quarta-feira, 25 de março de 2015

Não me perguntem pelo que escrevo, também não quero saber

Não me perguntem pelo que escrevo, também não quero saber

Ronaldo Magella – professor, poeta, escritor, blogueiro, radialista, jornalista, tomador de café, romântico, sentimental, romântico, feio, e mais nada (23/03/2015)

Escrevo tomando café, é a única que sei.

Odeio o que escrevo, não gosto, não reviso, não releio, não tenho interesse depois que publico no meu blog, nas redes sociais, não me vejo no que escrevo, muitas vezes acho interessante, até estranho, outras vezes acho ridículo, chato e ruim. Enfim.

Outro dia um amigo escritor me disse que sempre acha que falta algo naquilo que escreve e que não sabe se comportar diante da recepção das pessoas com aquilo que escreveu. Nunca sei o que dizer quando alguém diz que leu algo meu, que escrevi, só tenho vontade de rir, sempre acho que ninguém me ler ou se ler aquilo que escrevo realmente não acha bom.

Somos assim, escritores, me permitam o devaneio. Já li muito e sempre vejo os escritores dizendo a mesma coisa, depois de escrito, publicado, não interessa mais, não sentem vontade de reler. Reler é ruim, impera a vontade de mudar tudo, rasgar, tocar fogo, melhor deixa pra lá, se bom ou ruim, já era, foi escrito. Não importa mais.

Há uma repulsa naquilo que se escreve, como se ao se escrever sentíssemos certa vergonha ou um asco, amadurecemos depois do escrito e aquele texto é o retrato da nossa imaturidade e não queremos mais olhá-lo, como se fosse nos causar um constrangimento, nos envergonhar.

Escrever é como tirar a roupa, se mostrar, colocar pra fora, deixar à vista aquilo que ninguém sabe, conhece, viu, é se desnudar, colocar-se pelo avesso para que todos possam comtemplar, apedrejar ou aplaudir. Com preferência para a primeira.

As pessoas sempre perguntam o que há nos meus livros, digo que não sei, elas dizem, ué, mas num foi você quem escreveu, digo que sim, mas que não me interessa mais, foi um período da minha vida, é a minha história, mas não fico olhando para o passado, só me importa o que virá pela frente, o que falta escrever, não o que escrevi.

Até sei que há autores perfeccionistas, que gostam dos textos como se fossem filhos, mexem, mudam, acrescentam, sim, talvez no momento da produção e escrita, mas depois de terminado, não mais, o texto é algo morto e enterrado, só lembrado quando necessário.

O prazer muitas vezes é na concepção, na escrita, no ajuntamento das palavras, no formato das ideias, juntar as coisas, dá um sentido e materializar as emoções e os sentimentos, gostoso é começar, terminar, produzir, editar, construir, depois, não mais. É chato.


Meu amigo tem razão, sempre falta alguma coisa, não gostamos do que escrevemos, mas o fazemos, como respiramos, é automático, sentamos e pronto, estamos nós a pensar e materializar o que há em nós. Somos o alvo. 

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