terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Quero gentes

Quero gentes

Ronaldo Magella – jornalista, poeta, escritor – 29/12/2015

Não quero mais pessoas vitrinas, lindas e perfeitas, quero gente com defeitos, gente de carne e osso, gente que erra e pede desculpas, gente que pisa na bola, gente com foto feia, gente sem filtro, gente sem maquiagem.

Quero gente que feda e morra como todo mundo, gente que chora e sente solidão, que gente se perde e  se acha, se engana e se maltrata, gente que não seja um livro de autoajuda sempre uma frase na mão para te consolar, gente com uma solução pra tudo e pra todos.

Quero gente sem palavras e com dor, gente calada e gente ferida, gente que se quebra e se emenda, que vai e volta, que sabe se abrir e se fechar, gente comum, normal, gente que nunca precisa ser vista, nem aparecer, gente que anda, pensa e caminha, pensa em ir e deseja um dia voltar.

Quero gente com casca e dentro do buraco, fora da caixa, longe do círculo, não quero gente de parque de diversões, sempre feliz, contente, são os defeitos que nos tornam humanos, são as lágrimas que dizem do que somos feitos, de sentimentos e emoções.

Quero gente da margem, estranha, gente boiando, querendo se encontrar e sem saber o que fazer de si mesmo, quero gente que ame e morra de amor, gente confusa e atrapalhada, gente com graça e sem graça, gente doente, com a cara limpa e a roupa suja, gente distraída e bacana, gente legal e artista.

Gente com tédio e preguiça, gente chata e cara, invisível, gente à toa, de boa, de bobeira, de beira, nas beiras, gente fresca, gente de pensar torto e punho reto, que desce ladeira e corre louco, gente fina e grossa, gente fria e quente, quero gente, não importa, quero gente.

Gente com defeitos, de efeitos, de peito, de coragem, com medo, alta e baixa, feia e bonita, surda e muda, gente pra gente, da gente, quero gente, gente, com juízo, sem juízo, livre e apaixonada, presa e solitária, acompanhada, gente que é multidão, gente que é única, gente que é igual a gente, gente. 


segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Você está fazendo falta

Você está fazendo falta
Ronaldo Magella

Até pensei que seria fácil e que iria tirar de letra sem você na minha vida, mas foi só acordar na primeira segunda-feira sem o seu bom dia no meu WhatSaap para perceber o vazio que você deixou, a falta que você faz, a saudade que sinto de você.

E se você me perguntar, digo, simples, gosto de você.

Achava que realmente era o melhor terminar e deixar a vida correr e buscar em outros braços um novo amor encontrar, mas a verdade é que aprendi a gostar de você, a viver em seus abraços e provar dos seus beijos, agora sei bem o que sinto e o que quero, quero estar com você.

Foi só passar as horas e ver que você não me chamava mais pra ir te ver que percebi que já estava acostumado com o seu chamado e estava gostando de ir te deixar todo dia no trabalho, ir te pegar, me entregar a você, fazer parte da sua vida.

Agora é o teu silêncio que fala mais alto, posso até amanhã nem ligar mais, nem me importar, ou te esquecer, deixar de gostar, posso amanhã nem te querer mais, mas hoje está doendo em mim, sem você aqui dói e muito, sinto, sinto.

Você está fazendo falta, é fácil perceber isso, nem eu mesmo sabia, nem eu mesmo queria que fosse assim, mas é o que está se passando agora na minha cabeça, a lembrança dos nossos momentos, a vida que tivemos juntos, a história que foi se erguendo ao tempo que estávamos juntos.


Já nem sei mais o que te dizer, falar, apenas sei sentir essa coisa ruim que está dentro de mim e que nem o café mata, só irá morrer com o tempo, ou quando um dia algo novo acontecer, por enquanto é você quem está mexendo comigo e irá ficar aqui do meu lado, dentro de mim, no meu pensamento, me consumindo. 

domingo, 20 de dezembro de 2015

Chuva que é de UVA DORGIVAL



Chuva que é de UVA DORGIVAL

O cantor e compositor Dorgival Dantas declarou em um vídeo que Luiz Gonzaga, Dominguinhos e Marinês nunca fizeram pelo forró o que Xandy, do Aviões do Forró, fez, levando o estilo para outros patamares.

Talvez uma dessas declarações ao sabor do momento, infelizes e desconfortáveis, um momento de imprudência, podemos assim classificar.

Realmente, Dorgival tem razão, hoje o forró vive em outros níveis, sem letras, ou com letras pornográficas, Luiz, Dominguinhos, e tantos outros percussores do forró cantavam o Nordeste e sua cultura, hoje se canta o bolso cheio de dinheiro, uísque e redbul, novinha que vai ao chão, chão, chão.
Quanta riqueza.
Nelso Motta, jornalista, compositor, escritor, roteirista, produtor musical e letrista brasileiro.em matéria ao Jornal da Globo, em sua coluna musical, disse que Luiz Gonzaga levou a música nordestina para o mundo, com sua riqueza de ritmos e suas letras divertidas e irreverentes.

Para Motta o Rei do Baião é reverenciado pela MPB nacionalista, sendo ainda referência fundamental para o movimento Tropicalista, de Gil e Caetano e tantos outros artistas consagrados do Brasil.
Elba Ramalho canta Luiz, Caetano Veloso canta Luiz, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Gal Costa, Lenine, Marisa Monte, a obra de Luiz Gonzaga recebeu inúmeras releituras e interpretações, por artistas consagrados em diversas partes do mundo.

Mito, ícone da cultura nordestina e da música do Brasil, e olha que estou falando apenas de Gonzaga, não se pode negar o valor e a história desse personagem ímpar da Música Popular do Brasil.

Gonzaga cantou forró, xote e baião, foi o primeiro de uma leva de bons instrumentistas e sanfoneiros na história do país, incomparável, estilo único e inigualável. Se pode até dizer que discriminado por ser negro e nordestino, que em vida talvez não tenha tido o valor que foi merecido e digno, o sucesso, mas a sua musicalidade não tem fronteiras, a sua riqueza não tem parâmetros.

De longe, de muito longe, o forró atual, esses que lotam festas e praças, que falam de rapariga e motel, em ostentação, não poderá ser comparado ao que se fez no passado.
Sim, outro tempo, outra história, outro momento, outra geração, mas pobre essa a qual estamos presenciando e vivendo no momento, que poderia ser mais rica, mas se deixa empobrecer pelo mercado do consumo de música sem qualidade, produtos de menor qualidade e valor.


Gonzaga é cultura, é arte, é a força do povo Nordestino que enriquece o Brasil com sua sonoridade, o forró atual, o que temos hoje, é moda, é indústria, é dinheiro, é show, é massa, é batida eletrônica. 

Todo amor novo é estranho, mas acaba por ficar, como roupa nova

Todo amor novo é estranho, mas acaba por ficar, como roupa nova

Ronaldo Magella – jornalista, professor, escritor, poeta, tem livros publicados.

Todo amor novo é como um sapato novo ou uma camisa que você adora no momento em que vai provar, põe os olhos, vê e diz, quero essa, ah ficou perfeito, vai servir, adorei, vou levar, mas chegando em casa você fica meio desanimado com a aquisição, arrependido, percebe que não era bem o que você queria, a outra que ficou na loja era melhor, bem melhor mesmo era ter comprado o outro sapato.

Mas o tempo passa e logo você começa a se apaixonar e percebe que fez a escolha certa, as pessoas elogiam a sua roupa nova e perguntam a onde você comprou e você passa a sentir uma pontinha de orgulho e desata a falar do seu amor novo com uma exuberância impar, com a maior felicidade do mundo.

Demora um pouco pra gente se acostumar com um novo amor, é estranho, a gente sente falta do anterior, faz comparações, acha e pensa que não vai conseguir se acostumar, sente calo, não serve, fica apertado ou folgado demais, mas você fica meio que por ali de relance tentando se encaixar e entender como você tudo pode funcionar melhor.

É um trabalho de paciência e persistência, de decidir, de ter coragem de tentar e de aceitar o outro e suas diferenças, com o tempo as coisas vão se encaixando e um dia, quando você menos espera, percebe que está sentindo falta e quer estar junto, pronto, agora é o sapato que você mais adora, é a sua calça preferida, sua camisa de estimação, sua roupa de sair.


quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Não era pra ser e foi melhor assim

Não tinha que ser e foi melhor assim

Ronaldo Magella – jornalista, professor, escritor, radialista

Sempre bate aquela sensação de pior a coisa do mundo, de fracasso e, poxa, outra vez, você pensa,  mas depois que o tempo passa sempre vem aquele pensamento que tinha quer ser como foi, ou melhor, como não foi, não tinha que ser e foi melhor assim.

O seu amor não correspondido, o seu sentimento negado, a sua paixão jogada no lixo, a sua vontade ignorada, o desejo reprimido, injustiça, talvez, ou não, o mundo que não te entende, as pessoas que não te conhecem e se você pudesse mostrar como é bonito o que pensa e sente, mas não há espaço, ninguém quer saber ou te deixar demonstrar, mas quer saber, não tinha mesmo que ser e foi melhor assim.

E foi volta pra casa, deita e acaba sorrido sozinho olhando pra teto, afinal, amanhã é outro dia e não foi tão ruim assim receber um não, olhe pelo lado positivo, se é que há algum, agora pelo menos você sabe que aquela pessoa não reconhece seus valores nem é digna de você, você meio que se sente vítima do mundo, mas enfim, realmente, não tinha quer ser e foi melhor assim.

Vão-se se os anéis, ficam-se os dedos, mais uma história pra contar, outra experiência mal sucedida, olha a graça da coisa, agora pelo menos, agora você sabe que bilhetes de amor não funcionam, flores não encantam, suas músicas não é o que ela quer ouvir, seus filmes ela nunca viu, sua letra é horrível e suas frases de amor não amolecem e nem derretem uma vela velha qualquer.


Quer saber cara, salve o poeta Mário Quintana, não corra atrás das borboletas, antes enfeite o teu jardim, flores, rosas, que elas lá irão pousar, é isso, se cuida, cuide de si, o destino não se força, ele acontece, não force, apenas, como te disse uma amiga, vai fazendo tuas coisinhas, um dia alguém te acha e te descobre, enquanto isso você se torna mais lindo. 

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Relações sem afeto e sem carinho: o medo de se entregar

Relações sem afeto e sem carinho: o medo de se entregar
Ronaldo Magella – jornalista, professor, escritor, poeta, tem livros publicados

Venho percebendo que os casais modernos não são afeitos a carinhos e afetos, a sensação que tenho é que há uma certa indiferença no ar com relação ao outro, barreiras invisíveis ou apenas um nova forma de se relacionar.

Vejo casais mudos, outros que não se tocam, não andam de mãos dadas, nem trocam beijos em público, nem pequenos gestos de carinho, talvez seja vergonha, sim, não há necessidade, é, mas, talvez eu esteja errado, sim, quero muito estar errado, mas também penso nas minhas relações.

Há um medo de se entregar ao outro, somos inseguros, não queremos demonstrar sentimentos, preferimos o distanciamento, criar barreiras, falar pouco, sentir menos ainda, sufocar, prender, tudo com medo de sofrer, não confiamos no outro, em mais ninguém.

Sim, sou mole, piegas, romântico, chato, idiota, sensível, mas não quero fazer parte dessa nova roupagem, de nova forma de conviver. Não pode ser meloso, o outro não gosta, não pode mandar flores, ela não gosta, não pode chamar de amor, é brega, não pode nada, não pode ser romântico, não pode nem gostar, é tudo artificial e maquinal.

Só podemos fazer uso do corpo, beija bem, transa legal, tem pegada, faz gostoso, isso agora justifica as nossas escolhas, mas e depois? Depois do beijo, da transa, da pegada, do gostoso, o que fica de nós, pra nós, em nós?

As pessoas tendem a gostar de quem não gosta delas, é estranha é essa forma de sentir e perceber a vida, as relações. Se você é indiferente, a pessoa se apega, se você tenta ser carinhoso e sensível, ela abusa de você, já escutei isso de uma ex-namorada, que afirmou que o meu problema foi gostar demais, pode isso? Sério?

Desculpem, ainda erro e vou continuar errando por ser intenso, por sentir e demonstrar, por escrever bilhetes e mandar flores, por fazer surpresas e comprar chocolate, se alguém não gosta, pode escolher algo diferente, se alguém preferi, seremos felizes, não mudar a minha essência, coisas boas e eternes, amar e mudar as coisas, isso me interessa mais.


quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Microcefalia intelectual : a nossa grande geração perdida

Microcefalia intelectual : a nossa grande geração perdida

Ronaldo Magella – jornalista, professor, escritor, poeta, radialista, tem livros publicado

A gente sofre por muitas coisas, pensar é uma delas, dói pensar, chego até a admitir que a ignorância é uma prática saudável nos dias de hoje diante de tanta alienação e indiferença da sociedade.

Nunca houve uma sociedade tão hedonista e narcisista, a busca pelo prazer desenfreável e a necessidade de parecer belo, ser admirado e cortejado de forma constante por uma massa anônima e sempre ávida por novidade e futilidades. 

Somos carentes. Jamais iremos admitir, mas nos sentimos sozinho e queremos a apreciação pública, não pelo que somos, mas pelo que temos e aparentamos. Por isso usamos a nossa imagem, como produto, agora mais do que nunca, para atrair a atenção alheia. 

Estamos viciados em redes socais, em publicações e postagens, em fotos, em selfeis, em mostrar aos outros o que fazemos, a onde estamos, com que estamos, nosso vocabulário está cada vez mais pobre, palavras repetidas, poucos de nós sabemos nos expressar, falta conteúdo, informação e conhecimento. 

Nunca tivemos tanta informação e nunca fomos tão pobres de cultura como somos agora. 

Nunca vi uma sociedade tão indiferente a cultura, a arte, a política, nossas músicas, em suas maioria, as que fazem sucesso, são de péssima qualidade, mas nos faz balançar o corpo e atrofiar a mente, mas quem quer mesmo pensar? Só queremos nos divertir. Isso nos basta. 

Nossa atuação política é mirrada, nosso interesse por causa socais e coletivas é pouca, nossa vontade de mudar o mundo, menor. Os poucos que somos, somos loucos. 

Estamos distraídos, como disse Mário Sérgio Cortella. Tudo acontece, mas preferimos as vitrines das redes sociais para expor a nossa vida, nos tornamos produtos de consumo, no dizer Bauman, as pessoas consomem as vidas umas das outras, naquilo que chamaria de cultura banal ou inútil. 

Como cantou Caetano Veloso, “eu quero aproximar o meu cantar vagabundo, daqueles que velam pela alegria do mundo”, aos que ainda desejam um mundo melhor, escrevo e solto meu pensamento. 

Malhamos o corpo, mas mirramos a mente, numa verdadeira microcefalia intelectual. 

Sinto falta de intelectuais como Jean Paul Sartre, de compositores como Chico Buarque, de mulheres como Leila Diniz, de cineastas como Wood Allen, de poetas como Leminsk, sinto falta da resistência, dos movimentos de vanguarda, do ativismo nas ruas, sinto falta das conversas de cunho político, artístico e filosófico, sinto falta da vida, do viver, de um mundo vivo. 

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Não me importo mais, não deixei de gostar, só deixei de querer

Não me importo mais, não deixei de gostar, só deixei de querer
Ronaldo Magella 08/12/2015


O meu gostar já não faz mais barulho nem pede a tua atenção, já não me importo se você me olha ou me chama no WhtaSaap, quando você passa perto de mim meu coração acelera, mas meus olhos não te buscam, minhas saudades e a falta que sinto já não me fazem sofrer e nem chegam a me incomodar, penso em tudo que vivemos, suspiro e sigo em frente, não deixei de gostar, só deixei de querer. Fechei as portas e tranquei as janelas, me encontrei em outro coração, pedi socorro a outra alma para curar as feridas que você deixou abertas e sangrando, me curei, me salvei, me coloquei em pé e me pus a caminhar outra vez,  levando você dentro de mim, comigo, no meu coração, com um carinho e um amor que você nunca irá entender, mas também trouxe comigo suas palavras duras, difíceis, sua frases sinceras, suas mentiras reais, que até hoje oscilam dentro de mim. Se digo que não me importo, minto, se digo que não quero mais, não é toda a verdade,  sou sincero ao dizer que gosto e vou gostar sempre, e isso você nunca irá entender, nem perceber, mas quer saber, não importa mais o que sinto, só o que vivo, estou a viver, o que sinto, sinto, apenas e isso me basta, o que vivo, vivo, e você há muito deixou a minha vida para em outras vidas viver, espero que esteja feliz, sim, sinto a sua falta e sempre irei sentir, só que não te quero mais, não é desejo, nem é saudade, sinceramente, não é verdade. 

É o teu jeitinho que me conquista

É o teu jeitinho que me conquista

Ronaldo Magella 08/12/2015


Gosto do seu sorriso leve que vai acontecendo como a manhã que chega ou a noite que vai caindo, adoro seus passos firmes e o seu silêncio alto, a forma como você passa por todos sem ser percebida, notada ou causar olhares, discreta, é esse teu jeito que me conquista e me prende, é como se o mundo não importasse pra você e aqueles que estão ao seu redor não despertasse a sua atenção, talvez seja apenas esse teu jeito quieto e calado de ser que me fascina, a tua maturidade de observar as coisas, pessoas, a vida e nada falar, mas há uma ternura em você, um jeito doce, meigo, um olhar profundo e terno, isso me encanta, seduz, sei que passarei a vida toda distante, de longe, observando seus passos e sentindo a sua presença, buscando o seu olhar e procurando o seu cheiro, apreciando o seu jeito e pensando nas tuas maneiras, sei tantas coisas e não sei de nada, sei que é o teu jeitinho que me conquista, sem intenções, é como admirar um quadro, a gente passa a vida olhando pra tela, pras cores, pra imagem, sonhando, imaginando, sente uma emoção, cria um afeto, mas sabe que não pode ir além de olhar, observar, apreciar, ver, é assim, sou como um apreciador a tua beleza, não a física, mas a tua alma, do seu ser, da tua forma de viver, da tua mudez que me diz muito, do estilo, como se eu sentisse falta das coisas que nunca tive, das conversas que nunca tivemos, do momentos que nunca iremos ter, deve ser isso que chamam de ilusão, fantasia, utopia, é, deve ser. 

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Não podemos esquecer

Não podemos esquecer
Ronaldo Magella 18/11/2016

Lamentar, sim, as mortes na França, mas não podemos esquecer.

Nós, os ocidentais, dízimos tribos de índios.

Conquistamos povos e matamos suas culturas

Explodimos duas bombas atômicas.

Escravizamos povos, negros.

Promovemos o empobrecimento de milhares em detrimento do enriquecimento de poucos.

Queimamos mulheres nas praças públicas.

Instalamos ditaduras sangrentas e violentas na América Latina.

Perseguimos e matamos judeus.

Lutamos duas grandes guerras mundiais.

Matamos no trânsito, por um celular ou por um par de tênis .

Realizamos cruzadas e matamos, também, em nome de Deus.

Em nome de Deus silenciamos e sufocamos liberdades.

Em nome de Deus mentimos e corrompemos.

Não podemos esquecer, cortamos árvores.

Poluímos rios.

Devastamos florestas.

Nos enchemos de carros, poluição e tecnologia.

Extinguimos espécies inteiras de animais.

Nós também matamos.


Lamentar, sim, as mortes na França, mas não esquecer o terrorismo que já praticamos, como se nunca em nossa história tivéssemos cometidos atrocidades contra povos, pessoas, o planeta, a vida. 

Sua namorada e a TPM

Sua namorada e a TPM
Ronaldo Magella 17/11/2015

Sua namorada enfia uma faca no seu pescoço, não foi ela, é a TPM.

Você diz oi, sua namorada chora, TPM.

Você pergunta se ela quer sorvete, ela diz que você é um idiota, TPM.

Você diz bom dia amor, ela pergunta se você quer acabar, TPM.

Você sorrir pra sua namorada, ela diz que nunca gostou dela, TPM.

Sua namorada coloca veneno na sua sopa, TPM.

Sua namorada diz que não te ama mais, TPM.

Sua namorada passa três diz sem falar com você, TPM.

Sua namorada te dá um calço, TPM.

Sua namorada trai você com o leiteiro, TPM.

Sua namorada esquece você em Marte, TPM.

Sua namorada te obriga a anda cinco quilômetros para comer um sanduiche, mas só come a metade, TPM.

Sua namorada te troca pelo vizinho, TPM.

Sua namorada esquece o seu aniversário, TPM.

Sua namorada diz que nunca gostou de você, depois de dez anos, TPM.

Sua namorada diz que te odeia e que te acha um idiota, TPM.

Sua namorada manda você pra merda, TPM.

Sua namorada passa com o carro por cima de você, TPM. 

Sua namorada diz que não dá mais, TPM.

Sua namorada diz que está sufocada, TPM.

Sua namorada diz que quer casar, TPM.


Sua namora nunca tem culpa de nada, é sempre a TPM, depois, se você estiver vivo, se não for queimado, envenenado, eletrocutado, esquecido, magoado, tudo volta ao normal, é questão de tempo, até lá, TPM.

Você diz que ama a sua namorada, ela pergunta se você está com TPM. 

De marte, prazer, Ronaldo.

De marte, prazer, Ronaldo.
Parte I
Ronaldo Magella 17/11/2015

Não sei ser normal, até tento, constrangido, meio de lado, mas não consigo. Sou de Marte, podem apostar nisso.

Não sei conversar sobre futebol, até tentei por um bom tempo entender para ter o que conversar com os caras, mas não rolou, sou um fracasso em matéria de esportes. Não contem comigo.

Nunca fui o primeiro a ser escolhido na pelada, nem no time de vôlei, sempre fui o cara completa na falta de alguém. Falta um, ah, chama Ronaldo. Decepção.  

Não fui o melhor da classe, nunca tirei um dez na minha vida, eu tinha outros interesses, mas isso não vem ao caso.

Sim, minha infância foi traumática, e isso me rendeu anos de terapia depois dos 18 anos e ainda me curei.

Aos onze anos eu comecei a ouvir o punk rock do Titãs, na época era o disco Cabeça de Dinossauro, e As Quatro Estações do Legião Urbana. Foi aí que comecei a me distanciar da massa, do popular.

Não gosto de nada que faça meio sucesso no momento, não ouço pagode, nem forró, nem sertanejo, nem gosto de balada. Realmente também não sei o que estou fazendo nesse mundo.

Há uma cena no filme Sherlok Holmes, o primeiro, quando ele diz, “não há lada lá fora que me interesse”. Me sinto assim. O mundo está muito colorido.

Aos 15 passei a ler e não parei mais. Aprendi com Machado de Assis e José de Alencar, Manoel Joaquim de Machado, Jorge Amado e José Lins do Rego, não havia A Culpa É Das Estrelas, nem nada sobre vampiros que brilham no sol, os meus vampiros tinham hábitos noturnos.
É, muita coisa mudou.

Não sei ser simpático, eu tento, mas sou um fracasso.

Não sei conversar sobre coisas banais ou simples, acho meio sem graça falar sobre as funções do meu novo celular, ou sobre carros e suas qualificações.

Sabe as pessoas simpáticas e legais que passam horas discutindo coisas interessantes como o preço do feijão ou as funções de um aparelho eletrônico ou a reforma da casa? Pois é, não sei ser assim.


Não gosto de fazer a mesma coisa, não gostou de pensar as mesmas coisas, tenho boas intuições e elas funcionam, mas são frutos das minhas reflexões dos meus pensamentos. 

Sim, tenho um pé no lixo, ou jornalista, e isso me deixa ou me obriga a ter um pouco de normalidade na minha vida, o que muitas vezes, é um saco. 

Malbec e o fim do romantismo

 Malbec e o fim do romantismo

Ronaldo Magella 17/11/2015

É a simplicidade que encanta? É o que diz a nova propaganda do Malbec Noir, de O Boticário, se for, melhor então ser um clichê, apenas fazer parte da massa, mas isso funciona apenas para os bonitos, os feios precisam ser diferentes, mas isso não funciona mais.

Para quem ainda não viu na tv, pode procurar no Youtube.

O roteiro é simples, e meigo, um cara colhe flores no campo, sobe num helicóptero e derrama uma chuva de pétalas de rosas sobre a mulher amada, ela claro, acha lindo, sorri e sai para se molhar de rosas frescas, mas ela não está sozinha, está com alguém,  o qual convida, um cara só de toalhas que abraçado a ela  se deixam molhar pelas flores, e por fim o cara romântico no céu com cara triste, e termina o comercial com a frase, “não dificulte o que é simples”.

O comercial sugere vários sentidos, primeiro, ninguém mais se importa com romantismo, não importa flores, presentes, joias, esse tempo já era, claro, alguém sempre irá dizer, pra mim importa, mas enfim.

O segundo sentido é, não importa o que você faça, não precisa ser diferente, interessante, inteligente, ou seja, se esforçar para sair da caixa, no fundo as pessoas querem clichês, ou seja, gente bonita, sem essa de conteúdo, melhor uma tábua decorada, um poste que brilha do que um caixa com livros.

O terceiro sentido, o cara com o Malbec era mais bonito do que o cara da chuva de flores. Preciso explicar isso?

A propaganda fere um pouco com os românticos, homens sensíveis, mas talvez ela exponha apenas uma simples realizadade, não adianta conquistar quem não quer se conquistado ou quem não tem interesse em se apaixonar por você.


Você irá tentar de todas as formas agradar, ela te chamará de fofo, meigo, lindo, especial, mas no fundo isso não quer dizer nada, não importa, nem adianta insistir.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

As pessoas dos sonhos

As pessoas dos sonhos

Ronaldo Magella 16/11/2015

Passei sete anos da minha vida apaixonado por uma loira linda e perfeita que morava na rua, discreta, elegante, interessante, inteligente, reta, um ideal de mulher, pensei que nunca iria esquecer aquele rosto, aquela forma, aquele jeito. Pensei.

O tempo passou, conheci outras pessoas, me apaixonei outras vezes, mas sempre, vez por outra, a trazia na lembrança, era um sentimento marcado e marcante, até pensei que fosse dessas histórias que a gente vive na infância e se reencontra lá na frente para viver pra o resto da vida algo que no passado não foi possível. Pensei.

Com o tempo as pessoas vão se tornando passado em nossas vidas, como fumaça que vai se dissolvendo no ar, pelo ar, com o ar, e tudo que até tenha tinha um cor, cinza, começa a ser e ficar transparente, se espalhando, indo, deixando de ser. É quando a gente percebe que a vida muda, algumas pessoas andam, outras somem, seguem, morre, desaparecem, outras ficam, vão, passam, muitas já nem fazem mais tanto efeito ou afeto como aconteceu no passado.

Outro dia encontrei minha paixão da infância no Facebook. Surpresa. Ela lembrava de mim, me achou diferente, maduro, mudado, claro, não sentia mais a mesma coisa, mas queria saber como teria sido se houvesse sido real, verdadeiro e concreto. Não conversamos muito, em pouco tempo percebi que a minha paixão havia sido uma idealização, ela não era a pessoa que havia sonhado um dia.

Não havia mais inteligência, nem beleza, nem encantamento, não encontrei a perfeição que um dia pensei que houvesse, achei apenas ali um mulher normal, superficial, insegura, conversadora, medroso e normal. Não sei se o tempo a fez mudar ou se o tempo me fez perceber algo que antes não havia natado.


Lembrei-me de Caetano Veloso, de perto ninguém é normal, diria mais, de perto, ninguém é como pensamos. 

Um adeus, talvez, temporário, quem sabe, eterno

Um adeus, talvez, temporário, quem sabe, eterno

Ronaldo Magella 16/11/2015

Decidi sair das redes sociais. Já havia cancelado minha conta no Instagram, e agora decido me afastar do Facebook e excluir o meu WhatSaap.

O mundo se tornou um lugar muito barulhento, as pessoas estão gritando o tempo todo nas redes sociais, acabei ficando surdo e agora ficarei mudo. Há muita propaganda individual, muita exposição e exibição.

Como diz Pondé, o bem é sem discreto e silencio e entra pela fresta da porta, não faz alarde ou algazarra.

Talvez alguém ainda me encontre por aqui, no blog, postando um ou outro texto, uma crônica qualquer, mas por enquanto, no momento, a minha decisão é sair do barulho e me concentrar em outras coisas que o tempo digital me consumia.

Preciso de silêncio, de um momento, como dizem, de ficar em off. Talvez um dia volte, talvez me acostume com a vida real, talvez amanhã eu decida voltar, semana que vem ou daqui a algumas horas, mas devo confessar com estou bem e aliviado em não perder mais tempo sabendo da vida dos outros e publicando o que penso.

Só pra deixar claro, acho que ninguém se interessa pelo que eu penso, escrevo ou sinto. Mas para quem venha a ler e possa ler, ainda sinto e muito, mas prefiro me afastar e calar.

Não é uma decisão fácil, é como lutar contra um vício, primeiro em abstinência, depois as recaídas, aquela vontade de postar algo que se pensou ser interessante, o desejo de compartilhar com o mundo coisas, mas é preciso entender que muita gente já faz o mesmo e você não precisa fazer a mesma coisa.


Volto aos livros agora, as coisas simples do cotidiano, mantenho o foco em outras coisas, a vida voltou a ser mais lenta e silenciosa, não sinto falta de tanta informação pessoal e egoísta. Quem gosta de mim saberá onde me achar, encontrar e o caminho mais curto para me decifrar. 

Abraço. 

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

O gosto pelo grotesco e banal na cultura do Brasil

O gosto pelo grotesco e banal na cultura do Brasil

Ronaldo Magella - Jornalista

Seria irônico se não fosse triste e lamentável, mas o abismo cultural parece sem fim e longe de um final.

Nossos programas são de culinárias, nossas notícias são sobre famosos sem maquiagem, nossa diversão é acompanha pela tv pessoas confinadas, nossa a vida agora é nos expor nas redes sociais, eis um esboço do que estamos a viver e termos de arte e cultura.

A recente discussão na mídia sobre a separação de Joelma e Chimbinha, da banda Calypso, reflete e demonstra o atraso cultural ao qual estamos submetidos.

Os jornais, sites e meios de comunicação acompanharam a novela como se ali estivessem os últimos representantes da nossa qualidade musical e a separação era o maior evento digno de registro na cena cultural da sociedade brasileira dos últimos anos.

Não se discutia a qualidade musical, nenhuma genialidade artística, nenhum traço de vanguarda, nenhuma criatividade exuberante, apenas se noticiava uma separação, com tintas de tragédia e tons dramáticos.

Algo meio profético, a música brasileira antes de depois da separação de Joelma e Chimbinha, a maior banda do início do século XXI, chegou ao fim, depois que os seus integrantes brigaram, e a música brasileira perdeu um dos seus mais expoentes grupos musicais.

Deverão anunciar os livros de história daqui a alguns anos, nos lembrando da nossa riqueza artísticas desse início de século.

E pensar que há quase sem anos tínhamos a Semana de Arte Moderna no Rio de Janeiro.

O mundo tornou-se um ambiente, como diz uma amiga, tírneo, para não dizer negro, vamos falar em cinzas, melhor, mas vivemos uma época cada vez mais idiota e imbecil, cheio de superficialidade e discussões infantis e pueris.

Não há mais poetas, gênios, artistas, revolucionários, a coisa mais revolucionária dos últimos tempos é mudar a cor do perfil do seu Facebook e saber quem visitou o seu perfil no Twitter.

Ah, claro, há outras coisas interessantes, promovidas claro, pelo Facebook, na qual você saber da sua evolução fotográfica, pelas inúmeras fotos publicadas e postadas na rede, como você pode também saber com qual animal você combina mais ou se parece.

É pra chorar, como dizem, dói, gostaria até de rir, se não sentisse uma angústia latente dentro de mim ao perceber que a agora nossa cultura é postar tudo que fazemos e a nossa arte é tornar nossas fotos mais bonitas através de efeitos.

Estamos pobres e nunca estivemos são carentes de arte, cultura, música e movimentos sociais intensos de históricos.

A promoção em massa de fatos como o mencionando acima, da separação, e o acompanhamento por parte do público, ávido e voraz, sem nenhuma reflexão ou posição, mostra que estamos cada vez mais perdidos e sem rumo, e talvez o pior é que não queremos nos encontrar, há um certo gosto pelo grotesco e pelo banal.

Joelma tinha razão em chorar e a mídia tinha até obrigação em noticiar, pois o tempo ao qual vivemos estão cheios de lágrimas e vazios de nobreza.


quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Não sei viver sem meu lençol


Não sei viver sem meu lençol

Ronaldo Magella 11/11/2015 – Jornalista, escritor, poeta, professor.

Das poucas coisas que sobraram da minha infância, meu mulambo continua comigo.

Meu lençol já foi para Brasília, para o Rock In Rio, para quase todas as capitais do Nordeste, não sei dormir sem estar agarrado ao meu pedaço de pano.

A namorada até pode insistir para que eu durma do lado dela, ela pode me fazer todos os carinhos, mas sem o meu lençol não fico, não dá, prefiro ir pra casa.

Tem o meu cheiro, tem o meu jeito, é macio, é gostoso, é meu, faz parte de mim, é o meu sono.
Acho que todo mundo tem algo a qual se agarra durante toda a vida, no meu caso, é o meu lençol.
Odeio quando é lavado, nossa, fico pra morrer.

É estranho o lençol limpo, cheirando a sabão em pó e amaciante, mas com o tempo, pouco tempo, ele volta ao normal e ganha novamente a textura e o sabor de sempre.


Tem gente que chama de cheiroso, mulambo, cobertor, enfim, qualquer nome que se dê, mas o fim é sempre o mesmo, cheira, colocar na cabeça, ficar ali parado, pensando, quase dormindo com ele consolando os nossos pensamentos. 

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

O desencantamento com as pessoas

O desencantamento com as pessoas

Ronaldo Magella 04/11/2015

A gente tem o péssimo hábito de idealizar e fantasiar as pessoas.

Tem muita gente que gosto de graça, conheço apenas de vista, acho que poderia render uma boa conversar, penso que teríamos bons momentos, mas nem sempre é assim.

De perto muitas vezes ninguém é como imaginamos. A realidade por nos desencantar.

Algum tempo atrás andava meio encantado por uma moça, apenas nos cumprimentávamos, coisa pouca.

Mas, quanto mais distante, mais a gente sonha. E a vida prosseguia, enquanto eu sonhava.

De longe, olhava e alimentava um desejo contido, mas permanente, esperando o momento de me aproximar.

Até que um dia tivemos a oportunidade de ficarmos próximos, numa roda de conversa, e foi ali, naqueles poucos momentos, que a minha desilusão se fez presente, ela não era nada do que eu sonhava ou imaginava, perdi o encanto, a vontade, a motivação.

Assim como existe amor à primeira vista, deve existir desamor após o primeiro contato.

Se algumas pessoas têm o poder de nos desencantar, há outras que podemos nos apaixonar ao primeiro contato, mas essas a gente nunca idealizou, muitas a gente achava até que era um porre até conhecer e mudar de ideia.

A conclusão é simples, não se pode comprar um produto pela embalagem, nem pela marca, é preciso e preferível sentir o sabor, provar, ter o contato, antes de sentir.


terça-feira, 3 de novembro de 2015

Os pais preferem a doce e meiga ilusão da inocência

Os pais preferem a doce e meiga ilusão da inocência

Ronaldo Magella 03/11/2015 – Jornalista, professor, escritor, poeta, blogueiro, radialista, tomador café.

A minha independência teve início quando passei a pentear meu próprio cabelo sozinho. Um marco histórico.

Antes minha mãe lambia meu cabelo de lado, aliás, acho que toda mãe faz isso, deve um hábito universal, aí um dia você se revolta, toma o pente da mão dela e deixa seu cabelo espetado, revoltado, pronto, viva a revolução.

Depois você, que odiava ir cortar o cabelo, porque claro, sua mãe sempre ia junto e ficava olhando pra você e dizendo aquelas coisas chatas, lindinho, fofinho, e falando de você com a cabelereira, coisa mais ridícula do mundo, duas pessoas falando de você, uma cortando o seu cabelo, do jeito que você jamais quis, e ainda, discutindo a sua vida e você ali sem poder fazer nada, mas, aí, um dia você passa a ir sozinho, muda de cabelereiro, só para se afirmar, corta o seu cabelo totalmente diferente, sua mão odeia, claro, era esperado, mas continua a revolução.

Avante.

Mas talvez a revolução tenha começado antes, quando você passou a tomar banho sozinho, antes era sua mãe quem lhe banhava, agora você se tranca lá no banheiro e passa horas, ela enlouquece, mas você demora, e agora com redes sociais e whatSaap, a demora se justifica ainda.

Mãe dá um tempo.

Às vezes tenho a sensação que as mães e os pais fingem inocência.

Elas sabem o que é a adolescência, sabem o que é desejar e experimentar as coisas, sabem que os meninos e as meninas irão descobrir, mas pra viverem melhor, feliz, preferem acreditar que seus filhos nunca irão fazer nada, nem fazem.

Pura ilusão.

Pois eles esquecem que um dia tiveram a mesma sensação e vontade e que não adianta proibir ou prender, vai acontecer, com um dia aconteceu com eles, mas preferem a doce e meiga ilusão da inocência.

Acho que a função dos pais é acreditar que a gente jamais irá crescer, ainda hoje minha mãe me trata como se eu fosse uma criança, ela acha que eu não sei fazer nada, nem o café, menos ainda passar o pano na casa ou arrumar minha coisas, que coisa.


Completei minha liberdade, igualdade e fraternidade quando meu pai cansado de abrir a porta pra mim fez uma cópia da chave e me entregou, era a queda da bastilha, enfim o proletariado havia vencido e chegado ao poder, a liberdade, ainda que tardia, estava proclamada, agora é só aproveitar.