Perdas necessárias
Ronaldo Magella
Reflexo do nosso nível moral
e evolutivo, a criatura humana vive a cata emoções efêmeras e prazeres vazios,
buscando sempre aquilo que não tem, esquecendo-se e desprezando daquilo que já
possui.
Não precisamos refletir
muito, nem pensar profundamente, só precisamos abrir os nossos olhos para fora
e pra dentro, e nos interrogarmos sobre os nossos interesses mais urgentes,
quais tesouros estamos buscando amealhar nos próximos momentos, nas horas
seguintes, nos dias que se seguem. Quais são as nossas prioridades, nossos
anseios. E o nosso coração, pulsa forte, inquieto e incessante, quando, como,
por quê?
Ali buscamos o consolo dos
bens terrenos, acolá desfrutar das facilidades do poder, aqui a sensação vazia
do sexo sem amor, mais a frente as glórias efêmeras do sucesso, depois o
reconhecimento interesseiro do público. Queremos o topo, sempre o nível mais
alto, as primeiras posições, os lucros exorbitantes, as posições de destaques,
a vida tola dos homens mortais e comuns, como define Sidarta no livro do Nobel de
Literatura Hermann Hesse.
Só saberemos os valores da
paz, quando estivermos em guerra, só apreciaremos a tranqüilidade de uma
consciência serena quando tivermos deambulado pelos erros infantis da vida
terrena, só saberemos o preço de uma amizade sincera e verdadeira quando o véu
da ilusão da fama cair, juntamente com os interesses mesquinhos, mutáveis e
falsos, só conseguiremos avaliar o valor do amor, de um carinho, de um sorriso,
de alguém em nossa vida quando a solidão nos visitar e fincar morada próxima a
nós.
Sim, vez por outra, é
necessário que a criatura humana perca algo em detrimento de valorizar aquilo
que possui. Onde está o nosso tesouro, sempre estará o nosso coração. Preciso é
meditar sobre tais palavras.
O que será que buscamos
enquanto caminhamos pelas paisagens humanas e terrenas, quais valores e
sentimentos nos estimulam a continuar, a viver a engrenagem dos dias?
Necessário também o é pararmos um pouco e medirmos a magnitude e o valor dos
nossos tesouros, pois é lá que está o nosso coração, é ali que estamos,
permanecemos.
Estaremos nós cultivando com
afinco e renúncia aquilo que ninguém pode tirar de nós, os bons sentimentos, as
boas ações, ou preferimos coisas, objetos, matéria que a qualquer momento
alguém pode nos roubar, a natureza pode destruir, a vida pode tomar. Sim, mais
uma vez, é necessário que haja dor e perda, para que possamos valorizar o que
temos e, mais ainda, entendermos ao que realmente devemos valorizar. Só sabemos
o quanto o nosso corpo é necessário e o quanto é bom uma vida saudável quando a
nossa saúde deperece, arria.
Só sabemos o valor de uma
noite sono quando uma dor de dente nos rouba a paz de uma noite. Como cantou
Cazuza na música Blues da Piedade, somos pessoas pequenas, remoendo pequenos
problemas, querendo sempre aquilo que não temos. Enxergamos a luz, mas não
iluminamos nossas minicertezas, contamos dinheiro e não mudamos com a lua
cheia. Não sabemos amar, vivemos a procura de alguém que nos ame, senhor,
piedade.
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