terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Saudade, doença sem cura

Doença sem cura

Ronaldo Magella – professor, poeta, escritor, blogueiro, radialista, jornalista, tomador de café, romântico, sentimental, romântico, feio, e mais nada (24/02/2015)

Sofro daquilo que não tem cura, também, deixe-me viver, isso bastou para me contaminar, não posso reclamar, agora adoeço, estou fino e carrancudo, sorriso frágil, olhos tristes, face pequena, andar medido, falo pouco, penso demais, sinto mais ainda. Não tenho feridas, somente aquelas que ninguém pode ver, morro aos poucos, por dentro, sentindo, as horas me maltratam, passam devagar, enquanto o pensamento corre ligeiro de encontro ao que padeço, me ignoram, disfarço num sorrido a dor, digo sempre que estou bem, num sorriso sem graça, é o cansaço que me afligem, minto, é melhor, pra mim, pra eles, não sofro deles, por eles, mas de vida. Vida? Pode alguém morrer de viver? Não sei, estou doente da vida, enquanto vivo estou, sofro e isso não me atormenta, não são os dias, as horas, os sentimentos, mas as lembranças. Agora sabem, estou doente de saudade da vida, pois saudade só sentimos daquilo que vivemos um dia. Minha saudade tem nome, mas não tem cura, não se morre por não mais viver, se morre pelo que um dia vivemos e agora não teremos mais como viver. Saudade não tem cura, mesmo que o vento a leva, o tempo se encarrega de trazer de volta ao mesmo lugar de onde um dia partiu, de dentro de nós, como se fôssemos o início e o fim, e no meio dormimos, nos esquecemos de nós, nos deixamos a sós, por um momento, por enquanto, até nos lembramos nos dias comuns, os mais comuns de todos, um dia qualquer, quando vento nos toca a face, um cheiro nos invade a alma, uma cena nos toma a mente, uma lembrança nos chega ao coração e a saudade se volta outra vez a está em nós. Não sei se morrer seria melhor, tenho medo, medo de que a vida não termine com a morte e se vida além daqui ainda houver, penso que também lá sentirei saudade, sentimento rasteiro que nos assalta, nos toma indefesos e nos prende, prisão ao ar livre, caminho e penso, ando e sinto, durmo e sonho, acordo e vivo. Uma cura, se uma cura tivesse, gostaria de saber, encontrar, um antídoto tomar, sei lá, qualquer coisa que me fizesse desse mal me livrar. Paro e penso, reflexões, que sentes? Me pergunto, como se a mim mesmo pudesse curar, sinto o que vivi, respondo comigo mesmo, e o que viveste? torno-me a me questionar, coisas boas, momentos sublimes, histórias fascinantes, e gostaria de esquecer-se de si mesmo e vagar em vazio? Creio que não, respondo, então, digo a mim mesmo, em minhas próprias reflexões, que só sinto aquilo que um dia vivi, não morreria de tal se nada em mim tivesse a carregar, se sofro, não é pelo vazio, pela saudade, mas talvez, quem sabe, devo então confessar, que enfim, seja pelo desejo de fazer outra vez, novamente, por um dia ter sido bom e hoje sinto a desejar, carregando comigo aquilo que não tem cura, saudade, de uma vida que um dia senti e agora gostaria outra vez de viver.


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