Os pais preferem a doce e meiga ilusão da inocência
Ronaldo Magella
03/11/2015 –
Jornalista, professor, escritor, poeta, blogueiro, radialista, tomador café.
A minha independência teve início
quando passei a pentear meu próprio cabelo sozinho. Um marco histórico.
Antes minha mãe lambia meu cabelo de
lado, aliás, acho que toda mãe faz isso, deve um hábito universal, aí um dia
você se revolta, toma o pente da mão dela e deixa seu cabelo espetado,
revoltado, pronto, viva a revolução.
Depois você, que odiava ir cortar o
cabelo, porque claro, sua mãe sempre ia junto e ficava olhando pra você e
dizendo aquelas coisas chatas, lindinho, fofinho, e falando de você com a
cabelereira, coisa mais ridícula do mundo, duas pessoas falando de você, uma
cortando o seu cabelo, do jeito que você jamais quis, e ainda, discutindo a sua
vida e você ali sem poder fazer nada, mas, aí, um dia você passa a ir sozinho,
muda de cabelereiro, só para se afirmar, corta o seu cabelo totalmente
diferente, sua mão odeia, claro, era esperado, mas continua a revolução.
Avante.
Mas talvez a revolução tenha começado
antes, quando você passou a tomar banho sozinho, antes era sua mãe quem lhe
banhava, agora você se tranca lá no banheiro e passa horas, ela enlouquece, mas
você demora, e agora com redes sociais e whatSaap, a demora se justifica ainda.
Mãe dá um tempo.
Às vezes tenho a sensação que as mães
e os pais fingem inocência.
Elas sabem o que é a adolescência,
sabem o que é desejar e experimentar as coisas, sabem que os meninos e as
meninas irão descobrir, mas pra viverem melhor, feliz, preferem acreditar que
seus filhos nunca irão fazer nada, nem fazem.
Pura ilusão.
Pois eles esquecem que um dia tiveram
a mesma sensação e vontade e que não adianta proibir ou prender, vai acontecer,
com um dia aconteceu com eles, mas preferem a doce e meiga ilusão da inocência.
Acho que a função dos pais é
acreditar que a gente jamais irá crescer, ainda hoje minha mãe me trata como se
eu fosse uma criança, ela acha que eu não sei fazer nada, nem o café, menos
ainda passar o pano na casa ou arrumar minha coisas, que coisa.
Completei minha liberdade, igualdade
e fraternidade quando meu pai cansado de abrir a porta pra mim fez uma cópia da
chave e me entregou, era a queda da bastilha, enfim o proletariado havia
vencido e chegado ao poder, a liberdade, ainda que tardia, estava proclamada,
agora é só aproveitar.
Acho que é bem isso mesmo, Quando somos crianças sentimos essa coisa de liberdade, só por ter aprendido a se vestir sozinho e tal, e para ser sincera não tem coisa melhor do que esse sentimento!
ResponderExcluirdicasdaadna.blogspot.com.br