quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Vou tomar minha solidão


Vou tomar minha solidão

Ronaldo Magella – professor, poeta, escritor, blogueiro, radialista, jornalista e mais nada (07-01-1014)

Vou tomar minha solidão, em doses curtas, em goles rápidos e findos, deitar-me quieta esperando o tempo passar, deixar o dia fluir, a hora correr, vou pensar no teto e olhar para vida, sozinha, vou me abraçar, estar comigo, olhar-me no espelho e até me achar bonito, sorrir pra mim, escolher minha melhor fantasia, criar uma ilusão, sair pela cidade, viver esquinas, parar em ruas, correr praças, subir ladeiras, descer escadas.

Vou viver minha solidão, tomá-la de assalto para mim, vou sozinha pra qualquer lugar e lá ficar, só, vou parar sozinha em qualquer lugar, cantar a minha música, ficar absorta, lépida, perfeita, só a solidão é perfeita, por ser tudo o que se possa ser, vou criar o meu planeta, a minha galáxia, o meu lugar de sozinho, minha paz de guerra, minha guerra de paz.

Ah, minha solidão, amiga, companheira e irmã, namorada, filha, pai e mãe, cicatriz, lembrança, minha vida, evocas o meu vazio, carrega minhas saudades, suporta meus vícios, transforma minha mansidão. Vou tomar minha solidão, tomar pra mim, o que tenho de melhor, pensamentos sombrios, desejos sóbrios, tempos intermináveis, vidas cruzadas, alma despida de todas as cores.

Vou tomar minha solidão, como meu lugar, meu livro, meu filme, o filme da minha, com minha presença garantida, com o mesmo público de sempre, com os mesmos cenários, olho em volta, é sempre igual, outro rio, mesmas águas, outra praia, mesmo mar, outra cara, mesmo sentimento, sempre a minha solidão, afogo-me, morro, mas continuo vivo, solidão é isso, é morrer um pouco de mim, em mim e mesmo assim ainda existir para sentir a dor universal do criador.

A solidão é quem me toma, pensei melhor, me abraça e me beija, me cansa, me instiga, me come e me dorme, me acorda e me faz sonhar, solidão, ah, solidão, solidão, solidão, é sempre o mesmo clichê, a velha máxima de não mais me aguentar, de precisar de outrem para que esse possa me levar, puxar, pois já não consigo mais me carregar, não tenho mais forças para me ter, preciso que alguém me ouça as palavras, vele meu sono, coma ao meu lado, respire meu cheio, beba da minha vida, me tenha em seus planos, desejos e projetos, e sofro, carente de outrem, cheio de mim, enfadado com a minha solidão, que não me deixa, não parte, não desiste de mim, continua sempre a me sorrir, acena, esperando o meu instante de desespero, a minha renúncia, o meu desgaste.


Mas não desisto, vou tomar minha solidão, como sedento em busca de um cálice de vinho, de um gole de água, tomá-la-ei com a toda minha sede e sentirei alegria, vou até o fundo do copo, se um copo existir e um fundo para chegar houver pra ir, pedirei outra dose, mais uma, até me embriagar de mim mesmo e como todo bêbado quero esquecer de tudo o que fiz, falei, sem memória, e sem solidão. 

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