quarta-feira, 27 de julho de 2016

Perdas necessárias

Perdas necessárias
Ronaldo Magella 

Diz Joanna de Ângelis no livro Em Busca da Verdade, “todos necessitam de vivenciar, vez que outra, alguma perda, a fim de melhorar valorizar o que possui”.

Reflexo do nosso nível moral e evolutivo, a criatura humana vive a cata emoções efêmeras e prazeres vazios, buscando sempre aquilo que não tem, esquecendo-se e desprezando daquilo que já possui.

Não precisamos refletir muito, nem pensar profundamente, só precisamos abrir os nossos olhos para fora e pra dentro, e nos interrogarmos sobre os nossos interesses mais urgentes, quais tesouros estamos buscando amealhar nos próximos momentos, nas horas seguintes, nos dias que se seguem. Quais são as nossas prioridades, nossos anseios. E o nosso coração, pulsa forte, inquieto e incessante, quando, como, por quê?

Ali buscamos o consolo dos bens terrenos, acolá desfrutar das facilidades do poder, aqui a sensação vazia do sexo sem amor, mais a frente as glórias efêmeras do sucesso, depois o reconhecimento interesseiro do público. Queremos o topo, sempre o nível mais alto, as primeiras posições, os lucros exorbitantes, as posições de destaques, a vida tola dos homens mortais e comuns, como define Sidarta no livro do Nobel de Literatura Hermann Hesse.

Só saberemos os valores da paz, quando estivermos em guerra, só apreciaremos a tranqüilidade de uma consciência serena quando tivermos deambulado pelos erros infantis da vida terrena, só saberemos o preço de uma amizade sincera e verdadeira quando o véu da ilusão da fama cair, juntamente com os interesses mesquinhos, mutáveis e falsos, só conseguiremos avaliar o valor do amor, de um carinho, de um sorriso, de alguém em nossa vida quando a solidão nos visitar e fincar morada próxima a nós.

Sim, vez por outra, é necessário que a criatura humana perca algo em detrimento de valorizar aquilo que possui. Onde está o nosso tesouro, sempre estará o nosso coração. Preciso é meditar sobre tais palavras.

O que será que buscamos enquanto caminhamos pelas paisagens humanas e terrenas, quais valores e sentimentos nos estimulam a continuar, a viver a engrenagem dos dias? Necessário também o é pararmos um pouco e medirmos a magnitude e o valor dos nossos tesouros, pois é lá que está o nosso coração, é ali que estamos, permanecemos.

Estaremos nós cultivando com afinco e renúncia aquilo que ninguém pode tirar de nós, os bons sentimentos, as boas ações, ou preferimos coisas, objetos, matéria que a qualquer momento alguém pode nos roubar, a natureza pode destruir, a vida pode tomar. Sim, mais uma vez, é necessário que haja dor e perda, para que possamos valorizar o que temos e, mais ainda, entendermos ao que realmente devemos valorizar. Só sabemos o quanto o nosso corpo é necessário e o quanto é bom uma vida saudável quando a nossa saúde deperece, arria.


Só sabemos o valor de uma noite sono quando uma dor de dente nos rouba a paz de uma noite. Como cantou Cazuza na música Blues da Piedade, somos pessoas pequenas, remoendo pequenos problemas, querendo sempre aquilo que não temos. Enxergamos a luz, mas não iluminamos nossas minicertezas, contamos dinheiro e não mudamos com a lua cheia. Não sabemos amar, vivemos a procura de alguém que nos ame, senhor, piedade. 

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