terça-feira, 30 de agosto de 2016

No amor é preciso saber cozinhar

No amor é preciso saber cozinhar

Ronaldo Magella 30/08/2016

Acho que as pessoas perderem o tempo de amadurecer. Da espera. De construção.
O fim já está presente no começo. 

Quando alguém te pergunta, será que a gente dará certo? Dentro dela já há uma resposta, ela que sabe que não, por isso a dúvida, ela quer se agarrar a algo, ter esperança, mas ela sabe que o fim, o desastre, o fracasso é quase certo.
É uma morte já anunciada.

Hoje tudo precisa ser muito prático e rápido, pronto e acabado.

O que não serve é trocado, não importa o que se sente, mas o que é possível, aceitável, utilizado.

Vivemos a era das relações fast food, rápido, prático, pronto e que faz mal num futuro próximo ou distante.

Deixamos de cozinhar. Desaprendemos a construir histórias. Não temos mais paciência.

Transferimos isso para as nossas relações.

Todo mundo sabe que cozinha é uma arte, requer um tempo, se escolhe a comida, se separa, se coloca a água no fogo, de corta, se tempera, acrescenta algo aqui e ali, se tem as medidas certas, de sal, tempero, não pode salgar muito, nem deixar muito doce, se põe ao fogo, se espera, retire, esfria, se for o caso, espera.

Cada coisa por sua vez, o feijão, a carne, o arroz, fazendo tudo separado pra depois juntar tudo, misturar, mas é preciso entender e saber que cada alimento tem a sua necessidade, o seu tempo de espera, pra ficar pronto, recebe a sua dose de cuidado.

Depois se limpa tudo, se põe a mesa, arruma as coisas, organiza, se guarda o que sobrou, restou, conversa, rir, fala, se suja, se limpa, se convida as pessoa e come.

Descansa, foi bom, deu certo. Se começa tudo outra vez, num novo dia, a mesma rotina, o mesmo sentimento, a mesma vontade, fome.
Uma necessidade.

Há um tempo de maturação, de espera, de cuidado, de preparação, de percepção, organização, escolha, preparo, tem um ritmo, um tempo, uma espera, um cuidado, é preciso paciência, prudência, perícia, jeito, mão para deixar aquele toque, atenção pra não queimar, não passar do ponto, não deixar o ponto passar.

 Enquanto isso o cheiro corre solto pelo ar, as pessoas vão sentindo, desejando, salivando, se deixando ficar, gostando do que virá, sabem que o presente é de trabalho e que o futuro será de prazer, o melhor virá depois, que o agora é pra fazer e só depois pra comer.

Tenho a leve sensação de que nos dias atuais as pessoas já entram numa relação derrotadas, fracassadas, prontas para o fim, sem a paciência para o trabalho, o cuidado.
A gente transformou as nossas relações em produtos, as pessoas se vendem nas redes sociais, marketing pessoal, fotos bonitas, frases, citações, só alegria, e a gente compra a ideia do outro, mas a ideia não é a realidade, é só a ideia.

E quando a ideia morre, morre também a relação.

Não há mais tempo para conhecer o outro, o nosso tempo é de urgência, a necessidade de prazer, amor, felicidade, sucesso, é o que nos move, o outro precisa nos atender, temos pressa, conversa boa, sexo gostoso, bonito, resolvido, sem problemas, não temos tempo nem paciência para trabalho ou desafio ou se encaixa ou encaixamos de volta.



Um comentário:

  1. Infelizmente as pessoas tornaram-se descartáveis - é o cúmulo da superficialidade nas relações.

    Beijão.
    Blog: *** Caos ***

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