sexta-feira, 12 de julho de 2013

O Facebook e o nosso desabafo diário

O Facebook e o nosso desabafo diário
Ronaldo Magella (autor – jornalista, professor, escritor, poeta...)

O diário era algo íntimo, era, uma vez que ninguém mais o usa. Dos diários passamos aos blogs, assim como dos jornais pulamos aos sites, dos orelhões aos celulares, dos álbuns de fotografias vistos em casa por amigos e familiares, passamos aos álbuns digitais vistos por centenas de desconhecidos, destruindo assim aquilo chamávamos de privacidade.

Pronto, a modernidade não comporta segredos, somos vistos e vemos, assistidos e assistimos, ouvimos e somos ouvidos, a única certeza que temos é que tudo deve ser publicado.

E publicamos, nossas fotos, pensamentos, imagens, sentimentos, jogamos tudo nas redes sociais, fazemos delas o nosso desabafo diário, nos entregamos a censura alheia, assim como a aprovação, a curtição, o compartilhamento, alguém gosta, comenta, curte, espalha, somos assim jogados ainda mais nesse imenso universo digital desconhecido, sem saber as consequências.

A privacidade chegou ao fim. Não, não foi hoje, ou ontem, faz já algum tempo, desde o momento em que começamos a ouvir as pessoas nas ruas em seus celulares, escutar suas conversas, ouvir o que dizem, seja na rua, nos ônibus, nos bancos, começamos sem querer, querendo, fazer parte da vida de outros. A cada  dia que se passa passamos a saber mais da vida de outros, o que fazem, deixam de fazer, se estão sofrendo ou morrendo, se morrem, se vivem, estamos tudo numa imensa vitrine.

É interessante esse conceito de vitrine, uma vez que estamos cada vez mais expostos e nos expondo, como se estivéssemos à venda para que os outros pudessem comprar nossas ideias, nossos desabafos diários. Impossível não mais não nos deixamos de nos mostrar, queremos e ansiosamente pedimos por isso, pois nos importamos mais com o que os outros vão comentar do que com o que sentimos.

Queremos mostrar, publicar, terminamos um relacionamento, quem primeiro sabe da nossa vida são as outras pessoas, nossos amigos do Facebook, primeiro até do que nossos amigos e familiares, tamanha é a nossa vontade de se mostrar ao mundo. Queremos antes e primeiro mais do que tudo a atenção alheia do que o sentir nosso das coisas.

Ainda sou do tempo de chorar no quarto, se trancar e sofrer sozinho, mas isso não existe mais, é mesmo melhor chorar na frente do Facebook com vários amigos desconhecidos, pelo menos eles estarão curtindo e comentando a nossa dor, aquela história de sofrimento solitário já era, agora ele é compartilhado.


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