domingo, 16 de março de 2014

O segredo do início

O segredo do início

Ronaldo Magella – professor, poeta, escritor, blogueiro, radialista, jornalista e mais nada (16-03-1014)

Sempre o melhor do início é aquilo que não falamos, mas pensamos, é tudo que a gente tem vontade de dizer, mas não diz, quer escancarar, mas não tem medo ou não quer perder a graça da coisa.
 Até gostaria de ir direto ao ponto, mas perde o tesão, a gente gosta do envolvimento, de ir conhecendo, esticando os momentos, as horas, puxando conversa, enrolando, para que o outro perceba o que estamos querendo dizer, falar, demonstrar.

Ninguém gosta de dizer que está afim, apaixonado, amando, queremos apenas alguém nos decodifique, nos decifre, reconheça o que estamos a sentir, que usa da sua suposta inteligência para saber que estamos ali não por acaso, não é amizade, é outra coisa, mas não vamos nos expor, rasgar, abrir o livro, ele terá que nos ler além das aparências, entre linhas.

Ninguém gosta de entregar o jogo, queremos sempre que o outro possa ler nossos pensamentos, a gente gosta, mas não pode ou não quer dizer, solta pistas, chega até a chamar o outro de burro, lesado,  por não perceber as nossas intenções, insinuações.

Perde o charme dizer que se gosta, está afim, o bom é o jogo da paquera, da sensualidade, quando trocamos segredos, confidências, tudo para que o outro entenda as nossas intenções, a nossa vontade.
São sempre as reticências e os silêncios que contam mais, é sempre o não dito, a palavra escondida, aquilo que não está claro, direto, objetivo, fazemos um jogo de esconde-esconde, apenas para que o outro nos ache, nos descubra, nos encontre e nos entenda, nos sinta, nos reconheça apaixonados, mas não queremos falar.

Contamos nossa vida, sorrimos, ficamos perto, emitimos sinais de fumaça, falamos, nos tornamos presentes, pedimos para que o outro não nos deixe, suma, que precisamos dele, que ele é importante, especial, que é bom conversar com ele, ela, mas o idiota parece que nunca perceber, tem noção do que estamos a dizer, falar, precisamos muitas vezes desenhar, para seremos entendidos.

No fundo a gente só quer ser percebido, que o outro possa nos ver, entender o que estamos querendo falar, dizer, que entenda o que estamos sentindo por ela, que seja insensível, mas que também seja direto e prática, que ao saber se deixe também envolve e vá aos poucos nos conquistando ainda mais e que tenha atitude quando for a hora certa.



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