terça-feira, 21 de janeiro de 2014

A gente se apaixona pelo que nunca viveu

A gente se apaixona pelo que nunca viveu

Ronaldo Magella – professor, poeta, escritor, blogueiro, radialista, jornalista e mais nada (21-01-1014)


Ela sabia que não tinha como saber quando a gente se apaixonava, mas com ele foi diferente, ela soube que estava apaixonada quando o ouviu pela primeira vez, eram as coisas que ele dizia, suas palavras, seu sorriso um tanto alegre um pouco vazio, seu pensamento diferente, seu sentimento sufocante, as emoções que despertava, o vigor e convicção das suas ideias sobre o viver, sentir o sabor da vida, ela se apaixonou  por sua vontade de viver a vida, sair pelo mundo, se perder nos caminhos, seguir com o destino, se apaixonou por sua alma inquieta, sua personalidade séria e romântica, sua sensibilidade e sua intuição, pelos sonhos que acordava e pela simplicidade de realizá-los, é só querer, dizia ele, e quando a gente quer, as coisas acontecem, e acontecem quando a gente quer e acredita, e por acreditar elas acontecem, sempre repetia isso, como um mantra, ela se pegou sonhando e pensando apaixonado por ele, pela forma com que ele via o mundo e sentia as coisas, como explicava as pessoas e sentia as emoções, pela sua coragem de amar e sua força para se apaixonar pela existência, por sua segurança e por pelas dúvidas sobre o viver. Ela se apaixonou pelo que poderia viver ao seu lado, uma vida incomum, um afeto eterno, um carinho leve, pelas conversas ao final dos dias, pelos beijos ao amanhecer, pelo inusitado que ele poderia provocar durante os dias, as horas, o tempo que passava sempre do mesmo jeito, mas ele transformava, deixa tudo diferente, roubava flores, cantava poesias, sorria canções, envolvia-se dos detalhes, cuidava dela mesmo sem ela saber, pensar ou desconfiar, era o jeito dele de amar, querer, gostar e cuidar. Sim, com ele foi diferente, e ela sabia, não foi ela quem quis, foi ele quem provocou, não foi ela quem aceitou, foi ele quem se impôs com seu jeito único e especial de viver, ela tinha o normal, o banal, o comum, ele veio e trouxe o que faltava, os sentimentos, as emoções, os risos, a aventura, o imprevisível, mesmo que não fosse muito, tão estranho e extraordinário, não eram as coisas fantásticas, mas como ele das pequenas coisas transformava o universo ao seu redor, não o infinito que ele propunha e trazia, mas uma forma de enxergar no ínfimo todas as possibilidades, a grandeza, o incerto, um outro olhar, e ela aquiesceu, seu coração transbordou, sua alma se comoveu, sua cabeça girou e saiu do lugar tudo aquilo que tinha como certo, pra sempre, ele veio para dizer que sempre, pra sempre, sempre acaba, mas que é possível sempre repetir e outra vez viver. Ela já tinha desistido de viver, foi quando entendeu e outra vez voltou a viver e a sentir a vida, que a vida não é falta daquilo que não temos, mas das coisas que podemos provar, do que nos falta para sentir, das ausência que buscamos todos os dias preencher, das lacunas que queremos fechar, das saudades que tentamos matar, e ele era tudo isso ao mesmo tempo, saudades, lacunas, falta, ausência, que ele provocava mas ao mesmo tempo chegava trazendo todas soluções, preenchendo os espaços, cruzando os caminhos, sim, ela sabia, a gente nunca sabe quando vai se apaixonar, mas com ele foi diferente, ela soube assim que o viu, quando sentiu o cheiro, ouviu a sua voz, provou da sua essência que transparecia pelo ar como um perfume embriagante que toma conta do ambiente transmitindo uma sensação de prazer, leveza e sufocamento. Sim, ela sabia, agora estava apaixonada pelo que jamais tivera, uma vida, e sabia que com ele a vida seria doce e amarga, triste e feliz, curta e longa, eterna e ligeira, ele era tudo o que sempre sonhara sem saber que havia dormido, um sonho que sempre teve sem saber que poderia existir, se realizar, mas agora ela sabia, estava apaixonada, e viva.

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