, de poetas como Leminsk, sinto falta da resistência, dos movimentos de vanguarda, do ativismo nas ruas, sinto falta das conversas de cunho político, artístico e filosófico, sinto falta da vida, do viver, de um mundo vivo. 

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Não me importo mais, não deixei de gostar, só deixei de querer

Não me importo mais, não deixei de gostar, só deixei de querer
Ronaldo Magella 08/12/2015


O meu gostar já não faz mais barulho nem pede a tua atenção, já não me importo se você me olha ou me chama no WhtaSaap, quando você passa perto de mim meu coração acelera, mas meus olhos não te buscam, minhas saudades e a falta que sinto já não me fazem sofrer e nem chegam a me incomodar, penso em tudo que vivemos, suspiro e sigo em frente, não deixei de gostar, só deixei de querer. Fechei as portas e tranquei as janelas, me encontrei em outro coração, pedi socorro a outra alma para curar as feridas que você deixou abertas e sangrando, me curei, me salvei, me coloquei em pé e me pus a caminhar outra vez,  levando você dentro de mim, comigo, no meu coração, com um carinho e um amor que você nunca irá entender, mas também trouxe comigo suas palavras duras, difíceis, sua frases sinceras, suas mentiras reais, que até hoje oscilam dentro de mim. Se digo que não me importo, minto, se digo que não quero mais, não é toda a verdade,  sou sincero ao dizer que gosto e vou gostar sempre, e isso você nunca irá entender, nem perceber, mas quer saber, não importa mais o que sinto, só o que vivo, estou a viver, o que sinto, sinto, apenas e isso me basta, o que vivo, vivo, e você há muito deixou a minha vida para em outras vidas viver, espero que esteja feliz, sim, sinto a sua falta e sempre irei sentir, só que não te quero mais, não é desejo, nem é saudade, sinceramente, não é verdade. 

É o teu jeitinho que me conquista

É o teu jeitinho que me conquista

Ronaldo Magella 08/12/2015


Gosto do seu sorriso leve que vai acontecendo como a manhã que chega ou a noite que vai caindo, adoro seus passos firmes e o seu silêncio alto, a forma como você passa por todos sem ser percebida, notada ou causar olhares, discreta, é esse teu jeito que me conquista e me prende, é como se o mundo não importasse pra você e aqueles que estão ao seu redor não despertasse a sua atenção, talvez seja apenas esse teu jeito quieto e calado de ser que me fascina, a tua maturidade de observar as coisas, pessoas, a vida e nada falar, mas há uma ternura em você, um jeito doce, meigo, um olhar profundo e terno, isso me encanta, seduz, sei que passarei a vida toda distante, de longe, observando seus passos e sentindo a sua presença, buscando o seu olhar e procurando o seu cheiro, apreciando o seu jeito e pensando nas tuas maneiras, sei tantas coisas e não sei de nada, sei que é o teu jeitinho que me conquista, sem intenções, é como admirar um quadro, a gente passa a vida olhando pra tela, pras cores, pra imagem, sonhando, imaginando, sente uma emoção, cria um afeto, mas sabe que não pode ir além de olhar, observar, apreciar, ver, é assim, sou como um apreciador a tua beleza, não a física, mas a tua alma, do seu ser, da tua forma de viver, da tua mudez que me diz muito, do estilo, como se eu sentisse falta das coisas que nunca tive, das conversas que nunca tivemos, do momentos que nunca iremos ter, deve ser isso que chamam de ilusão, fantasia, utopia, é, deve ser.