segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Com o tempo

Antes importava chegar, agora o importa é a viagem

Ronaldo Magella 06/11/2017

Marisa Monte cantou, “eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo me quer bem”, refletindo uma época das nossas vidas de espalhamento e vivências intensas.

O tempo passa e a gente vai deixando querer de ser de todo mundo, preferindo ser de alguém, buscando um único sorriso, um olhar em particular, o melhor abraço que possa nos conter pra gente se deixar ficar, a pessoa especial.

Parece que a maturidade nos deixa mais seletivos, também com poucas opções, é verdade, ou será que é a gente que não se permite mais os abusos de antes? Talvez as duas coisas, tudo junto e misturado, mais seguros, experientes, porém, menos inconsequentes, menos situações possíveis, uma vida mais enxuta.

Vamos percebendo ao longo da vida a valorizar os detalhes, a conversa gostosa, a companhia a agradável, os projetos possíveis, o sonhos reais, a vida a dois, o afeto sincero, o carinho suave, o cuidado sem interesse, o amor tranquilo, a paixão controlada.

Antes a gente queria virar a noite, com o tempo a gente prefere a nossa cama e sonha com um abraço quente pela manhã, um beijo com sabor de hortelã e café, um bom dia sereno e um rosto ameno para nos dar coragem de seguir.

Antes a gente quer fazer tudo com tudo mundo, ir pra todos os lugares, fazer parte, está incluído em tudo, não perder nada, depois, a gente acalma os impulsos, prefere os lugares calmos, de silêncio forte, pra esquecer a semana, pra curtir o outro, pra olhar nos olhos e segurar a mão, sorrir e pronto.

Mas a gente precisa da vida veloz, pra ir desacelerando aos poucos, antes o importante era chegar, ir, com o tempo o que importa é aproveitar a viagem, curtir a paisagem, a conversa pelo caminho, a experiência da vivência.

Meio que me sinto velho, encontro prazer no pouco, estou no ritmo lento, no caminhar seguro, no olhar terno, buscando o prazer do detalhe, da vida possível, já vivi o antes, agora escolho os passos calmos do depois, com prudência e esperança.



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