terça-feira, 11 de junho de 2013

O silêncio que me devora e me faz deixar de viver....

O silêncio que me devora

Ronaldo Magella – jornalista, professor, poeta, escritor, publicou 3 livros - 

Quando alguém próximo a nós morre, ou vai embora, sempre ficamos com aquela sensação de que poderíamos ter dito tanta coisa, poderíamos ter evitado tantas brigas, silenciado tantas palavras, realizados tantos carinhos e afetos, mas agora não é mais possível, o nosso orgulho não nos deixou ser ou dizer o que deveríamos e agora choramos, não pela perda, mas pelo remorso que nos corrói o coração, o vazio que deixamos de preencher agora não pode mais ser realizado.

Por que esse medo de dizer e fazer o que sentimos? O que nos impele a sufocar as nossas palavras, sentimentos, ações, afetos? Orgulho, medo, vaidade, imaturidade ou todas as coisas juntas? Orgulho de demonstrar a nossa sensibilidade, medo da rejeição, da incompreensão, de não ser retribuído da mesma forma, vaidade, ao nos calarmos, nos mostramos superior ao outro, o outro que diga que nos ama, mas nós, nunca que iremos fazer isso, não somos dados a sentimentalismos, somos arrogantes demais para nos mostramos humanos, o que demonstra a nossa imaturidade, pois deixamos de viver. E humanos somos de qualquer forma, morremos.

Nós preferimos calar e não viver. Roberto Carlos, em sua canção Emoções, canta, “se chorei ou se sorrir, o importante é que emoções eu vivi”, pois só se existe quem sente, quem pulsa, quem se afeta, quem chora, rir, ama, perde e ganha. Para certas filosofias orientais o que importa não é a letra, como escreveu Paulo em suas cartas no Novo Testamento, que mata, mas a experiência, o espírito, o sentimento o que vivifica, que podemos viver através do que sentimos.

Já faz algum tempo que adotei em minhas relações afetivas o seguinte critério, dizer o que sinto e penso, o que a outra pessoa irá fazer com as minhas palavras, já não é problema meu, pois de amor não morrei, mas posso ter algum trauma por não ter dito e sido o que quis ser, por sufocar o que estava a sentir, pensar. Já perdi muito tempo da minha vida com arrogância e nesse jogo infantil de superioridade barata, depois, quando o tempo passa, vem a sensação de que se poderia ter vivido melhor, e daí dizer eu te amo, estou com saudade, quero você comigo, preciso de você? Qual o problema? Medo? De que se sentimos? Sufocar o que sentimos, calar o que sentimos para outra pessoa e carregar dentro de nós?

Ainda ontem disse a alguém o quanto gostava dela, ela não respondeu, não emitiu nenhum sinal de volta, sem problemas, fiz o que devia ter feito, o tempo vai passar, ela vai perceber que fez o melhor ou que poderia ter sido diferente. Até entendo os seus motivos, delas, mas também entendo que a vida não é apenas um momento, um não, um sim, mas o passado, o presente e o futuro, não podemos deixar de viver por questões que podem ser resolvidas, e sim, todas elas podem ser, mas quando queremos, quando não, deixamos então de viver o que poderíamos.

Outro dia uma amiga me disse, luto todo dia para não ser como sou, indiferente, egoísta, vejo que isso não me faz bem, não consigo sentimentalizar as coisas, ser afetuosa, até tenho tentado, mas é muito difícil ser sensível, me abrir, deixar acontecer o que sinto, e isso não me faz bem, já percebi isso, estou deixando de viver por conta deste bloqueio as melhores coisas da minha vida.

                Não precisamos de nenhum livro para saber que vive melhor quem sabe sorrir, amar, quem se entregar o outro, a vida, ao amor, quem sabe ter equilíbrio em seus sentimentos, quem sabe dosar suas palavras, ser meigo, afetuoso, quem se deixa sentir e aproveitar as coisas que a vida pode oferecer.

                Quando mais jovem, na adolescência, sempre me fazia de difícil, esperava que fosse chamado mais de uma vez, que fosse paparicado, até que um dia as pessoas resolveram me chamar apenas uma vez, foi aí que senti o impacto, se ele quiser ir, o convite está feito, foi aí que resolvi deixar de melindre e passei a aderir aos convites logo de cara. Percebi que quem que estava deixando de viver era eu, não as outras pessoas.

                A vida é muito curta para termos medo de viver, e deixamos de viver por medo, o que é pior. Eu te amo, o sentimento é meu, ninguém pode nos impedir de amar, a pessoa pode não querer se relacionar conosco, mas não pode nos impedir de sentir. É bem verdade que o nosso sentimento ainda é possessivo e egoísta, não sabemos amar por amar, mas amar pra ter e por isso sofremos, pois ninguém é de ninguém, as pessoas são livres.  

                Meu medo hoje não é de dizer o que sinto, mas de não sentir. Não tenho medo de falar, tenho medo de não ter o que dizer, a quem falar. A melhor coisa do mundo é gostar, feliz de quem ama e sente isso dentro si, um gostar por gostar, um sentir por prazer, um sentimento espontâneo, intenso e forte.


                Como cantou Fagner, “só uma coisa me entristece, o beijo que não roubei, a jura secreta que não fiz, a briga de amor que não casei, nada do que posso me alucina, tanto quanto o que não fiz, só uma me devora aquela que meu coração não diz, só o que me cega, o que me faz infeliz, é o brilho no olhar que eu não sofri”

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