Perdoe-se,
você não tem culpa, ninguém tem
Ronaldo Magella
Sei até que é
fácil dizer, quando difícil mesmo é viver, mas, talvez, como tenha dito o poeta
Ferreira Gullar, ninguém tem culpa, a gente não tem culpa, não há culpados,
precisamos mesmo é nos perdoar e viver a nossa vida, nos perdoar porque nem
sempre as coisas irão acontecer como gostaríamos, a vida não será perfeita, nós
não seremos perfeitos, ninguém é perfeito, ou, como me disseram, “a verdadeira
perfeição tem que ser imperfeita”, pois o que é perfeito para mim nem sempre o
será para todos, para o outro, para outrem.
A viver não
tem uma lógica matemática, uma fórmula, onde jogamos regras fixas e seguras e
esperamos pelo final, a vida é dinâmica, não está parada esperando a sua
decisão, a minha, não há um jogador esperando você pensar, escolher e jogar, as
peças estão em movimento, o jogo continua mesmo você parado, sempre haverá um
final, um perdedor, um ganhador, e quando vencemos, é perfeita a vida, quando
perdemos, ela se torna imperfeita, e nunca é uma coisa ou outra, será apenas
vida.
E a gente
precisa se perdoar, deixar de carregar a culpa do mundo em nossas costas, a
imperfeição faz parte do nosso caminho, está em nosso destino, viver é errar,
sofrer, claro, também sorrir, amar, sentir, mas o fracasso, a dor, a lágrima
está no orçamento da vida, irá pesar em nossa conta final, cedo ou tarde
receberemos a fatura com tudo que fizemos de bom e de ruim.
Viver é
entender que o nosso amor não será perfeito, o melhor, a nossa felicidade não
será a maior, a mais completa, o nosso sorriso não será sempre largo e alvo,
nossas pisadas nem sempre poderão ser firmes e seguras, retas, a nossa
inteligência não poderá sempre sagaz, sutil, o nosso humor o mais engraçado, a
vida é assim, jamais será perfeita, pois o imperfeito faz parte, está incluso
no pacote.
Vida, vida,
vida, quando penso na vida me ocorre o que disse Ferreira Gullar, viver não tem
um sentido, nós criamos um, inventamos, somos como folhas em branco antes de o
poeta deitar suas palavras e suas emoções, inúmeras possibilidades, tudo é possível,
quando a primeira palavra acontece no infinito da existência elas se reduzem,
as opções, surgem as limitações, quando começamos a viver, escolhemos nossos
caminhos, fazemos nossas preferência, criamos nossos gostos, limitamos a nós
mesmos e a nossa vida, a existência, criamos nossas prisões.
A gente não
tem culpa, mas é responsável, o que talvez seja a mesma coisa, mas talvez
também não seja. Já não sei mais. Sim, você tem razão, me sinto culpado por
viver e até pensei em retornar a terapia para me livrar a culpa. Tem dias que
penso que ela foi embora e dias em que posso que ela sempre irá me acompanhar,
para sempre.
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