Nem todo gostar é bom
Ronaldo Magella
26/07/2016
Acho que foi Lacan quem disse que é possível sentir prazer na
dor. O psicanalista Flávio Gikovate diz que nem todo prazer é positivo, há
prazeres negativos.
Penso no amor, no ato de amar alguém, mesmo quando muitas
vezes esse sentimento trás mais momentos ruins do que alegres.
Gostar de alguém nem sempre é algo realizador, agradável, junto
com o amor, há e vem junto outros sentimentos, de posse, ciúmes, insegurança, o
medo de perder.
Djavan quem cantou, “amor, e o que é o sofrer, para mim que
estou jurado pra morrer de amor?”. Talvez
pela nossa imaturidade psicológica, acreditamos que só amaremos se sofrermos.
Isso talvez explique muitas relações negativas, mas
duradouras, pois se acredita que toda relação seja algo difícil e complicado, e
por assim pensar e acreditar, muitas pessoas se deixam ficar.
A nossa tradição nos legou um discurso amoroso pesado,
acreditamos que não há amor sem dor, é preciso sacrifício, resistência, renúncia,
negação para se alcançar a plenitude do amor.
Não acredito que seja necessário passar por tais sentimentos para
se ter uma relação gratificante e plena. Na juventude, quando não nos
conhecemos bem, isso nos acontece, não temos capacidade para parar e pensar nas
coisas, mas bem mais tarde é possível evitar muitas situações vexaminosas.
Não sou da ideia de se lutar por alguém pra ela seja minha ou
meu, acredito na leveza das coisas, sem a necessidade de discussões infantis ou
pressões imaturas.
Acho toda cobrança dentro de uma relação demasiada e
desgastante, já sei quando algo não é pra seguir, retomo o meu silêncio e sigo
minha caminhada, sem a necessidade de encher o outro com perguntas e
inquietações.
Penso que duas pessoas que se entendem e se gostam, que acham
possível conviver terão “vontades” para tal e irão se encontrar e achar meios
para se realizarem dentro das suas necessidades e possibilidades.
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