terça-feira, 19 de abril de 2016

Amores burgueses

Amores burgueses

Ronaldo Magella – 19/04/16 – jornalista, escritor, professor

Outro dia conversava com uma amiga e ela me confessava que preferia homens brancos, altos, fortes, bonitos, resolvidos, simpáticos, divertidos, sinceros, românticos, educados, e mais uma lista de itens, que ela achava indispensável para alguém ter para estar ao lado.

Não há nenhum mal ou problema em desejar, querer ou preferir pessoas de uma forma ou de outra, mas sinceramente, me parece que é uma exigência infantil e imatura.

Crianças brigam por suas preferências, fazem birra, choram, jogam o brinquedo que não era o desejado no chão, mas depois de alguns segundos, já maduros pelo tempo do momento, e percebendo que não vão poder ter outro, aceitam aquilo ou aquele que lhes foi dado.

A vida mostra e prova que a gente precisa aprender a tirar proveito das situações, no caso, das pessoas, há sempre qualidades a serem exploradas, sentimentos inéditos, situações a serem vividas, emoções por sentir, histórias por viver, coisas pra curtir.

E todo mundo pode despertar algo em nós, é muito pequeno e claustrofóbico impor limites, delimitar regras, circular o espaço e não aceitar mais nada além disso, como alguém que só deseja a beleza dos outros, ou o dinheiro, ou o corpo, o poder, as vantagens, sem saber apreciar uma boa conversa, ou se encantar pelo sorriso de alguém ou pela inteligência dela. 

O amor burguês é cheio de regras e modelos, quando se acredita, hoje pelo menos, penso assim, o que o amor é um sentimento anárquico, ele não conhece limites, regras, ele invade, corta, fere, mata, luta, batalha.

Sentimentos burgueses são convenientes por natureza, é um sentimento que não se arrisca, nem vive de emoções, mas do conforto, gente que não sai da sua zona de conforto e tenta encaixar tudo o que está ao redor no seu ângulo de alcance, na sua visão limitadora e pequena.

É uma forma de tornar a própria vida menor, uma forma preconceituosa de viver consigo mesmo, se proibindo de viver o diferente, outras formas de vida, de coisas, de maneiras e situações, é torna-se prisioneiro de si mesmo e das suas vontades, o que talvez, penso, aumente a solidão.

Como casar de branco, numa igreja, sem perceber que há outras cores e outros lugares, deixando de viver a imensidão da vida para se restringir ao que se conhece, uma visão tediosa da existência.


Não julgo, nem critico a minha amiga, espero que ela possa sentir a vida dentro das suas escolhas, prefiro experimentar o novo, o inédito, sem rótulos ou classificações, o bom da vida é ter histórias pra contar e não fazer o que todo mundo faz só pra se sentir igual aos outros, insosso, indolor, insípido, preto e branco. 

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