domingo, 14 de julho de 2013

Sou aquilo que me falta

Sou aquilo que me falta
Ronaldo Magella

Não sou o que tenho, mas a falta, sou as buscas, estou naquilo que procuro, no infinito, não no horizonte, não sou aqui, estou além, não sou o daqui, mas o que vem de lá. Não sou o que vejo, mas aquilo que não percebo, nem o que sei, mas as minhas ignorâncias, não me tenho em forma no que entendo, mas vivo naquilo que não posso compreender, não sou minhas respostas, mas as minhas perguntas, não sou as lágrimas que choro, mas as razões delas brotarem dos meus olhos.

Sou minhas ausências, minhas angústias, minha dúvidas, meus silêncios, meus medos, meus escuros, meu erros, minhas dores, minhas guerras, pois não sou a paz que procuro, mas as batalhas nas quais morro para poder enfim encontrar a paz. não estou no que vivo, mas no que deixo de viver, ali está as minhas partes, nem sou o que sinto, mas o que nunca senti, sou e serei sempre um eterno vir a ser, não sou completo, sou incompletude do sempre.

Sou o medo, a dor, a solidão, sou tudo e estou em tudo que pode me revelar, me descortinar, abrir, não sou o que falo, mas o que silencio, não o que mostro, mas o que escondo, guardo, prendo, enterro. Estou onde não posso ser visto, não sou a presença minha de mim em mim, mas a minha invisível ausência, o sentimento que perde no o lugar que não encontro, a rua que não passo, a vida que não vivo, o desejo que não cumpro, a esperança que perdi, não tive, deixei para lá.

Sou o amor que não tive, a paixão que nunca vivi, o beijo de amor que nunca dei, a fantasia real, a mão que jamais esteve na minha, no meu corpo, no meu rosto. Não sou o final, mas o que virá após o final, a ilusão da realidade, a realidade morta, o que não pode ser real, não sou o que penso, talvez o que ainda hei de pensar, não sou o que sou, mas as mudanças que terei que sofrer e pela vida viver.


Sou o que perco, esqueço, não o que lembro, acho, tenho, mas a falta minha das coisas em mim, sou sempre o que virá, o amanhã, o que está para acontecer, não sou o presente, o passado, mas uma brecha do futuro, a opacidade das coisas, a transparência da vida, a água sem cor, cheiro, sabor. Não sou o que pensam de mim, mas tudo aquilo que jamais pensaram, não sou as ideias prontas e acabadas, nem o produto finalizado, mas a construção das coisas, o processo da vida. 

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