quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Aos poucos

Aos poucos

Ronaldo Magella 10/02/2016

Aos poucos vou deixando você morrer em mim, vou me virando pelo avesso e trocando o passado pelo presente sem me lançar pra o futuro.

Aos poucos vou deixando você pelo caminho, ponto distante que a vista nem mais alcança e o pensamento já não busca, vou trocando o seu cheiro, perdendo a esperança, apagando as lembranças, esquecendo o seu rosto, perdendo o desejo, vivendo não mais das histórias de ontem, mas da hora presente.

Aos poucos vou me deixando no silêncio, antes gritava seu nome por dentro, cantava um sentimento por você, agora, aos poucos, vou tirando a poeira de você que resta em mim, me arrumando devagar, guardando cada coisa em seu lugar, jogando fora o que não uso, me presta mais.

Aos poucos for reformando a casa do meu coração, pintando as paredes, trocando a cor, mudando os móveis de lugar, arejando a sala, abrindo espaços novos, deixando o vento correr e me levar, levando também tudo o que restava de você mim.

Aos poucos vou voltando a sorrir, não me atormenta mais a dor da ausência, me acompanho com a solidão, acho bom, cuido mais de mim, não me importa já muitas coisas, outras faço questão de nem saber, nem me importo ou ligo se você estar ou não, eu, de mim sei, não estou mais, nem quero voltar.

Aos poucos vou deixando de cantar e ouvir as músicas que um dia cantei e ouvi por você, trocei os discos, mudei o refrão, troco a melodia, esqueço as letras, mudo a banda, prefiro outro estilo.


Aos poucos a vida já mudando de sentido, em outra direção, novas paisagens, outros lugares, velhas histórias, outras vontades, aos poucos vou percebendo que já tivemos a nossa vida, a nossa história e por mais que ainda sinta não quero mais viver aquilo que não tem mais espaço dentro de mim, pois sei que um dia, aos poucos, tudo acaba, e pra sempre. 

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