quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Somos cheios de ausências

Somos cheios de ausências

Ronaldo Magella 12/10/2016

Se não houvesse falta, não haveria desejo.
Só desejamos o que não temos.
Somos cheios de ausências e são elas que nos movem.
O que move o mundo é o desejo, é a falta que nos enche.        
Não somos seres racionais, mas do desejo.
Desejo que nos desorganiza, nos bagunça, nos controla.
E todo desejo só nasce da falta.
É o vazio que nos preenche, é o que não há que procuramos.
O que temos, já basta, o que não há, precisamos.
Ninguém quer o que tem, se usa, é diferente.
Vivemos um eterno vir a ser, um sempre não ter.
Assim, nunca seremos completos, plenos,
Podemos ser findos, não bastos.
 A gente cansa do que é, para conquistar o que ainda não foi
Quando for, não importa mais, vamos ao que será.
O que passa, lamentamos, o que falta, ansiamos.          
O que é, já é, não sentimos.
Nos movemos pelos vazios, no vácuo
Sentimos saudades, nos confortamos com a presença
Mas sofremos de ausências.
É a fome que nos desafia
A sede que nos provoca
A dor que nos desperta
A solidão que assusta
É o que não somos que nos torna somos
Não é o que temos que nos define
Mas o que procuramos
Não é o que há em nós
Mas o que falta que fala de nós
Somos um eterno vir a ser
Para quando ser, deixar
E outra vez, em nós

De nós, querer. 

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