segunda-feira, 12 de outubro de 2015

O amor deixou de ser um sentimento para se tornar um negócio

O amor deixou de ser um sentimento para se tornar um negócio
Ronaldo Magella 
A gente perdeu o sentido das coisas, da vida, do viver, e nossas experiências e ganharam com a praticidade, em sentido prático e objetivo, em funcionalidade, caso contrário, não nos serve, não nos interessa. 
Agora tudo precisa ser prático, útil, urgente, deve caber no bolso, ter utilidade, pois, ora se, pois, não queremos perder tempo com coisa alguma ou com quem quer que seja, a vida segue num ritmo cruel, viver num é fácil, não temos tempo pra perder ou arriscar, principalmente no amor, este que virou um negócio, uma aposta, uma mercadoria.
Ainda sou um cara romântico, acredito em amor, se não o meu ou pra mim, pelo menos na história e na vida dos outros, penso ainda em romantismo, sim, admito, sou dos séculos passados, estou preso no tempo, em algum lugar do passado, mas ainda penso que as coisas precisam ser sentidas, sentimentalizadas, especializadas, essencializadas, e não apenas e só pragmatizadas, praticizadas.
Ainda acredito que o amor acontece no olhar, num toque de mão, num bilhete, num sorriso, numa conversa, quando duas pessoas, nesse universo que vivemos de energias pulsantes, se encontram e suas vibrações se tocam e ali acontece o que poderíamos dizer ou chamar de o despertar da paixão, piegas, mas necessário. Fundamental. Precisamos de utopias, não só na política, mas no amor, nas relações, na vida. Precisamos sonhar, sonho. 
Quero alguém pra sonhar junto. 
Hoje nós perdemos esse mistério em torno das relações, da paixão, do amor, vivemos uma época que precisamos ser utilitários, estamos a venda, temos um preço, um peso, uma medida, nos colocamos na larga vitrine da internet para sermos escolhidos. Aí estão os sites de relacionamentos, de namoro, parperfeito, namoroideial, com seus slogans, encontre aqui o amor da sua vida, viva uma grande paixão, como se agora se pudesse vender emoções na farmácia da esquina. Gente, um momento, vou ali comprar amor e paixão, volto já.
Sério que nos tornamos isso e assim? 
E nesses sites em que nos vendemos e compramos, amores e paixões, gentes e pessoas, sim, pois temos que pagar uma mensalidade pra o acesso, o amor custa caro pessoal, mas, ali, a gente se descreve, coloca um perfil, uma foto bacana, alguém acessa, conhece um pouco do que somos, melhor, do que colocamos a venda, pois ninguém se descreverá como possessivo, ciumento, egoísta, orgulhoso, todo mundo põe o que há de melhor pra ser acessado e vendido logo, é lógico, temos urgência em viver o amor, as pessoas.
E então, nesse contexto e dentre vários outros, dentre muitos ali expostos, alguém acabará por escolher aquele que melhor lhe chamou a atenção. E seguirá para as etapas seguintes. Assim o amor deixou de ser um risco e passou a ser um negócio seguro e prático, ninguém mais irá atirar no escuro, as cegas, vamos escolher o melhor “amor” para as novas vidas, pra o nosso contexto, dentro das nossas possibilidades.
Tornamos assim a paixão, o amor, as pessoas, um negócio, uma mercadoria, nos descrevemos em nossos perfis para que alguém nos compre a amizade, a relação, o amor, a vida, que se interesse por nós não pelo que somos ou vivemos, mas pelo que nos descrevemos, nos anunciamos, nos colocamos, quando aquilo que ali estamos a mostrar pouco diz de nós, pois o violão que toca a música não é música, nem o poeta que faz a poesia é a poesia. 
Nós somos algo muito mais profundo do que algumas linhas que nos representam e nos descrevem.
Mas, como fazer para que o nosso coração aceite a mercadoria amor que acabamos de comprar na net? A gente pode até escolher o melhor, o mais útil, confortável, prático, economicamente falando e culturalmente, mas como sempre estamos a repetir, ninguém pode mandar no coração, não temos o acesso devido para comandar os seus sentimentos. 
Como disse o antropólogo Roberto DaMatta, somos seres contraditórios.
Tanta modernidade, mas ainda somos os mesmos.

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