quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Possuída

Possuída

Ronaldo Magella 15/10/2015


Enquanto ele avançava, sem medo, ela se sentia cada vez mais desejada, pedia pra parar, mas no fundo sonhava em ser invadida e tomada. Parada. Esperando.  Por favor, pare, não faça isso, sufocada pelos beijos quentes e ardentes que ele imprimia em ritmo oscilante, entre lento, ligeiro e selvagem, ela apenas se deixava, dizia não, e queria sim. Não posso, ela repetia, pare, e sorria no quanto da boca com a vontade já escorrendo por todos os lugares. Pensava, amava aquela falta de educação, queria apenas ser dele, toda, completa, inteira, nua, sem culpa, vergonha, medo, sem dimensões, freio. Pare, por favor, insistia. Continue, desejava. Preciso ir, vamos parar, chega, e o beijava ainda mais, de forma gostosa, tomada pela vontade, pelo desejo, tomada de calor, dor, alívio, safistação. A cada gesto, a certeza, em todo toque, um motivo para ficar, os cheiros que se misturavam, os corpos suando, suados, as pernas entrelaçadas, mãos cruzadas, olhos fechados, tudo se encaixando, perfeitamente, magia, mágica, magicamente, simetricamente, delicadamente. Ele rasgava suas ruas roupas e também as suas certezas, tirava suas peças e também sua insegurança, amava com fúria e paixão, com delicadeza e carinho, costurava o momento alinhavando os pontos, soltando as amarras, prendia as partes, apertava o todo, acariciava, como a colher fruta madura, a tocava e não se furtava do prazer, dava o melhor, o que tinha. Ela sorria intimamente, queria o que não revelava, sonhava aquilo que antes corava, tinha agora certeza de ser possuída escancaradamente, escandalosamente, deliciosamente, despudoradamente, maliciosamente, perfeitamente. Sem vergonha, mal educado, grosso, selvagem, idiota, sem pudor, canalha, era isso, sentir em si, o consumo do desejo, a fartura do prazer, ser amada sem limites, sem regras, politicamente incorreto. Queria apenas ser corrompida pelo desejo, destroçada de prazer, cansar de amor, sofrer de tesão, sentir até a exaustão, morrer do próprio veneno, criar e cometer o seu próprio pecado, perder e perder a si para se encontrar agora deitada, pensando, isso é vida. 

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