quarta-feira, 27 de julho de 2016

“Nesse nosso desbravar”

“Nesse nosso desbravar”
Ronaldo Magella 27/07/2016

É preciso muita coragem para se reconhecer e se buscar, em mais de 15 anos de terapia, com intervalos, sempre busquei equacionar minhas inquietações, angustias e dores existenciais. Existir já é uma dor em si.

Acredito que somos sozinhos e como tal ninguém pode viver a nossa vida e sentir a nossa dor, nem sorrir a nossa alegria, naturalmente, ninguém pode resolver as nossas questões, nessa caminhada não importa o caminho, nem chegar, mas os sentimentos e emoções que irão de desenvolvendo, alguns nos libertando, outros nos prendendo.

Nem sempre é fácil se olhar no espelho e decidir que se precisa mudar, a grande maioria de nós cospe na própria ferida e lambe a si mesmo, soprando a dor ou fingindo que ela não existe, ignorando-a, como se ela não existisse, quando na verdade ela nunca deixa de estar.

Fazer terapia é deixar ser para tornar-se, é trabalho o que se é, dentro do que se foi para apoderar-se do que se deseja vir a ser, é mastigar o ontem, entalado no hoje para sentir-se aliviado amanhã.

 Ir pra terapia é provocar um parto, expulsar de você suas crias mal digeridas. Sei que o tempo pode nos curar de muitas coisas, outras precisam verbalizadas, materializadas pela fala, admiro gente que se resolve só, sem ninguém, é charmoso, a grande maioria de nós precisa de afeto, amigos, das relações, na falta, recorremos ao psicólogo.

Sou inquieto por natureza, não consigo parar e nem me deixaria parado, sempre percebi minhas faltas e sempre acreditei que era possível superar muitos pensamentos recorrentes e sentimentos travados, paralisantes e amedrontadores.

Acho que a maturidade, e ser maduro é se conhecer e se trabalhar, nos deixa mais bonitos, menos ansiosos. Há uma certa beleza em ser leve e se encontrar, repaginando a si mesmo e se melhorando com o passar o tempo.

Há muitos buracos que ainda precisam ser tapados, neles ainda caio, aqui e ali, há pisos que precisam ser esburacados, neles não consigo penetrar, talvez falte coragem, talvez, vontade, é possível existir medo.

Na obra de Oscar Wilde, Dorian Gray contempla a si mesmo no tempo, sem nunca mudar, envelhecer, seus medos, culpas, dores, tristezas, presas, emolduradas, presas, nós, gostaríamos desse distanciamento, mas temos que conviver com a gente mesmo, nessa relação de amor e ódio, de dor e leveza, de paz e guerra, buscando o equilíbrio e a serenidade, a busca eterna de si mesmo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário