sexta-feira, 26 de julho de 2013

Quando olhar o outro é preciso

Quando olhar o outro é preciso

Ronaldo Magella – professor, poeta, escritor, blogueiro, radialista, jornalista e mais nada.

Amar, dizem, é olhar juntos no mesmo no mesmo sentido, na mesma direção, pra o mesmo horizonte, desculpe-me, mas não é assim que funciona a coisa, permitam-me alterar a sentença e vociferar, amar é um olhar que se mantém um para o outro de compreensão, cumplicidade, entendimento, unicidade, amizade, aceitação, companheirismo, quando os dois se enxergam como tudo um todo, dentro de uma união, de uma só vida, de um único momento na mesma existência.

Esse tal olhar na mesma direção, pra o mesmo horizonte, dentro do mesmo sentido é muito individualizante, solitário e individualista, cada um que tenha o seu olhar, que se mantenha firme na sua postura e quem pode garantir mesmo que esse olhar direcionado tem o sentimento necessário pra se gostar e fazer renúncias e sofrer junto por querer, por amor, por paixão, por desejo? Sinceramente estou cansado de ouvir sempre as mesmas histórias, quero alguém que me ajude acrescer, que tenha vontade ganhar a vida. Penso que uma relação não seja só e apenas isso.

Dizem, é que a vida hoje é muito difícil, é preciso saber viver e quem vai querer alguém que não quer nada com vida? Esse nada é no sentido material, financeiro, progresso R$, como se agora todo mundo valesse apenas pelo que tem, pelo que poderá ter, conseguir, amealhar. Como se não, sempre foi assim e irá continuar. Com isso deixamos de admirar as pessoas pelo que elas são, pelos detalhes, a conversa, o sorriso, o jeito de ser, pequenos detalhes que nos prendem. Por que será que deixamos de gostar das pessoas ou pelo menos de dar prioridades a outras questões, como simpatia, caridade, fé, claro, gostamos de tudo isto, desde que se capitalize sobre. Tudo agora precisa dá lucro, gerar dinheiro, ter valor.

São sempre os mesmos discursos, sempre se ouve a mesmas coisas, quando alguém pergunta, por que você gostou de mim, o que vi em mim, e a gente responde sorrindo, dentro uma infantilidade universal, ah, eu vi que você era esforçada, queria subir na vida e eu queria alguém pra crescer comigo, num quero ninguém que me puxe ou me prenda. Esse é um pensamento legítimo, real, sincero, mas também demonstra o norteia os nossos valores e crenças, pois acreditamos que o dinheiro por nos salvar, nos livrar do mal, a infelicidade, do mundo.  

Mais uma vez peço permissão para mudar o conceito e afirmar, não gostaria de alguém pra ganhar dinheiro comigo e comprar coisas, ter coisas, gostaria de alguém pra sofrer comigo, chorar comigo, viver comigo, estar comigo, ao meu lado, pois quando afirmo que alguém deveria estar comigo, ao meu lado, só e apenas por conta do seu pensamento materialista, de produção e consumo, o que iria acontecer quando não mais isso fosse possível? Prefiro, e isso é um pensamento individual, alguém que me conheça, que tenha esse olhar pra mim e não para o horizonte, o sentido e a direção.

Claro, o meu olhar de volta, buscando-a, sentido-a, compartilhando as mesmas dores e alegrias. Hoje nos sentimos felizes apenas quando o nosso parceiro arruma um emprego, ganha dinheiro, compra algo, aí vamos comemorar e festeja, como se só fato de estarmos ali juntos vivendo não fosse por si só um motivo pra alegrar-se e festejar-se juntos e por amor. É que hoje o amor tem um preço, a vida é cara, e amar precisa de recursos, caso contrário, não se ama mais.

Quando falo nesse olhar um pra o outro, nesse entendimento, é a aceitação de outro, a cumplicidade de se aceitar o outro com os seus defeitos e amá-lo ainda assim e por si só. Quantos casais que vivem sob o mesmo teto, mas não sobre a mesma vida de união e sentimentos? Por conta desses olhares em busca de horizontes agora é cada um que cuide de si mesmo que procure a sua melhora, que pague as suas contas, que viva conforme a vida lhe aprouver.

            O mundo tornou-se muito individualista, egoísta, mesquinho e solitário, somos como ilhas, a pressão que recebemos todos os dias pra vencer, ganhar, ter, possuir, fazer, ter sucesso, fama, dinheiro, ser bonito, belo, pois fora destes parâmetros nada mais somos, ninguém irá nos gostar, amar, todos irão nos julgar não pelo que somos, seres humanos, mas pelo que podemos ganhar, ter e fazer. Também estou cansado de ouvir sempre os mesmos discursos, fulano é rico, beltrano ganhou milhões, sicrana está linda demais, sempre os mesmos valores, giramos em tornos desses sentimentos.

            Como um amigo me contou em tom de desabado: minha esposa não vive a minha vida, só pede o meu dinheiro. Ela não se importa com o meu trabalho, com o que eu faço, acha meus livros todos porcaria, acredito, disse ele, que ela nem sabe o meu signo, menos ainda se acredito em Deus ou não, mas sempre me cobra um emprego melhor, mais dinheiro. Burro fui quem não percebi esses sinais antes, esses traços da sua personalidade. Parece que vivemos isolados na mesma casa, poucos assuntos temos em comum, ela não gosta de ler, de cinema, das mesmas músicas que eu, claro, isso nunca foi empecilho para coisa alguma, nem pra se gostar de alguém, mas, confesso, é complicado viver com alguém que nem olha pra você e nem lhe admira pelo aquilo que você é e faz, é difícil não ser valorizado dentro da sua própria casa.

            Como disse, falta o olhar de lá pra cá e de cá pra lá. 

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